SEXO QUE CURA sexo e terapia

O SEGREDO DO DESEJO A LONGO PRAZO

Retirado de: <www.remotivar.com.br>


Tradutor: Gislene Kucker Arantes
Revisor: Rafael Portezan

Então, por que o bom sexo geralmente desaparece,

mesmo em casais que continuam a se amar tanto?

E por que uma boa intimidade não é garantia de um bom sexo,

ao contrário do que a maioria acredita?

Ou a próxima pergunta seria

podemos querer o que já temos?

É uma pergunta difícil, não?

E por que o proibido é tão erótico?

O que tem a transgressão que torna o desejo tão potente?

E por que o sexo faz bebês,

e bebês significam um desastre erótico para os casais?

É um golpe mortal no erotismo, não é?

E quando se ama, como é o sentimento?

E quando se deseja, qual é a diferença?

Essas são algumas perguntas

que estão no centro da minha exploração

sobre a natureza do desejo erótico

e seus constantes dilemas no amor moderno.

Eu viajo pelo mundo,

e o que noto é que

em todo lugar onde o romantismo entrou,

parece existir uma crise do desejo.

Uma crise do desejo, de já se possuir o que se quer –

desejo como uma expressão da nossa individualidade,

nossa escolha, preferências, identidade –

desejo que se tornou um conceito central

como parte do amor moderno e de sociedades individualistas.

Bem, esta é a primeira vez na história da humanidade

que tentamos experienciar a sexualidade por um longo período,

não porque queiramos filhos,

para isso precisamos ter ainda mais porque muitos deles não sobreviverão,

e não porque é exclusivamente um dever conjugal da mulher.

Esta é a primeira vez que queremos sexo que ao passar do tempo

ainda tenha prazer e conexão baseados no desejo.

O que mantém o desejo, e por que é tão difícil?

No centro da sustentação do desejo em um relacionamento de longo prazo,

penso que esteja a conciliação de duas necessidades humanas fundamentais.

De um lado, nossa necessidade de segurança, previsibilidade,

proteção, dependência, confiança, permanência,

todas essas experiências fundamentadas das nossas vidas

que chamamos de lar.

Porém temos também uma necessidade igualmente forte, homens e mulheres,

por aventura, novidade, mistério, risco, perigo,

o desconhecido, o inesperado, surpresa –

já entenderam – por viagens.

Conciliar nossa necessidade por segurança

com a nossa necessidade por aventura em um relacionamento,

ou o que chamamos hoje de um casamento apaixonante,

costumava ser uma contradição.

Matrimônio era uma instituição econômica

em que havia uma parceria por toda vida

em relação aos filhos, “status” social,

sucessão e companhia.

Hoje em dia queremos que nosso parceiro continue a nos dar tudo isso,

e além disso quero que seja meu melhor amigo

e meu confidente, meu amante apaixonado,

e vivemos o dobro do tempo.

(Risos)

Então nós basicamente pedimos a uma pessoa

que nos dê o que antes um vilarejo inteiro nos fornecia.

Dê-me merecimento, identidade, continuidade,

mas também transcedência e mistério e admiração, tudo junto.

Dê-me conforto, limite.

Dê-me novidade, familiaridade.

Dê-me previsibilidade, surpresa.

E achamos que acordos, brinquedos e lingerie irão nos salvar.

(Aplausos)

Agora chegamos a realidade existencial da história, certo?

Porque acho que, por um lado – e vou voltar a isso –

a crise do desejo é geralmente uma crise da imaginação.

Então, por que o bom sexo geralmente desaparece?

Qual a relação entre amor e desejo?

Como se relacionam e como se chocam?

Porque aí mora o mistério do erotismo.

Para mim, se há um verbo que vem junto com amor é o “ter”.

E um verbo que vem junto com desejo é o “querer”.

No amor, nós queremos ter, queremos conhecer o amado.

Queremos minimizar a distância. Queremos diminuir o espaço.

Queremos neutralizar as tensões. Queremos proximidade.

Mas no desejo, temos a tendência de não querer voltar aos lugares em que já estivemos.

Conclusões precipitadas não mantêm nosso interesse.

