Livro Contos Espiritualistas de Dalton C Roque contos espíritas

O DESENCARNE DO GURU

Existia um certo guru consciencial muito inteligente, criativo e parapsíquico. Tinha também projeção consciente e mediunidade aflorada. Psicografava muito bem, com muita fluência.

Participou muitos anos de um movimento chamado espiritismo e depois se tornou um minidissidente, saindo e abrindo seu próprio movimento que denominou de Espiritologia e Consciência” – a ciência que estuda o espiritismo e a evolução da consciência.

Seu movimento começou devagar, e este guru era muito simpático e magnético conquistando muitas pessoas para segui-lo. Ministrava muitas palestras e cursos e também escrevia muitos livros e seu movimento tinha características mais para o lado da ciência e menos dogmática e religiosa no princípio.

Este guru consciencial (carinhosamente chamado de gurucon) alegava que sua linha evolutiva (não admitiam ser chamados de espiritualistas) trabalhavam apenas com as tarefas do esclarecimento e odiavam as tarefas da consolação, se sentindo superiores por isso.

Este guru em sua encarnação passada também havia iniciado um movimento de consciência (por assim dizer) e era também um grande paranormal, mas no fim de sua vida carnal (3/4 de vida) teve uma visão de um “santo” e acabou criando uma religião, se desviando da proposta inicial de seu próprio movimento, que era mais racional, mais técnica, mais centrada.

Devido a este desvio, após desencarnar ficou muito deprimido no plano extrafísico e muito melancólico, mas foi recolhido a uma boa colônia espiritual.

Nesta colônia, já mais bem adaptado, jurou a si mesmo a nunca mais perder o foco da ciência, o caminho da técnica e nunca mais a abraçar religiões, nunca mais trabalhar com a fé, pois ficou muito traumatizá-do com seu desvio de missão na reencarnação anterior.

Jurou a si mesmo que criaria um novo movimento mais tendente a ciência na próxima encarnação e estudou bastante para isso em seu atual curso intermissivo ou treinamento astral.

No entanto, muito focado em seu propósito “científico consciencial”, não trabalhou o suficiente seu ego e sua vaidade e egoísmo.

Então encarnou, cresceu, foi para o espiritismo, progrediu e depois saiu do mesmo para criar seu movimento todo orgulhoso de si. Saindo do espiritismo, seu movimento era uma “nova ideia”, um novo conceito que chamou a atenção de muitas pessoas que seduzidas pelo magnetismo bioenergético deste guru parapsíquico e poderoso, crescia muito rápido e muito bem.

Tal guru, muito esperto, conquistava as pessoas pelo ponto fraco delas, pelo ego da vaidade, e dizia: “aqui vocês serão mais evoluídos”. E como a maioria das pessoas possuem um sentimento de inferioridade que as faz buscarem uma compensação para isso, elas se sentiam valorizadas com esse bordão, que se tornou típico de tal movimento.

Sabemos que essa reação é um movimento instintivo de qualquer grupo, não importando a linha, a opção, qual guru, qual “santo”, qual doutrina ou qual livro sagrado seus adeptos seguem. Isso sempre se repete em qualquer grupo, modificando-se apenas o modo de falar e a postura.

A “mente grupal” ou “ego grupal” cria vida própria e suplantará tudo e todo movimento, se seu mentor, guru, epicentro principal não zelar pela manutenção de sua lucidez, discernimento, ética e cosmoética.

Mas esse guru, muito inteligente e sabendo disso, aproveitou-se dessa condição natural do ego grupal que ele mesmo semeou, para fortalecimento do movimento, mesmo que custasse a qualidade e sintonia elevada dos pensamentos, sentimentos e energias de tal grupo.

O movimento era muito parecido com espiritismo, mas tinha pitadas de Gnose de Samael, da Teosofia de Helena Blavatisky, da Rosacruz de Harvey Spencer Lewis, e tantos outros movimentos esotéricos conhecidos, no entanto, as palavras, termos e expressões foram trocados para criar uma atmosfera mais técnica, e com isto uma sensação tanto de ciência como de novidade também, embora fosse uma reescrita de velhos conceitos esotéricos milenares.

E tal guru arrumou também uma argumentação para fazer a mesma coisa que os religiosos fazem em seus grupos, alegando a “perda de salvação” caso saíssem, mas ele tinha que fazer diferente, com outra abordagem, então criou a “perda da missão de vida” ou “perda do dharma, ou “perda da programação ou missão existencial”.

E tal guru, muito criativo e muito manipulador não parava de criar novos conceitos, teorias e expressões que valorizavam a si e a seu movimento, ao mesmo tempo em que desdenhava dos outros movimentos alegando-se arauto da “verdade intelectual relativa e avançada”.

