NEM TODO CONFLITO É NECESSARIAMENTE NEURÓTICO - LOGOTERAPIA

NEM TODO CONFLITO É NECESSARIAMENTE NEURÓTICO – LOGOTERAPIA

Trecho da obra EM BUSCA DE SENTIDO de Viktor Frankl, tópico Neuroses noogênicas.

Um caso incrível e interessante de um best seller.

Neuroses noogênicas

Neuroses noogênicas não surgem de conflitos entre impulsos e instintos, mas de problemas existenciais. Entre esses problemas, a frustração da vontade de sentido desempenha papel central. É óbvio que em casos noogênicos a terapia apropriada e adequada não é a psicoterapia de um modo geral, mas antes a logoterapia; ou seja, uma terapia que ousa penetrar na dimensão especificamente humana. Quero citar um exemplo. Um diplomata americano de alto escalão dirigiu-se a meu consultório em Viena a fim de continuar o tratamento psicanalítico iniciado cinco anos antes com um analista em Nova Iorque. Logo de início perguntei-lhe por que ele pensava que deveria ser analisado, por que, em si, começara com a análise. Revelou-se que o paciente estava descontente com a sua carreira e tinha extrema dificuldade em concordar com a política exterior dos Estados Unidos. Seu analista, no entanto, lhe havia dito repetidamente que ele devia tentar reconciliar-se com seu pai, porque o governo dos Estados Unidos bem como os seus superiores eram “nada mais” que imagens paternas, e, consequentemente, a insatisfação com o seu emprego se devia ao ódio inconsciente contra o pai.

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Uma análise que já vinha durando cinco anos induzira o paciente a aceitar cada vez mais as interpretações de seu analista, até que, de tantas árvores de símbolos e imagens, ele não mais conseguiu ver a floresta da realidade. Após algumas poucas entrevistas, ficou claro que a sua vontade de sentido estava sendo frustrada por sua profissão e que ele na realidade ansiava engajar-se em outra espécie de trabalho. Como não havia motivo para ele não largar a sua profissão e abraçar outra, assim o fez, com os mais gratificantes resultados. Em sua nova ocupação ele está satisfeito já faz mais de cinco anos, conforme relatou há pouco tempo. Duvido que neste caso eu estivesse lidando com um estado neurótico, e esta é a razão por que pensei que ele não precisava de qualquer psicoterapia, nem mesmo de logoterapia, pela simples razão de, na realidade, nem ser um paciente. Nem todo conflito é necessariamente neurótico; certa dose de conflito é normal e sadia. De forma similar, sofrimento não é sempre um fenômeno patológico; em vez de sintoma de neurose, sofrimento pode ser perfeitamente um mérito achievemente humano, especialmente se o sofrimento emana de frustração existencial. Eu negaria categoricamente que a busca por um sentido para a existência da pessoa ou mesmo sua dúvida a respeito sempre provenha de alguma doença ou mesmo resulte em doença.

Frustração existencial em si mesma não é patológica nem patogênica. A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa sobre se a sua vida vale a pena ser vivida é uma angústia existencial, mas de forma alguma uma doença mental. É bem possível que interpretar aquela em termos desta motive um médico a soterrar o desespero existencial do seu paciente debaixo de um monte de tranqüilizantes. Sua função, no entanto, é de pilotar o paciente através das suas crises existenciais de crescimento e desenvolvimento.

A logoterapia considera sua tarefa ajudar o paciente a encontrar sentido em sua vida. Na medida em que a logoterapia o conscientize do logos oculto de sua existência, trata-se de um processo analítico. Até esse ponto a logoterapia se assemelha à psicanálise. Entretanto, quando a logoterapia procura tornar algo novamente consciente, ela não restringe sua atividade a fatos instintivos dentro do inconsciente do indivíduo, mas se preocupa também com realidades existenciais, tais como o sentido em potencial de sua existência a ser cumprido, bem como a sua vontade de sentido. Qualquer análise, porém, mesmo que se abstenha de incluir a dimensão noológica em seu processo terapêutico, procura tornar o paciente consciente daquilo por que ele realmente anseia na profundidade do seu ser. A logoterapia diverge da psicanálise na medida em que considera o ser humano um ente cuja preocupação principal consiste em cumprir um sentido, e não na mera gratificação e satisfação de impulsos e instintos, ou na mera reconciliação dos reclamados conflitantes de id, ego e superego, ou na mera adaptação e no ajustamento à sociedade e ao meio ambiente.

 

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