No desejo, queremos um Outro, alguém do outro lado que podemos visitar,

que podemos passar um tempo juntos,

que podemos ir para saber o que está acontecendo na “praia” dele.

No desejo, queremos uma ponte para atravessar.

Ou seja, Eu algumas vezes digo que o fogo precisa do ar.

O desejo precisa de espaço.

Dizendo assim, soa quase sempre abstrato.

Fiquei com essa questão na cabeça

e fui a mais de países nos últimos anos

com “Sexo em Cativeiro”, e perguntei às pessoas,

quando você sente mais atração pelo seu parceiro?

Não sexualmente atraído, mas atraído em geral.

Independente da cultura, religião e gênero,

exceto por um, apresentam algumas respostas semelhantes.

O primeiro grupo é : sinto mais atração pelo meu parceiro

quando estamos longe, separados e nos reencontramos.

Em suma, quando eu volto a ter contato

com a minha habilidade de imaginar-me com meu parceiro,

quando minha imaginação começa a visualizar,

e quando posso juntar a isso ausência e saudade,

que é o maior componente do desejo.

Mas o segundo grupo é ainda mais interessante:

Eu me sinto mais atraida pelo meu parceiro

quando o vejo no estúdio, no palco,

quando ele está em seu mundo, ou faz algo pelo qual é apaixonado,

quando o vejo numa festa e outras pessoas se sentem atraídas por ele,

quando é o centro das atenções.

Em suma, quando olho para o meu parceiro sendo radiante e confiante,

é provavelmente o maior estímulo de todos.

Radiante, como em autossustentável.

Eu olho para essa pessoa, a propósito, no desejo

as pessoas raramente falam disso, quando estão grudados,

cinco centímetros um do outro.

Mas também não falam sobre quando a outra pessoa está longe

que você não pode vê-la mais.

Quando olho para meu parceiro a uma distância confortável,

em que essa pessoa é tão familiar, tão conhecida,

é por um momento novamente um tanto misteriosa, um tanto elusiva.

E nesse espaço entre eu e o outro, encontra-se o impulso erótico,

encontra-se o movimento em direção ao outro.

Porque algumas vezes, como disse Proust,

“a verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens,

mas em possuir novos olhos”.

Quando vejo meu parceiro por si mesmo,

envolvendo-se em algo,

olho para essa pessoa e por um momento tenho uma mudança de percepção,

e fico aberta para mistérios que ainda vivem em mim.

E o mais importante na descrição sobre o outro

ou sobre si mesmo – é a mesma coisa- o que mais interessa

é que não há carência no desejo.

Ninguém precisa de ninguém.

Não há zelo no desejo.

Zelo é amar grandiosamente. É um anti-afrodisíaco poderoso.

Eu ainda quero encontrar uma pessoa que esteja excitada

por alguém que precisa dela.

Desejá-la é uma coisa. Precisar dele é desestimulante,

e as mulheres sabem disso há muito tempo,

porque qualquer semelhança com algo paternal

provavelmente diminuirá a carga erótica.

Por boas razões, certo?

E o terceiro grupo de respostas seria

quando estou surpreso, rimos junto,

ou como disse para mim hoje,

quando ele veste smoking, e eu disse,

tanto faz smoking ou botas de cowboy.

Basicamente quando há alguma novidade.

Novidade não tem a ver com novas posições. Não é um repertório de técnicas.

Novidade é, quais partes suas você valoriza?

Que partes suas são vistas?

Porque de algum modo alguém pode dizer

que sexo não é algo que você faz, hein?

Sexo é um lugar para onde você vai. É um espaço que você entra

dentro de você e com o outro, ou outros.

Aonde você vai no sexo?

Que partes suas você se conecta?

O que você deseja expressar?

É um lugar de transcendência e união espiritual?

É um lugar para travessuras ou um lugar para agressividade segura?

É um lugar onde você pode finalmente se render

e não ter responsabilidade de nada?

É um lugar onde você pode se expressar seus desejos infantis?

O que isso revela? É uma linguagem.

Não é apenas um comportamento.

É pela linguagem poética que me interesso

e foi por isso que comecei a explorar o conceito de inteligência erótica.

Vocês sabem, os animais fazem sexo.

É o ponto central, é biologia, é o instinto natural.

