PESQUISAS SOBRE MEDITAÇÃO

PESQUISAS CIENTÍFICAS SOBRE MEDITAÇÃO

NOTA: Artigo retirado da monografia sobre Meditação de Andréa Lúcia da Silva no curso Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia.

Para Johnson (1990), a meditação foi identificada como forma de atividade religiosa durante muito tempo, mas trata-se de uma técnica que exercita a consciência e que é muito difundida.

“A meditação é uma prática muito antiga, com origem nas tradições orientais, estando especialmente relacionada às filosofias do Yoga e do Budismo” (LEVINE, 2000 apud MENEZES e DELL’AGLIO, 2009, p. 278).

Contudo, esse termo também é utilizado para designar algumas práticas cultivadas por certas religiões, como o cristianismo, o judaísmo, o islamismo, o taoísmo e o xamanismo, entre outras, através do deslocamento da consciência do mundo externo para o interno (NARANJO, 2005 apud MENEZES e DELL’AGLIO, 2009, p. 278).

Com relação às investigações científicas, embora conste que desde 1936 o potencial da meditação vem sendo discutido, apenas por volta da década de 60 a meditação começou a ser objeto de estudos mais rigorosos (GOLEMAN, 1988 & SHAPIRO, 1981 apud MENEZES e DELL’AGLIO, 2009, p. 278).

Segundo Shapiro (1981 apud MENEZES e DELL’AGLIO, 2009), a palavra meditação é usada para descrever as práticas que auto-regulam o corpo e a mente afetando eventos mentais por envolver um conjunto específico da atenção.  Essas práticas são um subconjunto de técnicas usadas para induzir o relaxamento ou estados alterados, como a hipnose, relaxamento progressivo e técnicas de indução de transe.

Na visão ocidental, as técnicas meditativas podem ser classificadas em dois ou três tipos principais, de acordo com o processo atencional direcionado: atenção e concentração (DAVIDSON e GOLEMAN, 1977 apud MENEZES e DELL’AGLIO, 2009). O tipo atenção, ou meditação do insight, é descrito como uma prática em que há uma percepção dos estímulos, como pensamentos, sentimentos e/ou sensações, embora a atenção específica mantida seja uma observação livre que não os julga nem analisa.

As técnicas orientais que se encaixam nesse tipo são a meditação zen, vipassana e a própria adaptação ocidental da meditação de atenção.

Segundo Danucalov e Simões (2009), Wallace foi o primeiro pesquisador ocidental a se interessar por meditação, descrevendo os registros eletroencefalográficos, o padrão metabólico, a ritmicidade cardíaca e a variação na pressão arterial durante a MT. Através de medidas minuciosas e rigorosas, foi identificada uma série de padrões de reações associados à prática meditativa, que a caracterizam como um estado de consciência particular, diferente dos tradicionalmente conhecidos, como vigília, sono e sonho.  Essas reações também são chamadas de respostas psicofisiológicas ou neurofisiológicas, pois refletem mudanças no sistema nervoso central e autônomo (AFTANAS e GOLOCHEIKINE, 2001; DANUCALOV e SIMÕES, 2009).


As pesquisas de Newberg

Andrew Newberg é professor do Departamento de Radiologia e Psiquiatria do Hospital da Universidade da Pensilvânia e professor adjunto do Departamento de Estudos Religiosos.  Na mesma universidade é fundador e diretor do Centro para a Espiritualidade e a Mente e dos Estudos Integrados sobre Espiritualidade e Neurociência.  É escritor e pós-graduado em medicina interna, nuclear e radiologia (NEWBERT e WALDMAN, 2009).

Newberg e Iversen (2003) pesquisaram os mecanismos cerebrais subjacentes das experiências meditativas. Suas pesquisas são realizadas integrando sistemas de neurotransmissores e estudos dos resultados dos últimos avanços de imagem cerebral, além de uma revisão e uma síntese da literatura atual sobre os diversos mecanismos neurofisiológicos e neuroquímicos que são a base dos complexos processos de meditação.

