Conto do Livro CONTOS ESPIRITUALISTAS de Dalton C. Roque,
Livro Contos Espiritualistas: https://clubedeautores.com.br/livro/contos-espiritualistas
E-book Contos Espiritualistas: https://www.amazon.com.br/dp/B07ZWMGY2P
VIVENDO EM COMUNIDADE
Havia um indivíduo que tinha tendências espiritualistas desde o berço, mas nunca havia despertado esse potencial plenamente. Ele também apresentara fenômenos parapsíquicos desde cedo, que era algo de família, seus irmãos e pai também compartilhavam dessa condição.
No entanto, sem conhecer os aspectos mais profundos da espiritualidade e da evolução da consciência, focavam apenas nos fenômenos em si, o que não agregava maior valor essencial.
Esse indivíduo cresceu e tocou sua vida e foi fazer curso técnico de edificações e depois curso superior de Arquitetura, pois sempre foi atraído pela área de ciências exatas.
Sempre encalhado, não arrumava parceiras afetivas e era um eterno solteiro solitário e rejeitado.
Formou-se e foi trabalhar. Pulava de galho em galho e não progredia profissionalmente. Ficou uma longa temporada sem trabalho e entrou em depressão profunda e não sentia mais esperança de nada na vida. Vagava sem rumo, sem trabalho e sem esperança em profunda solidão. Assim tinha o tempo livre e ficava refletindo em si e na vida e do porquê vivenciava esta condição e sofrimento.
Resolveu pesquisar para aprender mais sobre a vida e comprou o livro O Tao da Física, onde o autor Fritjop Capra, que havia sido hippie na década de 60, experimentado drogas alucinógenas e interpretava suas experiências psíquicas sob a ótica do hinduísmo citando a “Dança de Shiva” como associação pioneira e inteligente.
Este arquiteto, perdido na vida, perdido na vida, se chamava Daniel, e já tendo experimentado vivências psíquicas em função de sua espontânea paranormalidade quando adolescente e também quando jovem, ficou muito impressionado com o relato deste autor e sentiu vontade de passar por experiências semelhantes. Daniel sabia que as experiências parapsíquicas são muito instáveis e não respondem de forma linear e matemática, apenas obedecem aos impulsos do inconsciente arcaico e eclodem sem racionalidade nenhuma, as vezes sabotando o próprio portador deste talento.
Desejou não apenas ter outro evento paranormal, queria vivenciar alguma experiência profundamente espiritual e radicalmente transformadora como se fosse uma EQM “calculada”, semi controlada, então decidiu que iria começar a tomar drogas, coisa que nunca tinha feito na vida.
Não sabia nem por onde começar, decidiu experimentar LSD no desespero do vazio espiritual, profissional e afetivo de sua ingrata e solitária vida.
E no vácuo de seu vazio existencial, caminhava na praia, ficava observando o por do sol alimentando aquela depressão desesperadora durante horas.
Ficava assistindo a TV aberta (não tinha TV a cabo) com toda aquela programação imbecil que ele mesmo odiava por não ter outra opção. Optava pela TV Educativa (TVE) que na década de 90 possuía bons documentários e entrevistas.
Daniel sentia que havia algo dentro dele que não detectava e que o bloqueava totalmente, chegou a se sentir uma pessoa inferior e com baixo QI. Certo dia surge na TV uma divulgação de um curso de meditação que prometia várias coisas, inclusive “aumento de inteligência” e disse que o valor do curso era negociável.
Claro, Daniel sobrevivia com o pouco que lhe restava, mas ficou reanimado da vida pela possibilidade de fazer o curso numa cidade vizinha, a cerca de 24 quilômetros de distância. Era um curso de Meditação Consciencial.
E foi-se Daniel de ônibus a cidade vizinha a 55 minutos de distância. Chegando lá, descobriu que o curso custava 200 dólares. Negociou e conseguiu pagar 100 dólares. Nos dias posteriores prosseguiu para efetuar o curso.
Após o mesmo, o grupo que frequentou o curso continuou se encontrando uma vez por semana para meditarem juntos. Chamaram de grupo de coerência, mas Daniel chamava de grupo de sinergia.
Daniel seguia à risca a recomendação do professor e meditava duas vezes ao dia durante 20 ou 25 minutos e não falhava, afinal ele tinha tempo.
