DOUTRINAÇÃO O PESO DA LAVAGEM CEREBRAL E A LIBERDADE CONSCIENCIAL

DOUTRINAÇÃO: O PESO DA LAVAGEM CEREBRAL E A LIBERDADE CONSCIENCIAL

A doutrinação é um cárcere que se disfarça de iluminação. É o vício da mente em repetir fórmulas prontas, memórias coletivas fossilizadas, ideias sagradas por conveniência. Por trás do verniz das doutrinas — sejam religiosas, políticas, filosóficas ou até mesmo “científicas” — há, frequentemente, o medo. Medo do novo, do desconhecido, do contraditório, do paradoxo que liberta. O ego inseguro encontra na doutrina um abrigo, e no dogma, uma fortaleza. Mas essa fortaleza vira prisão quando impede o fluxo da consciência de expandir além dos muros da tradição.

Não se deve doutrinar: deve-se esclarecer. E esclarecer não é impor, é oferecer luz para que cada consciência acenda sua própria vela. Doutrinar é apontar caminhos como verdades absolutas; esclarecer é apresentar possibilidades e deixar que cada ser faça sua travessia pelo livre arbítrio. Toda tentativa de impor “o certo” bloqueia a autonomia da alma e transforma o despertar espiritual em servidão psíquica. O que começa com palavras doces termina, muitas vezes, em guerras santas, cruzadas morais, cancelamentos ideológicos e perseguições disfarçadas de zelo.

As doutrinas, mesmo as bem intencionadas, tendem a cristalizar-se. Tornam-se clubes espirituais exclusivistas onde se cultiva a ilusão de superioridade: “somos os mais evoluídos”, “só nós temos a verdade”, “os outros estão perdidos”. Cria-se assim uma casta moralista, um apartheid consciencial, uma aristocracia do suposto saber. O “purismo doutrinário” é o rótulo mais perverso da insegurança egóica que não admite ser confrontada por novos paradigmas. Quem não tolera ser questionado, não transmite sabedoria — apenas repete condicionamentos.

O mais triste é que, em nome da iluminação, se apaga o brilho alheio. Em nome da paz, se cultiva o ódio aos diferentes. Em nome do amor, se marginaliza quem não compartilha do mesmo credo. A verdadeira espiritualidade, por sua essência, é antidoutrinária. Ela não impõe — ela inspira. Não condena — compreende. Não disputa almas — reconhece consciências. Toda doutrina que nega a pluralidade da existência, que exclui, que isola, que culpa, é uma caricatura do bem.

É nesse ponto que a lavagem cerebral mostra seu peso: quando até os mais nobres ideais são manipulados para manter estruturas de controle. A mente doutrinada tem dificuldades em pensar por si, discernir, revisar suas crenças. Sofre de um autoencantamento narcísico que resiste a qualquer espelho mais lúcido. Quem pensa diferente se torna inimigo. E assim se perpetua a involução sob a máscara da salvação.

Que possamos trocar o verbo “doutrinar” por “dialogar”, o dogma pela consciência, o medo pelo discernimento. E que, no lugar do “nós estamos certos”, ecoe a humildade do “vamos aprender juntos”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.