Somos os únicos que têm uma vida erótica,

o que significa que a sexualidade foi transformada pela imaginação humana.

Somos os únicos que podem fazer amor por horas,

ter momentos de pura alegria, orgasmos mútiplos,

e sem tocar em ninguém, apenas com a imaginação.

Nós podemos insinuar. Não precisamos fazer.

Podemos experimentar algo poderoso chamado antecipação,

que é a cereja do bolo do desejo,

a habilidade de imaginar como se estivesse acontecendo,

experimentar como se estivesse acontecendo, quando nada está acontecendo

e tudo está acontecendo ao mesmo tempo.

Quando penso em erotismo,

penso em um sexo poético,

e se o vejo como uma inteligência,

então é algo que você cultiva.

Quais são os ingredientes? Imaginação, jovialidade,

novidade, curiosidade, mistério.

Mas o agente central é aquela peça chamada imaginação.

O mais importante para que eu entenda

quem são os casais que possuem uma faísca erótica,

que sustenta o desejo, tive que voltar

à definição original de erotismo,

a definição mística, e eu tomei

uma derivação, vendo realmente o trauma,

que é o outro lado, e eu o vi

ao ohar para a comunidade onde cresci,

que era uma comunidade na Bélgica, todos sobreviventes do Holocausto,

e na minha comunidade haviam dois grupos:

aqueles que não morreram e aqueles que retornaram à vida.

Aqueles que não morreram, viveram muito amarrados ao chão,

não conseguiam experimentar prazer, confiança,

porque quando você é vigilante, preocupado, angustiado,

e inseguro, você não consegue erguer a cabeça

e se soltar, ser brincalhão, seguro e criativo.

Aqueles que retornaram à vida

vêem o erótico como um antídoto para a morte.

Eles sabem se manter vivos.

Quando comecei a escutar sobre a falta de sexo em casais com quem trabalhei,

eu os ouvia dizer, “quero mais sexo”,

mas geralmente as pessoas querem um sexo melhor

e melhor quer dizer reconectar com a qualidade de estar vivo,

de vibração, renovação, vitalidade, Eros, energia

que o sexo costuma dá-los ou que eles esperam

que seja dado.

Então comecei a fazer uma pergunta diferente.

“Eu me fecho quando” – assim começava a pergunta.

“Eu abafo meus desejos quando..” que não é a mesma pergunta que

“o que me desestimula..”e “você me desestimula quando..”

As pessoas diziam, “eu me fecho quando

eu me sinto morto por dentro, quando não gosto do meu corpo,

quando me sinto velho, quando não tenho tempo para mim,

quando não tenho a chance de saber como você está,

quando não me saio bem no trabalho,

quando minha auto estima está baixa, quando não me dou valor,

quando não sinto que tenho o direito de querer, de dar,

e receber prazer.”

Então comecei a fazer a pergunta ao contrário.

“Eu me fecho quando…” Porque geralmente

as pessoas gostam de perguntar, “você me excita,

o que me excita’, e eu fugi da questão, entendem?

Bem, se você está morto por dentro, a outra pessoa pode fazer tudo no dia dos namorados.

Não vai causar efeito algum. Não há ninguém lá para responder.

(Risos)

Eu me excito quando,

quando me conecto com meus desejos, eu acordo quando…

Neste paradoxo entre amor e desejo,

o que parece ser desconcertante é que os ingredientes

que nutrem o amor – interdependência, reciprocidade,

proteção, preocupação, responsabilidade pelo outro –

são os mesmos que podem sufocar o desejo.

Porque o desejo vem com uma série de sentimentos

que nem sempre são os favoritos do amor:

ciúmes, possessividade, agressão, poder, domínio,

safadeza, ofensa.

Basicamente muitos de nós se excitam a noite

pelas mesmas coisas que se manifestam contrários durante o dia.

Bem, a mente erótica não é muito politicamente correta.

Se todos tivessem fantasias em uma cama coberta de rosas,

não teríamos essa conversa.

Mas não, em nossa mente

existe uma série de coisas acontecendo que nem sempre damos conta

como dizer a pessoa que amamos,

porque achamo que amor vem com abnegação

e na verdade o desejo vem com uma dose de egoísmo

no melhor sentido da palavra:

a habilidade de estar conectado consigo mesmo

na presença do outro.