Então as pessoas com perfil mais intelectual e mais técnicas ficavam seduzidas com esse mecanismo envolvente que fornecia uma falsa e convincente sensação de superioridade.

Como tal guru havia se prometido, antes de encarnar, evitar religião a todo custo, realmente ele fez isso, e ainda adicionou especial preconceito contra a religião Umbanda, seus adeptos, sua fé e seus rituais.

Aos poucos o guru foi exagerando no tecnicismo de sua “ciência” caminhando para uma exacerbação, onde a formatação, o jargão, o neologismo e a linguagem suplantavam o próprio conteúdo e acabou se tornando mais importante que o mesmo. Assim, a forma ficou mais importante que o conteúdo, era um dourar técnico da pílula.

Desta forma, se em reencarnação anterior o guru se desviou de uma linha racional para uma linha religiosa e dogmática, desta vez ele estava desviando novamente, mas em sentido contrário ao anterior. Agora o desvio era para o lado técnico-científico, se é que se podia chamar aquilo de “científico”.

Ele “tecnificava” as coisas mais simples dando um ar de sofisticação, exagerando nas definições, rótulos, nomes e neologismos, fazendo parecer que era mais complicado do que era na verdade, criando um pacote de jargões que somente os seguidores do próprio meio entendiam, agindo de forma semelhante a uma escola esotérica semi-hermética.

Assim, acabaram se tornando uma seita involuntariamente, onde a mente grupal, na forma de ego grupal de vaidade predominava ostensivamente.

Se em encarnação anterior se desviou para o misticismo religioso a partir de um caminho racional e centrado, desta vez iniciou no mesmo caminho racional e centrado, quando saiu do espiritismo, e depois desviou-se ao exagero para uma “ciência” exacerbada.

Claro, há coisas que não são ciência ainda e não adianta forçar, temos que pisar em todos os paradigmas e integrá-los devagar e não nos sentirmos isolados e superiores na torre de marfim de um paradigma superior com exclusivismo patológico.

O simples ego da vaidade e da superioridade, por qualquer motivo que seja, nos rebaixa ao mesmo nível das massas humanas sem qualidade nos pensamentos e nos sentimentos.

E assim, tal guru foi escrevendo e produzindo cada vez mais e seu movimento se estruturou em várias capitais do país e sua sede tinha até um prédio imponente, tal seu sucesso.

Os seguidores desse movimento, imitando seu guru, acabaram se tornando cheios de empáfia intelectual e uma postura arrogante de forma geral, afinal esse sentimento e postura foi oficialmente institucionalizado em forma de literatura em suas obras.

Mas o tempo passou e um dos participantes ativos do movimento desencarnou. E como era muito orgulho-o e vaidoso de seu “nível evolutivo avançado” tal qual seu guru, desencarnou mal, com alta densidade energética indo para na crosta astral concomitante onde ficou preso em mono ideia e não parava de repetir: “eu sou pura luz, eu sou muito evoluído”, se debatendo e não aceitando a ajuda dos amigos espirituais que se apresentavam com estilos do oriente antigo e das entidades de Umbanda que detestava.

Algum tempo depois deste evento, o guru que já tinha uma idade avançada também desencarnou. Após desencarnar ficou uma semana dormindo para acalmar os ânimos de seu orgulho e vaidade e depois de acordar na colônia espiritual sofreu uma pequena penalidade para aprender humildade.

Já que ele gostava muito de ler e escrever, os mentores o limitaram ao perímetro de uma grande biblioteca com milhões de obras, e tal biblioteca era frequentada e monitorada por várias entidades evoluídas (biótipos) de umbandistas, os mesmos espíritos fraternos que ele desdenhou e ofendeu quando encarnado.

No entanto, não havia qualquer atmosfera de intensão de humilhação ou constrangimento, mas apenas uma cosmoética lição maxi fraterna de sadia convivialidade.

Passado este primeiro período de adaptação e aperfeiçoamento da alma, o guru já iniciou o processo de seu curso intermissivo a seguir para a próxima encanação.

Neste primeiro encontro com os mentores responsáveis pela próxima encarnação, a primeira coisa que o guru ouviu, foi que reencarnaria numa família de umbandistas, e ali começaria o seu trabalho, até um ponto em que sairia para voltar a seu movimento de origem, para retificar as condutas de arrogância e empáfia, que incitou no movimento, e que estava fazendo essas almas se perderem do caminho da evolução consciencial.

E que o guru já fosse preparado, pois iria começar bem no movimento e depois haveria de receber mui-ta força contra, por tentar fazer o movimento evoluir, já que tais posturas de tais discípulos eram de portadores da verdade, e ainda corria o risco de ser ex-pulso no próprio movimento que criou.

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