Livro Estudos Espiritualistas Dalton Campos Roque consciencial

Da Obsolescência Disjuntiva Dialética para a Construção Conjuntiva Exlética

Nadia Bevilaqua Martins – Brisbane, Outubro de 2001.


Apresento a vocês um fantástico texto que achei, por acaso, agora, em meu PC. Como escrevo livros, sou pesquisador. Como pesquisador, as vezes acho as coisas por acaso, mesmo que não precise delas no momento e vou acumulando os artigos e textos sem intensão imediata. Quando precisar e se precisar eu vasculho os arquivos, pesquiso e aproveito. Mas as vezes encontro as coisas sem querer. Citei algo parecido com este texto e bem resumido no livro Estudos Espiritualistas. Onde praticamente cito a exlética como a “nova” metadiciplinaridade (neologismo) e chamo a dialética de newtoniana e a exlética de consciencial. Mas entender melhor leiam o texto (enorme) e se quiser leia também o livro citado.

Este texto é um soco na cara de todos que possuem a “verdade”.
Fantástico! Parabéns ao autor.

Dalton Campos Roque


O que é dialética?

É um modelo de pensamento. Portanto, uma forma de ver a si mesmo, de interpretar o mundo, as pessoas e as coisas. Foi fundamentada na lógica de Aristóteles, ganhou força com Clero Católico (particularmente) através de São Tomaz de Aquino (Tomismo), com o mecanicismo de Newton, com a filosofia dualista de Descartes e o positivismo de Augusto Conte. Todos esses pensadores enfatizaram uma visão dualista, que só tem dois lados: um vencedor e o outro vencido. E o lado vencedor “possui” a verdade e a “dita” como um modelo fechado. Ou se está dentro ou se está fora. Quem está fora quer entrar, quem está dentro não quer sair, por isso a luta, as guerras, a busca do material para “entrar” dentro do sistema. Essa visão pouco a pouco negou a filosofia e portanto o espírito, porque só se evidencia espírito através da filosofia. Reflexão, conhecimento de si mesmo, intuição é visao “de dentro”, espiritual, ou então, fica-se numa visão só “de fora”, movida pelas Teorias da Competição Selvagem e do “Obstáculo”: compra-se um carro este ano e “urge” trocar no próximo, não se pode repetir roupa, “tem-se” que viajar para Europa, a busca incessante de poder, bens, dinheiro, lucro a todo custo, a pressa, a adrenalina, etc. Todos conhecem essas síndromes…

A visão mecanicista de Newton viu o mundo como um relógio que se poderia desmanchar e, conhecendo a partes poder-se-ia conhecer o todo. Como resultado surgiu a idéia do “especialismo” (disciplinaridade) que foi reduzindo o próprio campo de ação até que a parte perdeu a visão do todo. Ficou a idéia da disciplina (parte) “sem” a visão da matéria (todo). Sem a visão da matéria para iluminar a disciplina, a disciplina torna-se ‘indisciplinada’. O Direito no Brasil é um caso típico. Tem-se construído na idéia disciplinar de ‘legalidade’ e não de ‘moralidade’. No caso do Direito do Trabalho é pior: faz o pro misero – a parte mais fraca ‘sempre’ tem razão. Deixou de fazer Justiça, portanto, dissemina desordem moral, compromete os demais áreas do Direito Brasileiro, enfraquece a capacidade crítica do povo e retarda o desenvolvimento democrático do país.

Esse núcleo de pensamento especialista-reducionista incrementa uma visão materialista-dualista, porque faz “um só lado”, faz parcialidade. Outro exemplo: a filosofia política dos USA pensa ‘etnocentricamente’ como se o resto do mundo pudesse ser colocado a parte. A tragédia do 11 de Setembro 2001, mostra socialmente o que a Nova Física já mostrou no chamado “efeito borboleta” (butterfly effect). Se uma borboleta bater as asas na Amazônia, uma tempestade pode ser desencadeada na China. A Natureza e a sua biodiversidade são regidas por um princípio de indissolubilidade e intercontaminação. Mas a visão dialética faz a ‘visão do holofote’: enfoca o ângulo conveniente para perpetuar o status quo. A visão geral do mundo contemporâneo, do Brasil é dialética: estar do lado do poder, do dinheiro, custe o que custar (mesmo a sua honra), porque quando o empenho é “entrar” no sistema, o fim justifica os meios.