Quero formar uma imagem para vocês,

porque esta necessidade de reconciliação esses dois conjuntos de necessidadas,

vem do nosso nascimento.

Nossa necessidade de conexão, nossa necessidade de separação,

nossa necessidade de segurança e aventura,

ou nossa necessidade de estar juntos e de autonomia,

e se pensar na criança que senta no seu colo

e que está aconchegada, segura e confortáavel,

e num certo momento precisa sair pelo mundo

para fazer descobertas e explorar.

Aí está o começo do desejo,

essa exploração precisa de curiosidade, descoberta.

Em algum momento elas viram e olham para você,

e se você disser a elas,

“ei querido, o mundo é um lugar bem legal. Vai nessa.

Divirta-se por aí,”

então eles podem ir e experimentar

a conexão e a separação ao mesmo tempo.

Eles podem partir em sua imaginação, em seu corpo,

em sua travessura, e sabendo

que há alguém quando eles voltarem.

Mas se desse lado tem alguém que diz,

“Estou preocupado. Estou angustiado. Estou com depressão.

Faz tempo que meu parceiro não cuida de mim.

O que está acontecendo? Não temos tudo

que precisamos juntos, você e eu?”

e daí surgem alguma reações

que todos nós reconhecemos.

Alguns retornam, depois de um longo tempo,

e a criança que volta

é aquela que renuncia uma parte de si

para que não perca o outro.

Perco minha liberdade para não perder a conexão.

Vou aprender a amar de um modo

sobrecarregado de preocupação extra

e responsabilidade e proteção extras,

e não sei como vou deixá-lo

a fim de sair para jogar, experimentar o prazer,

descobrir, entrar dentro de mim mesmo.

Traduzindo isso para uma linguagem adulta.

Começa-se bem jovem. Continua por nossas vidas sexuais

até o fim.

Criança número volta

mas fica vigiando o tempo todo.

“Você estará aqui?

Você vai me xingar? Vai me repreender?

Vai ficar bravo comigo?”

Eles podem ter ido embora, mas nunca estão longe,

e essas pessoas geralmente dirão a você,

que no começo foi tudo muito quente.

Porque no começo, a intimidade que crescia ainda

não era tão forte,

e na verdade levou a um declínio do desejo.

Quanto mais conecto eu fico, mais responsável eu me sinto,

menos me solto em sua presença.

A terceira criança não retorna.

O que acontece se você quer sustentar o desejo,

aí está a verdadeira peça dialética.

Por um lado você quer segurança para ir.

Por outro lado você não pode ir, não tem prazer,

você não consegue atingir, não tem orgasmo,

você não fica excitado porque perde seu tempo

no corpo e na cabeça do outro e não consigo mesmo.

Neste dilema sobre reconciliação

nesses dois conjuntos de necessidades fundamentais,

existem algumas coisas que percebi nos casais eróticos.

Primeiro, eles têm muita privacidade sexual.

Eles entendem que existe um espaço erótico

que pertence a cada um deles.

Eles também entendem que as preliminares não começam

apenas cinco minutos antes da relação sexual.

As preliminares começam no fim do último orgasmo.

Eles também entendem que o espaço erótico

não é começar a acariciar o outro.

É criar um espaço onde você deixa de lado a Gestão Ltda,

você deixa de lado o trabalho,

(Risos)

e você entra naquele espaço

em que você para de ser o bom cidadão

que cuida de tudo e é responsável.

Responsabilidade e desejo são idiotas.

Eles não se dão bem.

Os casais eróticos entendem que a paixão vai e volta.

Como a lua. Tem eclipses de vez em quando.

Eles sabem que conseguem ressuscitá-la.

Eles sabem como trazê-la de volta,

e sabem como trazê-la de volta

porque eles desmistificaram o grande mito,

que é o mito da espontaneidade,

aquele que vai cair do céu enquanto você limpa a casa

assim inesperadamente, e eles entendem bem

que o que tiver que acontecer

em uma relação duradoura, ela já a tem.

Sexo comprometido é sexo premeditado.

É determinado. É intencional

É foco e é presença

Feliz Dia dos Namorados.

(Aplausos)

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