Segundo Newberg e Iversen (2003) a neuroimagem funcional abriu uma nova janela para a investigação de estados meditativos, explorando a correlação neurológica dessas experiências. As técnicas de neuroimagem incluem a tomografia por emissão de pósitrons, tomografia por emissão de fóton único, e ressonância magnética funcional. Estas técnicas oferecem diferentes vantagens e desvantagens no estudo da meditação.

Para os autores, a ressonância magnética funcional tem a capacidade de correlação anatômica imediata e tem melhor resolução sobre a tomografia por emissão de fóton. Porém seria muito difícil de utilizar para o estudo da meditação por causa do barulho da máquina e por exigir que o praticante se deite de bruços na máquina, uma postura atípica para muitas formas de meditação.

Em seus estudos, Newberg e Iversen (Ibid.) dividem as práticas meditativas em duas categorias básicas. Na primeira, os sujeitos simplesmente tentam limpar todo o pensamento de sua esfera de atenção. Nessa forma de meditação o praticante tenta alcançar um estado subjetivo caracterizado por um senso de não espaço, não tempo, não pensamento. Além disso, esse estado é cognitivamente experimentado como completamente integrado e unificado, de modo que não há sentido de si e do outro. Isso inclui práticas como aquelas associadas com tradições como o budismo Theravada.

Na segunda categoria, os sujeitos focam a atenção em um determinado objeto, imagem, frase ou palavra, e inclui práticas como a meditação transcendental e as várias formas do budismo tibetano. Essa forma de meditação é projetada para levar a uma experiência subjetiva de absorção com o objeto de foco (Ibid.).

Newberg e Iversen (2003) estudaram oito meditadores budistas tibetanos, os quais tiveram suas atividades cerebrais analisadas durante a prática meditativa. A análise quantitativa demonstrou maior atividade no córtex pré-frontal tanto no hemisfério direito quanto no esquerdo, sendo que o direito mostrou-se mais ativo e também no giro do cíngulo.  Para Newberg, a meditação parece começar ativando o córtex pré-frontal e o córtex cingulado associados com a vontade ou a intenção de limpar a mente de pensamentos ou se concentrar em um objeto.

Os estudos de Newberg mostraram, através de imagens do cérebro que, no longo prazo, ocorrem alterações no sistema límbico.  Segundo Newberg (2009), com isso, as pessoas tendem a conseguir controlar e expressar mais as suas emoções.

O sistema límbico é nosso cérebro emocional.  Segundo Marino Jr. (2005), a estimulação ou destruição de estruturas do sistema límbico provoca perturbações aparentes da emoção e distúrbios de sua regulação.


Grupos de comparação

 

Estatística – As pesquisas são realizadas através de cansativos estudos estatísticos utilizando-se grupos de controle. A Estatística é uma ciência parte da matemática que estuda as teorias de probabilidade, (teorias que calculam o que é mais provável que aconteça), e é utilizada nas pesquisas científicas para que se confirmem na prática determinados resultados, ou seja, ela pode confirmar se estes resultados são falsos ou verdadeiros.

Comparação – Quando se faz um estudo comparativo, por exemplo, posso usar dois grupos de pessoas para uma pesquisa sobre uma questão qualquer como, por exemplo, o desenvolvimento de câncer em função do hábito de fumar.

Grupos – Separaríamos dois grupos de pessoas onde um medita assiduamente e outro não medita. Faríamos vários exames médicos, entrevistas e planilharíamos as condições de cada um nesta data. Após um certo intervalo de tempo voltaríamos a analisar os dois grupos e fazer uma comparação. Naturalmente se constatará que o grupo com mais problemas de saúde e mal estar, será no grupo de não meditantes.

 

Grupo de controle pesquisa meditação

Confirmação – Assim se confirmou cientificamente os benefícios físicos, mentais e comportamentais, após o uso regular da Meditação. Se compararam cansativamente grupos de alunos meditantes e não meditantes. Analisaram-se os resultados sociais, hospitalares, acidentes em cidades americanas que continham 1% ou mais da população como meditantes, em cidades quase idênticas em que não existia meditantes, (efeito 1%). Os resultados constataram melhoras em todos os níveis onde havia meditantes assíduos.

 


Referências quanto a monografia

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