Nos 3 meses seguintes ele ainda tinha a sensação de que mal atingia o estado mental “alfa” (ou alpha), muito menos o theta que era ainda mais profundo.
Se sentiu um merda de novo, mas não desistiu. Um certo dia, na meditação em grupo sentiu uma nítida sensação de relaxamento profundo e transcendência, havia atingido o estado theta com facilidade. Daí em diante, todas as vezes que meditou sentiu esse profundo bem-estar de transcendência em theta e algo mais.
Pronto, não precisava mais das drogas, foi salvo pela meditação.
Suas meditações foram progredindo gradualmente, o tempo das meditações foram se alongando. Daniel agora meditava ao menos uma hora duas vezes ao dia e as vezes mais e conseguia o estado theta com facilidade e serenidade. Meditava nas filas de banco, de consultório e onde tivesse quais 5 minutos livres, as vezes mesmo de pé.
Os encontros do grupo original que eram na outra cidade já haviam terminado há algum tempo, mas Daniel reuniu outros meditantes na cidade onde morava para constituírem outro grupo. E durante o decorrer do ano ele conseguiu mais alguns graus de aprofundamento em seus estados meditativos.
Sentia-se ampliar a consciência, se deslocando do corpo ligeiramente para frente em que “via” um plano negro infinito em veludo frente a sua testa, a meia distância onde surgiam figuras geométricas luminosas, reluzentes, fosforescentes, cujas cores eram lindas e se movimentavam numa dança dinâmica.
A maioria das figuras eram triângulos entre outras formas. Ao fundo aquele veludo negro infinito que absorvia toda a luz e não emitia nenhum reflexo, era um negro perfeito e profundo que propiciava um lindo contraste àquelas cores lindas reluzentes majestosas, que tal meditante não entendia o porquê, mas apreciava serenamente.
As coisas na vida de Daniel melhoraram, nada foi excepcional ou milagroso, mas melhoraram. A mente estava mais clara e lúcida, a visão periférica melhor, o encadeamento de ideias e tarefas ficou mais intuitivo e espontâneo, sentiu-se mais prático e sereno no dia-a-dia, as atitudes ficaram mais confiantes, claras e seguras, a autoconfiança geral melhorou.
Tudo indica que Daniel ficou mais íntimo, mais próximo do plano mental de seu próprio psiquismo. Ele nunca tinha praticado qualquer forma de Yoga e jamais havia conhecido as práticas respiratórias chamadas de pranayama, sempre foi o tipo de pessoa mais comum. Também continuou seus estudos, leituras e pesquisas sobre meditação, sobre a física visionária e o espiritualismo das escolas esotéricas.
Chegou a comprar um sintetizador de ondas cerebrais, um equipamento que dispõe de um óculos com duas luzes embutidas e mais um fone de ouvido, que pulsam (a luz e o som) em um conjunto de frequências programadas, para induzir os estamos mentais desejados. Possuía 6 botões com respectivos tipos de programações desejadas, entre elas tinha: meditação, relaxamento, sono, criatividade, atenção.
Também comprou um gravador K7 (cassete) e mais 4 fitas de cromo de meta hipnose (hipnose ericksoniana) caras para testar os prometidos efeitos binaurais, efeito estéreo que evitavam os bloqueios da mente racional, através de fones de ouvido. Cada fita tinha um objetivo diferente: autoconfiança, depressão, ansiedade, etc. Também estudou hipnose, parapsicologia, pirâmides, UFOs, ETs e similares.
Daniel teve acesso a esses assuntos desde cedo através de seu pai que na idade de 14 anos chegou em casa com um Long Play, um disco de vinil enorme que fazia relaxamento.
Certo dia os professores do curso de meditação que ministraram o curso em outra cidade, agora iriam ministrar na uma palestra aberta e o curso na cidade, e por coincidência, nas vizinhanças de onde Daniel morava. Eles permitiam que alunos anteriores fizessem uma reciclagem do curso gratuitamente caso houvesse vaga, e sempre tinha.
Fizeram a palestra, montaram nova turma e ministraram o curso. Daniel, claro, reciclou e neste evento fez amizade com uma pessoa com quem se identificou, pois era espiritualista, falava muito e era simpático e comunicativo.
Tal amizade prosperou e tal amigo meditava também, afinal se encontraram num curso de meditação.
