DIFERENÇA ENTRE ESPIRITUALISMO UNIVERSALISTA E CONSCIENCIOLOGIA

DIFERENÇA ENTRE ESPIRITUALISMO UNIVERSALISTA E CONSCIENCIOLOGIA

Espiritualismo universalista e conscienciologia: caminhos divergentes da evolução consciencial
Por Dalton Campos Roque


Introdução

Em tempos de despertar espiritual e crescente busca por sentido existencial, duas propostas chamam atenção entre os buscadores contemporâneos: o Espiritualismo Universalista e a Conscienciologia. Ambas abordagens se afastam das religiões tradicionais, adotando o viés da autopesquisa e da experiência pessoal como ferramentas de crescimento. No entanto, ao mergulhar mais profundamente em seus fundamentos, observa-se que essas visões seguem rumos bastante distintos: uma se pauta pela liberdade consciencial, pela síntese crítica e pelo respeito às múltiplas tradições; a outra, por uma estrutura técnica, institucionalizada e, na prática, cada vez mais dogmática.

A seguir, propomos uma análise comparativa ampla e profunda, integrando o paradigma consciencial, o pano de fundo histórico-filosófico e os desdobramentos práticos dessas duas visões de mundo.


1. Natureza, origem e estrutura

O Espiritualismo Universalista não é uma doutrina, religião nem ciência institucionalizada. Trata-se de uma visão de mundo consciencial que emerge da maturidade espiritual pós-religiosa. Ele propõe uma abordagem plural, integrativa, não hierárquica, livre de autoridades ou “verdades fechadas”. Sua origem é difusa, ligada à experiência direta de buscadores que se libertaram de instituições, dogmas e linguagens cristalizadas. É mais uma postura interior do que um sistema.

A Conscienciologia, por sua vez, foi sistematizada por Waldo Vieira a partir dos anos 1980, oriunda inicialmente de sua ruptura com o Espiritismo. Estruturada como uma “neociência”, possui uma terminologia própria, organização institucional (ex.: CEAEC, UNIESCON), hierarquias de “evoluciólogos” e classificação técnica de consciências. Apesar de se dizer científica, está centrada em relatos subjetivos e mantém rigidez metodológica e conceitual que se aproxima do dogmatismo.


2. Linguagem, abertura e acolhimento

O Espiritualismo Universalista adota linguagem aberta, acolhedora, com profunda preocupação ética e respeitosa. Valoriza o diálogo interreligioso, intercultural e interdensal, absorvendo saberes orientais e ocidentais, como Teosofia, Espiritismo, Vedanta, Hermetismo, Apometria, e até ciências modernas como física quântica e neurociência. Rejeita qualquer imposição de linguagem padronizada, preferindo termos mais simbólicos e naturais à alma humana.

A Conscienciologia, ao contrário, criou uma linguagem técnica, muitas vezes hermética e arrogante, com siglas e neologismos em excesso (ser intrafísico, conscin, consciex, tenepessista, holochacra, autodesassedialidade). A postura de superioridade (“verdades relativas de ponta”) impede o diálogo genuíno com outras tradições, o que se manifesta no rechaço explícito às religiões, ao uso do termo Deus e à ideia de espiritualidade com sentido místico ou devocional.


3. Postura filosófica e ética

O Espiritualismo Universalista parte do pluralismo ético e consciencial, entendendo que não há uma única verdade, mas múltiplas facetas do real. Defende que toda experiência sincera pode conter valor evolutivo, desde que acompanhada de discernimento, autoquestionamento e cosmoética. Opõe-se à hierarquização de consciências como “mais evoluídas”, rejeitando classificações impositivas.

A Conscienciologia, por sua vez, embora proponha autopesquisa, aplica um modelo hierárquico oculto, onde uns são mais lúcidos, mais técnicos, mais evoluídos, mais despertos, mais epicentrados. Essas classificações favorecem o clubismo consciencial, criando uma elite simbólica que se afasta do princípio de equidade espiritual. Essa estrutura favorece um ambiente competitivo, institucionalizado e por vezes desrespeitoso com linhas que não seguem seus moldes.


4. Método de vivência espiritual

O Espiritualismo Universalista estimula uma vivência direta da espiritualidade, sem intermediações, rituais fixos ou exigências de adesão. Cada indivíduo é livre para criar seu próprio caminho, integrando práticas como meditação, bioenergia, oração, mantras, contato com a natureza, canalizações, estudo de sabedorias antigas, etc. A prática é orgânica, adaptada ao momento de cada um.

