NÃO EXITE DESRESPEITO - APENAS DESRESPEITADO

NÃO EXITE “DESRESPEITO” – APENAS “DESRESPEITADO”

Por Dalton Campos Roque – @Consciencial – Consciencial.Org

Vivemos numa era onde a sensibilidade se tornou seletiva e o “desrespeito” é frequentemente uma máscara do ego ferido. Especialmente no meio religioso e espiritualista, muitos se apressam em denunciar a suposta ofensa a suas crenças, enquanto permanecem alheios — ou coniventes — com os desrespeitos que praticam contra as crenças alheias. A hipocrisia se disfarça de moralidade, e o apego identitário se apresenta como devoção.

Mas convém perguntar: pode um avatar, um mestre, uma divindade ser realmente desrespeitado por palavras humanas? A resposta, do ponto de vista consciencial, é não. Seres elevados não se ofendem, pois não vivem a partir do ego. Não reagem com mágoa, julgamento ou revide. O que se fere, portanto, não é o sagrado, mas a fragilidade do crente que ainda não distinguiu fé de fanatismo, espiritualidade de idolatria.

O “desrespeito” como ilusão egóica

O termo “desrespeito” implica que algo sagrado foi violado por um agente externo. Mas isso só é possível quando há uma identificação tão rígida com um símbolo, doutrina ou figura que qualquer crítica — ainda que lúcida — é interpretada como ataque pessoal. Ou seja, o “desrespeito” nasce dentro do próprio desrespeitado, e não no outro. É uma leitura emocional distorcida, alimentada pelo orgulho espiritual e pela cegueira devocional.

Quem se sente “desrespeitado” não percebe que está projetando sua insegurança sobre o outro. E, muitas vezes, não reconhece que também é autor de desrespeitos quando ridiculariza outras correntes filosóficas, religiosas ou espirituais — especialmente as que confrontam sua zona de conforto.

Nenhum moralismo humano alcança o alto

É preciso lembrar que os verdadeiros mestres, avatares e inteligências espirituais não se prendem a formalismos humanos. Krishna, Jesus, Buda, Lao Tsé — todos foram criticados, ignorados, perseguidos ou traídos por aqueles que diziam amá-los. Nenhum deles exigiu reparação, tampouco alimentou retaliações. Por quê? Porque já haviam transcendido o nível da personalidade. Eram consciência pura em ação, e sabiam que a verdade não precisa ser defendida com gritos, mas vivida com silêncio interior.

Assim, toda tentativa de “defender Deus” ou “proteger a fé” costuma revelar não o zelo divino, mas o medo humano. A espiritualidade genuína se fortalece no respeito ao diferente, na escuta atenta e na humildade de não saber tudo. O fanatismo, ao contrário, é barulhento, reativo e agressivo — e geralmente é o que desonra, mais do que honra, os próprios ícones que idolatra.

O desrespeitado é, muitas vezes, autodesrespeitador

Aquele que se sente ofendido com facilidade é, frequentemente, alguém que já se autodesrespeita sem perceber. Vive em conflito interno, buscando fora culpados para sua dor não elaborada. O ressentimento é o sinal de que há feridas abertas no campo emocional — e qualquer opinião divergente se torna sal sobre essas feridas.

É como se disséssemos: “Não toque naquilo que sacralizei, porque não sei lidar com minha dúvida.” Mas o verdadeiro sagrado não teme o questionamento. Pelo contrário: ele floresce nele. O que teme é o dogma sem alma, o moralismo sem consciência e a adoração cega, que confunde fé com prisão.

A lucidez como respeito

Só enxerga de cima para baixo quem alcançou a lucidez espiritual. De baixo para cima, tudo parece ataque, tudo parece ameaça, tudo parece desrespeito. Mas a consciência desperta não precisa se defender: ela compreende. Quem respeita de verdade não exige reverência — oferece liberdade.

Talvez, então, seja hora de abandonar a busca por “respeito externo” e cultivar o autoconhecimento que dissipa o sentimento de ser “desrespeitado”. Pois só quem se respeita profundamente pode amar sem exigências, ensinar sem imposições e servir ao alto sem precisar ser reconhecido por isso.

 

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