Então, a própria concepção moral, o conceito moral e de moral ficam comprometidos, porque dependentes da ‘qualidade’ apurada só de um lado – o lado vencedor, e a oposição continua. O brado do PT brasileiro Companheiros: a luta continua, segue a mesma lógica. Existem duas forças em oposição uma lutando contra a outra. O lado mais forte ganha poder, riqueza, dita consumo – é a filosofia do Homo economicus. A dialética marxista <dominante-dominado> inclusive, materializou esse pensamento com a divisão do mundo <capitalismo-comunismo> mas o núcleo do pensamento, tanto de um como do outro, está atomizado em torno do ‘homem material’. O comunismo nega Deus e a religião e o capitalismo submete os dois aos caprichos do mercado. O homem nesse cenário tornou-se um mero robô. Essa é a mentalidade reinante ainda na Terra.

Todo pensamento tem uma base. Na base de cada pensamento existe uma concepção de fundo religioso, mesmo as que se dizem ateístas, como o comunismo, por exemplo. O princípio geracional está embasado numa concepção religiosa. É lícito dizer, portanto, que ao longo da história humana formaram-se duas correntes de pensamento na Terra: 1) a do Deus que criou o Universo e o Homem, e 2) a do “Deus” criado pelo Homem.

A primeira busca o entendimento do Deus Cósmico, que criou tudo e criou o Homem, do Deus-Fundamento do Fundamento da Vida.1 A segunda é obra do clero organizado. Note bem que ao longo da história, o ‘processo do clero organizado’, foi devagar criando um conceito de um “Deus salvacionista e ritualista”,2 extremamente danoso a título curricular, humano e social porque cria uma dependência permanente que “desativa o sujeito” e deslustra a pessoa humana. É um ‘Deus de barro’, fabricado, e que, por sinal, só permanece in business na razão direta da ignorância de seus prosélitos. Essa religião salvacionista é um grande negócio, sempre o foi. Esse “Deus” mata, é perverso, anda com um tacape na mão, criou um contra-parte “o diabo”, o pecado, a culpa, o medo (Rodrigues da Cruz: 2002). Gerações inteiras acham-se comprometidas por esta concepção. Esse “Deus” esparge dor, discórdia e miséria em todos os aspectos. Coloca o Homem de joelhos e obscurece a sua inteligência com dogmas.

O Deus Cósmico é um conceito mais difícil de ser processado porque demanda maioridade espiritual. Hoje Ele pode ser mais facilmente acessado pela chamada hipercomplexidade. Hipercomplexidade é a concepção científica mais avançada da atualidade. A hipercomplexidade trata dos “processos auto-geracionais”, sub judice a duas grandes leis: a Lei da Transauto-Administração dos Sistemas Vivos que se refere ao macrocosmo (ex. o Cosmos, as galáxias, etc.) e a Lei da Transauto-Organização das Espécies e Indivíduos, que se refere ao microcosmo (ex. a espécie hominídea e cada indivíduo de per se). Esses processos auto-geracionais de organização são movidos por um sistema feedback: fazem sustentabilidade através de auto-avaliação e auto-transformação (desorganização-reorganização) permanente. Logo: hipercomplexidade é o vetor da evolução. Para a observacao desses sistemas não há ‘regra fixa’, ou método rígido, a constante é uma imprecisão permanente, porque o equilíbrio não é fixo, como se pensava, mas móvel.3

No Homem, portanto, vale muito a consciência, eis que o Homem é um ser inteligente que “se ativa” (evolue) pelo conhecimento (pela consciência) – o fenotipo altera o genotipo. Consciência implica em “processo crítico” e este em alcance possível da Verdade. Portanto, a submissão ignorante mantida pelo “Deus” criado pelo Homem, ao qual se adora mas não se compreende, canta-se hinos sem precisar entender o significado das palavras, um “Deus” ritualizado, paramentado, que precisa de encíclicas, de versos, de bulas para “controlar” o “ser inteligente” da Creação, é absolutamente indignificante. Nele a forma fica mais importante que o fundo. Interessante notar que esse é o ‘modelo correto’ para manter submissão… Ele capa e anemia o sujeito da ação, avassala o povo e procrastina a liberdade, e, portanto, as mudanças que só um estado moral de liberdade poderia vislumbrar para construir. A concepção dialética emana nesse “Deus” criado pelo Homem. Está mofa, viciada.