A Conscienciologia oferece um conjunto técnico de práticas, como o Estado Vibracional (EV), a tenepes (tarefa energética pessoal), a autopesquisa projetiva, a verponologia (valores pessoais de ponta). Contudo, essas práticas tendem a se tornar repetitivas, excessivamente mentais e padronizadas, desvalorizando aspectos como o amor, a compaixão, a beleza e o encantamento — considerados “misticismos retrógrados”.


5. Relação com o sagrado

O Espiritualismo Universalista reconhece a existência de uma Consciência Suprema, Criadora, Inteligência Cósmica ou Princípio Divino — embora não imponha nenhuma crença. Resgata a dimensão sagrada da vida, vê o universo como um campo vivo e consciencial. Aceita o trabalho de mestres, amparadores, devas, mentores espirituais e entidades de luz como auxiliares no processo evolutivo.

A Conscienciologia rejeita frontalmente a ideia de Deus. Considera a noção de divindade uma muleta psicológica ou imaturidade consciencial. Substitui o sagrado por estruturas técnicas, onde tudo é explicado por verbetes, autoconsciência e autodomínio. Isso gera uma espiritualidade “secularizada”, sem alma simbólica ou poética, resultando em certo empobrecimento do imaginário consciencial.


6. Propósito evolutivo

O Espiritualismo Universalista entende a evolução como um processo harmônico entre liberdade, amor, sabedoria e serviço. Valoriza a reforma íntima, a transcendência do ego, a vivência do dharma e a transmutação kármica. Propõe um caminho de síntese, compassivo e não excludente, onde cada ser tem seu tempo e trajetória próprios.

A Conscienciologia foca na evolução autoconsciente e técnica, com metas como a desperdicidade (lucidez contínua), a assunção de liderança interassistencial, o completismo existencial (cumprimento da proéxis) e o domínio da multidensidade. Essa ênfase em performance gera, muitas vezes, ansiedade por resultados e competição sutil entre praticantes.


Conclusão

O Espiritualismo Universalista, tal como proponho (Dalton Campos Roque), representa uma resposta mais madura e neutra às necessidades espirituais do século XXI. Ele rompe com os dogmas do passado, mas sem abandonar o respeito pelo sagrado, a ética universal e a beleza das tradições milenares. Apresenta-se como uma ponte entre a razão e o mistério, entre ciência e transcendência, entre o Oriente e o Ocidente.

Já a Conscienciologia, embora inovadora em seu surgimento, parece ter cristalizado uma nova forma de dogmatismo técnico, com tendências à arrogância consciencial e ao isolamento epistemológico. Ao negar o valor simbólico, místico e devocional da espiritualidade, corre o risco de tornar-se uma ciência sem alma, com linguagem hermética e elitismo disfarçado de lucidez.

Em última análise, cada consciência deve discernir qual caminho ressoa mais com seu momento evolutivo. Mas é essencial que qualquer proposta evolutiva promova não apenas lucidez, mas também humildade, compaixão e respeito ao outro.


Tabela comparativa: espiritualismo universalista vs. conscienciologia

Critério Espiritualismo Universalista Conscienciologia
Natureza Visão filosófica integradora e livre Neociência institucionalizada
Fundador/Origem Sem fundador fixo; visão plural Waldo Vieira (anos 1980)
Relação com Deus Aceita e respeita a Consciência Suprema Rejeita totalmente a ideia de Deus
Postura ética Respeito, pluralismo e humildade evolutiva Hierarquização (desperto, evoluciólogo, epicentro etc.)
Estrutura institucional Descentralizada, livre, não hierárquica Fortemente institucionalizada (CEAEC, ICs etc.)
Práticas Livres, adaptativas, simbólicas e integrativas Técnicas padronizadas e sistemáticas
Relação com outras tradições Respeitosa, aberta, dialógica Rejeita religiões e escolas espirituais tradicionais
Linguagem Poética, simbólica, acessível Técnica, hermética, cheia de siglas e neologismos
Cosmovisão Sagrada, simbólica, transcultural Técnica, mental, autocentrada
Finalidade Dharma, amor, transmutação kármica e sabedoria universal Completar proéxis, tornar-se lúcido e desperto

 

 

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