A CIÊNCIA NÃO LIDA COM A VERDADE, LIDA COM MODELOS QUE A REPRESENTAM

A CIÊNCIA NÃO LIDA COM A VERDADE, LIDA COM MODELOS QUE A REPRESENTAM

A ciência e o cientista não lidam com a verdade, lidam com modelos imperfeitos e falíveis que representam provisoriamente a verdade, portanto são muito limitados, daí não podem ser absolutistas e imutáveis como desejam os céticos-materialistas. Quanto a ciência ter um ponto de partida cética é muito justo e racional, mas negar possibilidades é atitude dogmática de negação.

O conhecimento científico depende muito da lógica. As áreas da ciência podem ser classificadas em duas grandes dimensões:

 

  • Pura: o desenvolvimento de teorias – versus;
  • Aplicada: a aplicação de teorias às necessidades humanas -; ou;
  • Natural: o estudo do mundo natural – versus; a;
  • Social: o estudo do comportamento humano e da sociedade.

 

Porém, a ciência não é o fim, é o meio. O meio é uma ferramenta, aliás, uma das muitas ferramentas para se viver a vida buscando não apenas o ter, mas o SER, ou seja, a tão relativa e polêmica qualidade de vida. Pois na verdade se a educação ou a ciência não servem para nos tornar mais felizes, então devemos buscar outras ferramentas ou readequá-las a uma nova possibilidade paradigmática.

 

Não me importo se Deus existe ou não, se os céticos ou os espiritualistas estão com a razão, justificando suas crenças, se eles mesmos não contribuem para um mundo menos hostil, mais tolerante e humano. O pesquisador, ou melhor, a ciência, deve no mínimo tentar superar a si mesma testando outros paradigmas e procurando respostas (talvez outras perguntas) mais satisfatórias. O caminho não é teórico, é prático e a retórica e as justificativas e argumentos pouco ou nada adiantam. É preciso fazer.

 

A crença cartesiana na verdade científica é, ainda hoje, muito difundida e reflete-se no cientificismo que se tornou típico de nossa cultura ocidental. Muitas pessoas em nossa sociedade, tanto cientistas como não cientistas, estão convencidas de que o método científico é o único meio válido de compreensão do universo. O método de pensamento de Descartes e sua concepção da natureza influenciaram todos os ramos da ciência moderna e podem ser ainda hoje muito úteis. Mas só o serão se suas limitações forem reconhecidas. (CAPRA, 1997, p. 53)

 

Com advento da ciência após o Iluminismo o “diabo” tinha seus dias contados. A era do misticismo, do medo e da ignorância prometiam falência com data marcada. Este movimento surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.

 

[…] a Igreja foi o maior obstáculo para o progresso do conhecimento científico. O obscurantismo do clero combateu longa e encarniçadamente a nova ciência, que lentamente se manifestava, baseada na experiência e na razão. Contudo, tais empecilhos não podiam deter seu desenvolvimento. (PRIMON, 2000)

 

Os ideais iluministas e seus pensadores defendiam e acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. A ciência já rebelde desde o berço pedia divórcio da religião.

 

O termo razão deriva da palavra latina ratione e denota as coisas do raciocínio utilizado para ponderar, julgar, estabelecer relações lógicas e praticar o bom senso (PENNA, 1987; BURREL e MORGAN, 1982).

Sob essa ótica, o bom senso é apontado como sendo exclusivo dos humanos, mas ele endereça as decisões, ações e argumentos adotados seguidos pelos indivíduos inseridos em uma determinada cultura. Do ponto de vista histórico, credita-se aos filósofos místicos da Grécia a preocupação pioneira de elucidar o diferencial de ação do homo sapiens, isto é, o uso da razão (CAPRA, 1982).

A divisão cartesiana separou a ciência da religião; possibilitou aos cientistas tratar a matéria como algo distinto de si, como algo morto.

Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções científicas. Mais recentemente a metodologia científica tem sido abalada pela crítica ao pensamento cartesiano elaborada pelo filósofo francês Edgar Morin. Com as minhas palavras, este propõe, no lugar da divisão do objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse novo paradigma é chamado de Teoria da Complexidade (complexidade entendida como abraçar o todo).

Fritjop Capra, autor do livro O Tao da Física e do livro O Ponto de Mutação, de modo particular, também faz uma proposta de novo Paradigma.

A ideia central era dividir e dominar, entender as partes para entender o todo. Para Immanuel Kant a percepção não era um espelho mental do mundo, como queriam os empiristas, mas sim um processo ativo através do qual impomos à realidade o nosso modo de ser.

Recentes estudos sobre a sociologia e história da ciência nos alertam sobre a importância de fatores ideológicos no desenvolvimento da ciência. Como aponta Longino (1990), a ciência é em grande parte um processo social em onde conceitos tais como valores pessoais são importantes para decidir o que se considera como conhecimento científico. (ALVARADO, 1991)

Fim – Dalton C. R.


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2 comentários em “A CIÊNCIA NÃO LIDA COM A VERDADE, LIDA COM MODELOS QUE A REPRESENTAM”

  1. Ótimo texto, interessante e esclarecedor! Eu creio que os três pontos que definem um plano são espiritualidade, ciência e bom senso, a partir deste plano conseguimos erguer grandes construções.

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