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Lógica Dialética

A lógica de Aristóteles se compõe da seguinte forma:

1. O axioma da identidade: A é A.

2. O axioma da não contradição: A não é não-A.

O axioma do terceiro excluído: não existe um terceiro termo que possa ser A e não-A ao mesmo tempo.

Com base nessa lógica não se admitia contradição, (paradoxo era considerado um desequilíbrio da Natureza), ou era um termo (A) ou era outro (não-A). É a lógica do tudo ou nada, através da qual há sempre um “vencedor” e um “perdedor”. E o homem que se sente perdedor é sempre um perigo, porque ele não tem parâmetros para agir, ele esta ‘de fora’, entao age no ‘vale-tudo’. Perceba, por exemplo, o chamado ‘terrorrismo fundamentalista islâmico’: mata-se em nome de “Deus” (desse “Deus” clerical criado pelo Homem).

As “idéias”, como as teorias são “roupas”, elas vestem o homem por um tempo e depois ficam obsoletas. Tudo evolui. O discurso fica velho, ‘datado’, cansado, vencido. O que resta perenemente é o princípio contido na idéia. A dialética sustentou a mentalidade científica nestes últimos dois séculos, criou a tecnologia e biodegradou. Com Einstein já ficou provado que tal método não ‘servia’ mais, mas o modelo continuou e continua atualmente em estágio “paroxístico” de rigor mortis. O Universo Einsteniano só começou a ser decodificado depois da Segunda Grande Guerra. Quem determina o “modelo” do pensamento científico é sempre a Física, porque é a Física que faz “cosmovisão”: como eu vejo o mundo… Essa “cosmovisao” vaza, ou seja, ela é transcodificada através da transversalidade e translateralidade do pensamento para outras áreas de cultura (cultura humanista, de massa e religiosa). Professor Rodrigues da Cruz (2002) afirma que nada é mais impermeável à mudança que a cultura religiosa e a educação – daí as crises. A sistema de feedback processa (itera) conceitos datados que nao correspondem mais às necessidades emergentes.

Einstein fez a revolução a nível de cultura científica, mas no decorrer da história sempre houve pensadores exléticos. Segundo Professor Rodrigues da Cruz (1999) grande número de filósofos o foram. Mas foi Kant quem iniciou o pensamento exlético.

O que é exlética?

Kant começou a expressar a imagem e a linguagem do homem “integral”. Exlética significa o pensamento do homem integral, encontrar o homem integral (que foi fragmentado ao longo da história, por falta de instrumentos e instruções do próprio trânsito da evolução humana e, às vezes, até por variáveis históricas, como o pensamento materialista).

Então em Kant, está a semente, mas só depois de Einstein e da Teoria Quântica; dos estudos de Piaget e do Construtivismo (que mostram o fundamento espiritual de um conhecimento permanentemente em construção); da Geometria Fractal e da Teoria do Caos (que trouxe o conhecimento da imprecisão e indeterminismo de todos os fenômenos ditos naturais, o vetor do ‘tempo convencional’ e um “vislumbre” de um processo de eternidade), é que a exlética pode emergir. Segundo nossas pesquisas, pelo menos a título de literatura, o termo “exlectics” foi usado pela primeira vez por Eduardo de Bono (1977). Precisará ainda de muitas formulações para poder se firmar. A exlética é uma criança… Quando Faraday, em 1831-2, descobriu as leis de inducao entre correntes e correntes e magnetos, foi-lhe perguntado: Qual é a função dessa descoberta? Ele respondeu: Qual é a função de uma criança – ela cresce para tornar-se um Homem.4

