O MONGE E A PROSTITUTA E O SANYASIN

O MONGE E A PROSTITUTA

Parábola de Sri Ramakrishna

“Um sannyasin (monge renunciante) vivia nas proximidades do templo de Shiva. Defronte do templo havia uma casa onde morava uma prostituta. Vendo a quantidade de homens que entravam naquela casa, o sannyasin chamou um dia a mulher e a censurou asperamente, dizendo:
“És grande pecadora. Pecas dia e noite. Ó, quão miserável será a tua condição depois da morte!”
Afligiu-se extremamente a pobre meretriz por suas ações pecaminosas e com sincero arrependimento orou a Deus, implorando o Seu perdão.
Mas como o amor venal era o seu modo de ganhar a vida, não se lhe apresentou fácil adotar outra profissão para conseguir o sustento. Assim, toda vez que sua carne pecava, ela se recriminava a si mesma e com profunda contrição de coração rezava a Deus para lhe conceder perdão. Ao notar o sannyasin que nenhum efeito produzira na mulher o seu conselho, pensou dentro de si: “Vou verificar quantas pessoas visitam essa mulher no curso da sua vida”. E daquele dia em diante apurava quantas pessoas entravam na casa da prostituta, pondo de lado uma pedrinha; e, com o passar do tempo as pedrinhas aumentaram até formar montão. Tornou o sannyasin a chamar a mulher pública e lhe disse:
“Mulher, vês este montão? Cada pedra representa um dos pecados mortais que vens cometendo desde minha advertência para abandonares tua má vida. Agora, volto a dizer-te: Cuidado com as consequências das tuas más ações!”
Começou a tremer a pobre mulher, ao perceber como se avolumavam os seus pecados e orou a Deus, vertendo desconsoladas lágrimas de sincero arrependimento: “Ó Senhor, não me livrarás da miserável vida que levo?” Foi ouvida sua prece, e naquele mesmo dia o anjo da morte lhe passou pela casa e ela deixou de existir neste mundo.
Pela estranha vontade de Deus, o sannyasin também morreu no mesmo dia. Baixaram do céu os mensageiros de Vishnu e levaram o corpo espiritual da contrita dama aos reinos celestiais; em troca, os mensageiros de Yama ataram o corpo sutil do sannyasin e o levaram às regiões inferiores. Vendo a boa sorte da rameira, o sannyasin gritou: “É esta a sutil justiça de Deus? Eu, que passei toda a vida em ascetismo e pobreza, sou levado ao inferno, enquanto a prostituta, que viveu em constante pecado está subindo ao céu!” Ouvindo isto, os mensageiros de Vishnu disseram: “São sempre justos os desígnios de Deus; o que alguém pensa, isso mesmo colhe.
Tu levaste vida de ostentação e vaidade, tentando conseguir honras e fama; e Deus deu-te essas coisas. Jamais tiveste sincero anseio por Deus. Esta mulher, ao contrário, orou fervorosamente a Deus dia e noite, embora seu corpo vivesse em pecado. Olha o trato que estão a receber ali na terra o teu corpo e o dela. Como nunca pecaste com o teu corpo, adornaram o teu cadáver com grinaldas de flores e o levaram em procissão, com música, para lhe dar sepultura no rio sagrado. Ao contrário, o corpo desta prostituta, que muito pecou, é agora despedaçado pelos abutres e chacais. Mas, como ela foi pura de coração, vai agora à mansão dos puros. Teu coração esteve sempre ocupado em contemplar os pecados da prostituta, e, deste modo, tornou-se impuro. É por isso que vais à região dos impuros. A verdadeira prostituta foste tu, e não ela.”

2 comentários em “O MONGE E A PROSTITUTA”

  1. Só porque a prostituta fazia orações, ela merece ser levada as dimensões superiores, sacanagem, se isso ocorre realmente, eu espero que exista um ser que faça a justiça verdadeira acontecer.

    1. A oração vazia não vale nada.
      A postura de santo vazia, também não vale nada.
      O monge era vazio, só sabia vigiar e julgar, a meretriz sentia um valor espiritual verdadeiro.
      O próprio texto é autoexplicativo.
      Dalton

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