O AUTISTA QUE RI DA PRÓPRIA LÓGICA (E DA ALHEIA, SE DER TEMPO)

O AUTISTA QUE RI DA PRÓPRIA LÓGICA (E DA ALHEIA, SE DER TEMPO)

Sou Dalton Campos Roque: autista de carteirinha cósmica, poeta de versos não rimados (porque rima é ditadura fonética) e cronista da consciência em promoção existencial.
Moralista? Nem com reza brava. Prefiro rir das minhas neuras a ditar regras para as dos outros.
Até porque, cá entre nós, se existisse um manual de “como ser humano”, meu cérebro já teria incendiado a página do “contato visual obrigatório”.

Minha mente funciona como um teatro de variedades: ora é um labirinto de hiperfoco, escrevendo poesias, textos técnicos e crônicas como se o mundo fosse acabar amanhã; ora vira um festival sensorial onde o som da torneira gotejando parece um baile funk pós-morte.
Mas aprendi a negociar com os ruídos — inclusive os internos. Só não negocio com as inspirações que borbulham na mente.

Por exemplo: quando a conversa social vira um quebra-cabeça em alemão, simplesmente assumo o papel de antropólogo em campo. “Observem o Homo sapiens emitindo sons ritualísticos chamados ‘piadas’. Fascinante.”
Já a inspiração consciencial vem como uma pressão psíquica interna: só se dissolve quando escrevo. É como uma urgência fisiológica — mas, em vez de “fazer o número dois”, eu faço luz.

Não, não sou o “autista inspirador” com sorriso de comercial de margarina espiritualizada.
Sou mais o tipo que, ao ouvir “por que você não olha nos olhos?”, responde: “E por que você não lê meus textos profundos? Ou minhas poesias emocionantes? Melhor ainda: por que não admira meus joelhos? Também são charmosos.”

O humor é meu script de sobrevivência.
Se a vida fosse um jogo, eu seria aquele personagem que usa piadas ácidas para lidar com as loucuras do mundo — e que foge de aglomerações como se fossem hordas de zumbis.

Minha poesia? Ah, ela nasce das frestas — e das minhas próprias lágrimas.
Escrevo sobre a alma como quem descreve um apartamento alugado: “piso instável, janelas com vista para o abstrato, mas a cozinha tem café quente e uns versos queimados no fundo da panela”.

Não tenho tempo para moralismos. O mundo já está cheio de gente gritando “deveria ser assim” com um megafone em punho.
Prefiro apontar para o céu e dizer: “olha lá, uma nuvem parecendo um dragão tomando chá de cogumelo”.

Às vezes me perguntam: “como você concilia autismo, espiritualidade e humor?”
Respondo com honestidade: não concilio. Deixo tudo brigando na sala da cabeça enquanto faço pipoca ou limpo a caca da calopsita.

A mediunidade?
É meu Bluetooth com o invisível — sem ficha técnica e com oscilação constante.

A consciência?
Uma coleção de quebra-cabeças comprados em sebos interdensionais. O corpo mental e o emocional vivem em guerra. Parecem vizinhos de condomínio: jamais entram em acordo.

E o Juju, minha calopsita?
Meu mestre zen de penas, que me ensina todos os dias que a vida é feita de pequenos caos — alguns literalmente caindo da gaiola.

Epílogo do poeta que não se leva a sério (mas leva o café muito):
Se um dia me encontrarem tagarelando sozinho, não é esquizofrenia — é brainstorming.
Se me virem rindo do nada, é porque decifrei uma piada cósmica disfarçada de sincronicidade.
E se eu escapar de uma conversa, não é pessoal: é que não sigo esportes (nem em final de Copa do Mundo Brasil x Argentina), não jogo (nem damas), não bebo (nada de álcool), não tenho religião, crença, nem devoção a X ou Y. Mas, se for muito deselegante sair de fininho, fique tranquilo: solto umas risadas sinceras e até tento agradar.

Moral da história?
O autismo não é tragédia nem superpoder. É só um jeito diferente de navegar num mundo barulhento.
E eu, navegador de estimação, sigo escrevendo poesia, crônica, humor e textos técnicos entre um gole de café, uma água com gás e uma risada das minhas próprias esquisitices.

Porque, no fim, como diria o Juju (enquanto destrói sua caixinha de papelão personalizada):
“A única verdade universal é esta: todo mundo é maluco, mas só os sábios deixam a loucura dançar com estilo.”

Dalton Campos Roque – desconcertante por natureza, poeta por opção, cronista por não caber em formulários, universalista por não admitir holopensene formatado.
Autor de 36 obras conscienciais, 1 de humor, 1 de música, 5 de informática (faz tempo), 1 sobre autopublicação e 9 CDs multimídia interativos em Macromedia Flash (uma obra-prima que perdeu a validade técnica — faz tempo).
Mantenho 5 sites, posto continuamente em todos eles e mais num punhado de redes sociais chatíssimas, que adoraria excluir para sempre.

Dalton Campos Roque – @ConsciencialConsciencial.Org

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