A exlética já traz em si a presunção de “níveis de realidade”, então ela não fica mais só no material (dialético) porque com a Teoria Quântica ficou provado que existem “outros” níveis de realidade. E a Geometria Fractal faz um input extensivo de “n dimensões”, ou seja, infinitas. O quântico5 perscruta o “micro”, portanto, abre-se para dimensão do espírito, a dimensão que faz direção para o espírito. Os físicos já tratam o Universo como atemporal, transformacional, transdimensional e composto por polissistemas material-espiritual, onde vale a Lei de Lavoisier: na Natureza, nada se perde, tudo se transforma. Tudo isso ficará mais claro para futuro através da Geometria Fractal (Rodrigues da Cruz: 2001). Mas essa visão transformacional vem sendo transdisciplinarizada, pelo Professor Rodrigues da Cruz (2001), para as chamadas Ciências Sociais, como “reciclagem de idéias”. Ou seja, não se pode mais esconder o lixo, há que se reciclar o lixo.

O Planeta é uma nave onde todos estão contidos. Veja o problema da violência no mundo ou dos presídios brasileiros. Matar (pena de morte), separar ou prender não funciona. O pensamento é quântico. Transmite-se por redes (networks). Ninguém estanca o pensamento. Portanto, ninguém é dono de nada, ninguém possui a “verdade”. A Internet só materializa tecnologicamente o que a Natureza já o faz. Pelo Principio da Indissolubilidade e Intercontaminação tudo se comunica, o bem ou o mal. Portanto, há que se alcançar um entendimento de causa e não só de efeito. Há que se alcançar um entendimento de sistema: de estrutura e de função. Como operar o sistema em face da sua estrutura e da sua função? Então há que se avaliar a sua forma, seu significado, seu uso e sua função, e não só do sistema propriamente dito, mas do conjunto de sistemas que compõe a totalidade do Sistema, portanto, são sistemas dentro de um Sistema, são polissistemas. Há sistemas complexos e hipercomplexos. Há que se levantar os padrões de comportamento dos sistemas para poder se estabelecer políticas inteligentes que visem o respeito à vida e o equilíbrio humano. Mas nada disso pode acontecer dentro do “modelo dialético”. Por isso se afirma cabal e cientificamente que ele se tornou obsoleto.

O Brasil particularmente precisa alcançar esse entendimento científico-crítico para poder resolver seus próprios problemas e contribuir espiritual e materialmente na direção de uma ação humana mais inteligente no mundo. O momentum histórico demonstra que é necessario se instituir neste milênio um “Projeto Terra” comum. A cultura científica já alcançou tal entendimento. É preciso que se espraie. A lógica dialética não tem recursos para resolver os problemas da complexidade-hipercomplexidade pósmoderna, porque ela limita o conhecimento e o coloca a serviço de grupos de interesse econômico. Este milênio é o “milênio do conhecimento com base”, de matéria, do saber e do saber-fazer. Só este pode trazer paz e liberdade porque vem conjugado com maturidade – com responsabilidade moral.

Lógica exlética
A lógica muda para a do terceiro incluído:

1. A

2. Não-A

3. T

O primeiro e o segundo termos são idênticos à lógica de Aristóteles.

O terceiro termo T lê-se: existe um termo T que é ao mesmo tempo A e não-A. Ela admite a contradição, admite o paradoxo e diz que são coexistentes e que se resolvem permanentemente num nível dimensional superior porque a “matéria mais fina permeia a matéria mais densa, mas a recíproca não é verdadeira”. Então existe uma direção para energia que é considerada um conceito unificador: tudo é energia, disse Einstein. E a Teoria Quântica adjunta: e energia é informação.

A exlética alcança a verdade captando todos os lados (experiência existencial + saber instituído), e não só o vencedor. Ela se expressa através das descobertas efetuadas pela Ciência da Complexidade, das chamadas Novas Ciências (Física, Microbiologia, Comunicação) e das teorias que fazem o suporte da chamada “visão sistêmica” do Universo. O Universo é uma unidade em que segmento, parte, todo e totalidade interagem do micro ao macro e vice-versa. Então, a produção da verdade “muda” radicalmente de abordagem. De “modelo” (mecânico-linear) abre para “padrões”(sistêmico-não-linear), pois que a verdade fluí-reflui-conflui, emerge, é produzida, captada por vertentes complexas e mesmo assim, diante da magnitude da verdade, ela será sempre “a melhor aproximação da verdade”, por isso precisa (cogência) de todas as fontes ciência, filosofia, religião para alcançar o seu quantum optimum a cada passo da evolução humana. (Existe um pessimum e um optimum para tudo…) O Homem caminha sempre para a Verdade, que em tese é Deus porque é a Verdade/Deus que o sustenta, bem como a toda Creação.

