Maternidade simbólica: o universo das mães reborn entre afeto, carência e lucidez consciencial
Nos últimos anos, cresceu significativamente o número de pessoas que adotam os chamados bebês reborn – bonecos hiper-realistas que imitam com impressionante fidelidade um recém-nascido. Em muitos casos, essa relação ultrapassa o colecionismo ou o artesanato e se torna uma vivência simbólica de maternidade. Em Curitiba, esse fenômeno gerou polêmica após a proibição oficial do uso de assentos preferenciais por “mães reborn”, uma decisão que reacendeu o debate público: afeto legítimo ou distorção da realidade? Terapia emocional ou evasão inconsciente?
O que está acontecendo
Não se trata apenas de carregar um boneco no colo. Diversas pessoas que adotam bebês reborn desenvolvem verdadeiras rotinas maternais: realizam chás de bebê, festas de aniversário simbólicas, ensaios fotográficos com roupinhas reais, participam de encontros coletivos entre “mães reborn” e, em alguns casos, atribuem aos bonecos nomes, documentos e até levam ao médico ou a serviços públicos como se fossem bebês vivos. Há vídeos na internet que mostram o cuidado na amamentação simulada, troca de fraldas, passeio com carrinhos e uso de berços sofisticados.
Em Curitiba, algumas dessas pessoas começaram a utilizar assentos preferenciais no transporte público, alegando estarem “com um bebê no colo”, o que levou a reclamações e à subsequente proibição formal por parte das autoridades locais. A justificativa foi clara: os assentos preferenciais destinam-se a pessoas com mobilidade reduzida ou com filhos reais, e não a representações simbólicas.
Uma vivência complexa: carência, arte ou projeção?
Antes de qualquer julgamento precipitado, é necessário compreender o fenômeno em sua profundidade. Em alguns casos, a relação com o bebê reborn é terapêutica: um instrumento simbólico para elaborar lutos, perdas gestacionais, infertilidade ou solidão profunda. A fantasia da maternidade pode funcionar como ponte de cura emocional, desde que se tenha consciência de que se trata de um objeto simbólico, não de um ser vivo.
Contudo, em muitos outros casos, essa vivência extrapola o campo simbólico e distorce a realidade concreta. Quando a pessoa se convence emocionalmente de que o bebê é real e começa a exigir tratamento social correspondente, como prioridade em filas, cadeiras especiais, atendimento hospitalar ou validação pública da maternidade simbólica, há indícios de dissociação psíquica ou deslocamento afetivo não elaborado. O objeto substitui o real, e a fantasia se torna uma zona de conforto onde a dor se oculta.
Eventos e encontros: o que representam?
Chás de bebê simbólicos, aniversários de reborn e encontros de “mães” podem ser vistos como expressões de uma tentativa de resgatar o pertencimento e a afetividade num mundo cada vez mais fragmentado. Em sua camada mais saudável, tais eventos promovem acolhimento, arte, socialização e até ressignificação emocional. Contudo, quando substituem vínculos reais e se tornam fixações de identidade emocional, é preciso cuidado.
A criação de comunidades de “mães reborn” pode funcionar como ambiente seguro para trocas, mas também como bolha de reforço de crenças ilusórias, especialmente quando a maternidade simbólica passa a ser valorizada como maternidade biológica, sem discernimento entre as duas realidades. Há aí um risco de imaturidade afetiva ou de permanência em padrões regressivos que impedem o crescimento e a autonomia emocional da consciência.
O olhar consciencial: resgatar a lucidez com respeito
Do ponto de vista consciencial, todo símbolo tem valor, mas todo símbolo precisa ser superado em nome da verdade interior. Os bebês reborn podem representar o chamado interno por acolhimento, mas não devem se tornar âncoras de estagnação emocional. O símbolo pode ser usado como degrau, não como moradia. A consciência precisa amadurecer, libertar-se das idealizações, reintegrar a dor e reconquistar o vínculo real com a vida – e com os vivos.
É importante que profissionais da saúde mental, educadores, familiares e espiritualistas saibam acolher esse fenômeno com empatia, mas também com clareza. Nem tudo que conforta é cura. Nem toda fantasia é patologia, mas toda fuga da realidade merece atenção lúcida.
Conclusão
O fenômeno das mães reborn não pode ser reduzido a uma caricatura nem romantizado como gesto inofensivo. É uma expressão legítima de afeto projetado, trauma não resolvido ou carência emocional profunda, que exige escuta, empatia e também discernimento crítico. O desafio é ajudar essas pessoas a transitar do simbólico para o real, do apego à forma para o resgate da essência, do afeto idealizado para o afeto vivido. Afinal, a cura não está no boneco, mas na integração da própria consciência.

Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium e humorista incorrigível da consciência. Sente saudade de seu planeta em Sírius B e espera com ansiedade o “resgate” pelo planeta Chupão. Brinca: “Não quero ficar com os ‘evoluídos’.” Autor de dezenas de obras independentes — cinco sobre informática, uma sobre autopublicação e o restante sobre espiritualidade e consciência, sem religião. Engenheiro Civil, pós-graduado em Educação em Valores Humanos (Sathya Sai Baba) e Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia.
Como costuma dizer: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso.”
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