Daí a síntese do Professor Rodrigues da Cruz:-

Deus

^

Humanidade

^

Matéria

^

Disciplina

Nessa síntese não existe nem a idéia de céu, nem de inferno, de pecado ou de castigo, de ritual, fórmula mágica ou título, de submissão ou medo, mas de estudo e pesquisa, de coragem moral para se fazer um enfrentamento contínuo, pertinaz e eficience daquilo que cada um é e quer ser pela força da verdade possível que conseguir alcançar. Deus, Humanidade, Matéria e Disciplina representa a síntese do conteúdo humano: liberdade-responsabilidade, amor-conhecimento.

Para explicar, descrever e prescrever a exlética é preciso se ter em mente que a cada nova “cosmovisão”, novas teorias surgem para sustentar tal “visão”, conquistando o espaço que era ocupado pela antiga, avançando paulatinamente, criando, ampliando fractalmente “mais e mais espaços” ou quanta de conhecimento em torno da Verdade. Essas teorias, que fazem suporte à exlética, já são de conhecimento público. A primeira delas é Construtivismo, seguida pela da Transdisciplinaridade, Teoria do Terceiro no Grupo (cada diálogo implica num terceiro interessado – a humanidade que gesta o diálogo…), a Teoria dos Agentes da Primeira-Mão (que fazem o conhecimento do heterogêneo real – universalidade), a Teoria da Linguagem (generativo da linguagem, a logoteca e a genoteca humanas), Teoria da Cultura (como sistema esferóide que informa, organiza, transforma), da Comunicação (quântica, por rede, através da cadeia da polimerase). Todas essas teorias estão sob a égide de outras duas maiores: a Teoria da Transauto-Administração dos Sistemas Vivos (macro) e a Teoria da Transauto-Organização dos Indivíduos e Espécies (micro), já referidas. Como o homem é um sistema cognitivo, ele precisa de conhecimento para sobreviver. Viver é conhecer” (Maturana:1988). Está inoculado nele pela Lei (Lei = o algoritmo da Vida, ou seja, o “programa” da vida, considerando-se que a vida é um programa biocibernético comandado pelo espírito) esse poder de transauto-organização. E é isso que o homem faz, por sinal, por isso ele precisa sair desse circuito reducionista do economicus e caminhar para o Homo artiflex (aquele que constrói petit a petit um universo para si e para a posteridade) e Homo concors (aquele que é capaz de se conhecer e conhecer os outros). Mas para isso tem que sair da dialética.

Exlética é espaço. Observe que a dialética é tempo. E o tempo não existe, é convenção. Einstein descobriu isso e criou na Física uma entidade linguística unificadora chamada tempo-espaço continuum a qual Professor Rodrigues da Cruz resignificou para existente. Não há passado nem futuro, finito ou infinito – há existente revelado, em trânsito e em repouso. Esse novo Homo artiflex e Homo concors (e seus subsequentes) não vive no tempo mas no espaço. No espaço que ele cria, que é capaz de criar, manter e permanentemente qualificar, portanto vive no existente em processo de eternidade, porque eternidade é processo. Se nada se perde e tudo se transforma, não existe morte mas mudança de estado, portanto transformação. Da partícula microfísica até o corpo macromolecular humano ou a astrofísica de um Planeta ou de uma Galáxia ou do Universo – tudo – mas tudo sempre está e estará em estado de transformação, portanto – a realidade é o existente.

Nesse existente hipercomplexo onde tudo esta em permanente auto-transformação6 não há “determinismo”, mas criação contínua regida por leis bioquímicas-dínamo-psíquicas e espirituais que desconhecemos a maior parte, mas que vão efetivamente à Inteligência do Fundamento do Fundamento – Deus, a Verdade. O Homem faz Ciência, Filosofia e Religião para descobri-las. Necessita desses três grandes campos do saber para alcançar níveis de entendimento que desmistifiquem a Verdade, que obscurecem a compreensão humana. Por sinal, os estudos sobre complexidade que vem sendo efetuados por Gregory Chaitin, na IBM, demonstram que os chamados fenômenos naturais geram um campo observacional de dados que atinge 16 bilhões. O cérebro humano, no atual estágio de evolução, é capaz de alcançar um campo observacional não-maior que 3 bilhões. Após tal limite o cérebro entra na chamada twilight zone, onde a razão ou a análise sistemática dá lugar a estados de intuição, pressentimentos, insights, à chamada “terceira visão” que é a visão do espírito.7 Observe daí a restrição de inteligência que a dialética impõe ao Homem pósmoderno: coloca-o no tempo e para completar a crise, ainda em permanente oposição, e “nesse campo de luta” ele não sai do tempo… Ele tem dificuldade de “sair” do tempo e entender a eternidade. A verdade fica fragmentada e compromete a visão da totalidade. Em outras palavras: a dialética faz o que em Inglês de chama short vision (visão curta). É portanto defeituosa.

A dialética alcançou o Homo habilis (tecnológico), o Homo economicus e esgotou. Não há mais energia (fôlego, densidade intelectual) no dialético para lançar o Homem para conquistas maiores e absolutamente necessárias à complexidade do existente presente. Não há campo visual, portanto, não há campo mental, porque o cérebro trabalha com imagens. E ainda mais, o cérebro é exlético. Não há no cérebro humano hierarquia de comandos, como por exemplo entre o neocéfalo, o mesocéfalo, e o paleocéfalo. O que há é uma interação exlética, onde o processo de múltiplas funções alcança pelo transdisciplinar sentidos maiores (Rodrigues da Cruz:2002). A dialética sempre engendrou na História a presença de três destruidores apocalípticos da verdade: o mito, a magia e a idelologia. Portanto: o poder da regra e não da consciência. O Direito precisa pensar mais nisso ao idealizar a Justiça que tem o dever de materializar. No dialético não há justiça, nem democracia, mas pseudo-processos de ambas. Mas o Direito mundial neste momento dorme. A Resolucao Alternativa de Conflitos (RAC) emerge nos 60 para acordar esse dinossauro social. O processo de re-organização dos sistemas legais mundiais através dos métodos RAC é inexorável.

Quais as diferenças entre dialética e exlética?

Dialética

É linear – faz modelo;
Faz oposição, contradições irresolúveis, eternas;
É disjuntiva;
Produz a verdade de acordo com o modelo do vencedor, do forte, do rico, do patrão, ou faz o outro extremo o pro misero, portanto é parcial;
Produz qualidade engendrada, fabricada de acordo com a visão parcial do vencedor;
O processo fica mais importante que o homem;
O monumental fica mais importante que o funcional;
Estrutura e função são vistas separadamente;
Faz disjunção de ciência, filosofia e religião, produz uma imagem e uma linguagem de um homem segmentado, fraco porque sem eixo;
É superficial porque não faz processo crítico integral;
Visa à manutenção de posições;
É conservadora- progressista (destruir-desconstruir);
Faz submissão, mantem um sujeito passivo-monovalente, receptor-repetidor;
Faz complexidade destruidora e irresolúvel;
Lógica dialética – materialista.

Exlética

É não-linear – faz padrão;
Faz composição, integração do segmento, parte, todo, totalidade;
É conjuntiva (trabalha com conjuntos transcomunicantes);
Produz a verdade (melhor aproximação) considerando todos os lados, a diversidade e a alteralidade permanente, portanto, faz a visão possível do integral;
Produz qualidade genuína do emergente e predisponente da cultura;
O homem é maior que o processo, o homem sempre vem antes (é antropocêntrica);
O estrutural-funcional determina forma, significado e uso;
Faz cogência da Ciência, Filosofia, Religião – todas falam a mesma língua (da matéria) por métodos diferentes e visões disciplinares-transdisciplinares;
Faz profundidade porque o processo crítico-avaliativo é circular aberto;
Fomenta alteralidade pela transversalidade, transdimensionalidade, translateralidade e transdisciplinaridade;
É construtivista – contextualiza para construir;
Faz liberdade-responsabilidade, um sujeito ambivalente-ativo, receptor-processador-transmissor;
Faz hipercomplexidade: desorganização-organização, ruptura, assim sendo, e por excelência, faz a integração em todos os estágios da flexibilidade da imprecisão, portanto, evolução;
Lógica da integração – espiritualista: buscar o sentido exlético significa “buscar o melhor e se integrar com a vida”.

Evidentemente, essa relação não pretende esgotar o assunto. Ela é sintética. Cada ponto poderia ser decodificado infinitamente, o leitor deve preencher os espaços com o seu saber, a sua experiência existencial.

O que é Transdisciplinaridade?

Com base no que já foi exposto pode-se dizer que a Transdisciplinaridade é a migração disciplinar de conteúdos para formar quantum-matéria (condensações cada vez maiores de verdade). Como a verdade são vertentes complexas da verdade e considerando a limitação humana, sem transdisciplina a verdade fica reduzida.

A transdisciplina caminha pari passu com o construtivismo. Tudo sob a face do sol é construído e se comunica (faz transdisciplina), porque a Vida é um sistema de feedback e faz iterações translaterais e transdimensionais que extrapolam qualquer limite formal estabelecido eventualmente pelo saber instituído. A Vida não tem fronteira disciplinar, ela é total e totalizadora. Fronteira disciplinar é modelo estabelecido pelo homem, não pela Vida ou pela cadeia de vida que nos envolve. Se é cadeia, não tem fronteira. Isso é lógico! Faz o “trans”. Cada processo de iteração totaliza trans-conhecimentos que podem estar contidos eventualmente nas variáveis da disciplina-especialismo, mas todas jorram para “o mar” transdisciplinar e transdimensional da matéria que representa a Vida.

Quais as diferenças entre multi, inter e transdisciplinaridade?

E tem ainda a pluridisciplinaridade… Essa distinção é fornecida por Nicolescu (1996) num estudo sobre a Evolução da Universidade.

Pluridisciplinaridade concerne ao estudo de um tópico, não apenas dentro de uma disciplina, mas em muitas ao mesmo tempo. Por exemplo, se você pega a história do Direito no Brasil e o estuda sob o aspecto de História dos Sistemas Legais Mundiais, História do Direito da América do Sul, da Filosofia do Direito, da Ciência Política, etc. O tópico se enriquece com todas as perspectivas das outras disciplinas, o entendimento se aprofunda dentro de uma visão multidisciplinar. Então a multidisciplinaridade traz um plus mas “a serviço” da disciplina-mãe do tópico. Então multidisciplinaridade ultrapassa fronteiras disciplinares, mas o seu objetivo resta limitado à “moldura” da disciplina.

Interdisciplinaridade tem um objetivo diferente de multidisciplinaridade. Interdisciplinaridade cuida da transferência de métodos de uma disciplina para outra, a qual se dá em três graus:

grau de aplicação: por exemplo: métodos da mecânica migram para a medicina e geram a invenção do coração artificial;
grau epistemológico: por exemplo: Piaget usou a Biologia e a Lógica(-matemática) para interpretar suas pequisas em Psicologia;
grau de geração de novas disciplinas: por exemplo: Geometria fractal migrou para Física e gerou a descoberta da Teoria do Caos – a hipercomplexidade.

Mas – como pluri-multi, interdisciplinaridade permanecem sempre na moldura da pesquisa disciplinar, ficam fazendo o “limite”, a divisão, a linearidade, a não-unidade, a disjunção.

Transdiciplinaridade faz “totalidade”, faz transversalidade, translateralidade, transdimensionalidade (o conjuntivo possível), portanto, faz fluxo-refluxo-confluxo que qualitativa e quantitativamente, faz iteração e produz matéria. Pela circularidade do processo no sistema de feedback, itera matéria e altera disciplina construtivistamente.

Basicamente as duas primeiras são limitantes e a transdisciplinaridade transcende e constrói na diversidade a alteralidade. Portanto transduz (indução-dedução-transdução) a evolução, a verdade possível e o influxo da ordem inteligente do Universo.

Nadia Bevilaqua Martins
Brisbane, Outubro de 2001.
(Revisado em Março 2003).


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