Daniel tinha um apartamento pequeno numa pequena cidade no litoral de outro estado e tinha acabado de vendê-lo, agora possuía alguns trocados guardados, mas não sabia como prosseguir profissionalmente, pois em sua área sentia-se derrotado, apesar de a vida ter melhorado bem.
Este novo amigo que conheceu no curso de meditação queria abrir uma empresa de artigos esotéricos com enfoque em cursos, e acabara de perder um sócio por desentendimentos, assim precisava de um novo sócio para investir no negócio de objetos e cursos esotéricos e constituir a empresa.
Convidou Daniel para sócio, que muito inseguro, aceitou, pois, embora conhecesse muita coisa (abrangência), não havia de fato uma profundidade maior neste, e muito menos do ponto de vista comercial. Suas leituras eram insuficientes para uma loja de artigos esotéricos e suas pesquisam eram muito empíricas e sem os devidos embasamentos teóricos. Ser espiritualista é uma coisa, ser espiritualista com enfoque comercial é outra.
Daniel entrou e montaram o negócio, mas uma coisa o surpreendeu muito logo no início, seu novo sócio tinha imensa dificuldade de ler e escrever principalmente, apesar de alegar que havia iniciado uma faculdade e abandonado depois. Alegou também ter efetuado um curso técnico antes.
Dessa forma ele empurrava para Daniel toda elaboração teórica de pensamento, de sequência, de textos e de material didático. Seu sócio conhecia bem do negócio e tinha tudo na mente, mas consegui escrever e se organizar, Daniel sabia escrever, mas não tinha o conhecimento necessário para desenvolver os projetos.
Surpreso, apesar de ser bem fluente na escrita e leitura, e até ter sido campeão em redações na escola, Daniel se sentiu despreparado para desenvolver um material que não conhecia substancial conteúdo.
Havia confiado num sócio que se revelou instável e incoerente e o ônus de Daniel é que não possuía uma atitude prática e proativa, o que também aborrecia o sócio Túlio com a devida razão.
Foram levando aos trancos e barrancos, pois era a opção “profissional” que ambos possuíam e se aguentavam fazendo suas respectivas concessões.
O lado bom é que o sócio Túlio e sua esposa Gina eram pessoas boas, alegres e legais no trato com todos o que, neste aspecto, propiciava boa convivência e estudavam o espiritualismo juntos: espiritismo, gnose, teosofia, viagem astral, mediunidade, parapsiquismo, evolução da consciência, Rosacruz, conscienciologia, etc., e eram fiéis e até severos em tal estudo.
E o negócio continuava indo mal, mas persistiam juntos. Daniel foi tendo que colocar dinheiro na empresa todo mês até gastar todas as economias da venda do imóvel anterior, vendeu seu carro, e gastou tudo que tinha no bolso até sentir dificuldades de pagar uma passagem de ônibus urbano.
Em certo momento resolveram aprofundar seus estudos escolhendo determinada linha técnica com que mais se afinizavam e vamos chamá-la de CONSCIENCIOÉTICA.
O casal Túlio e Gina já a conheciam e desejavam apresenta-la a Daniel e assim foi feito. Viajaram até a capital de seu estado para frequentarem os cursos e imersões de final de semana. Mergulharam de cabeça e se tornaram seguidores leais e voluntários da consciencioética.
A vida seguiu e a empresa esotérica trocava seis por meia dúzia em sua prática financeira. O sócio Túlio sempre culpava o Daniel por tudo, por todo fracasso da empresa e Daniel com baixa autoestima não sabia se defender e argumentar, sempre ouvindo tudo calado. Sabia ele que tinha limitações, mas não poderia ser culpado por tudo, teria que ser dividida a culpa em 50% para cada um.
Essa nova escola espiritualista, a consciencioética, estudava muito viagem astral e tinha a crença (que não faz sentido, era uma lenda daquela cultura, mas Daniel não sabia disso) que a meditação atrapalha a projeção astral. E o sócio Túlio acreditou nessa crença errônea, parou de meditar e ainda incentivou o sócio Daniel a parar também, para que “pudessem ter projeções astrais conscientes”, e ele, com fraca personalidade cedeu a esse infeliz mito.
Mas por outro lado, frequentando essa nova escola mística, esotérica, a consciencioética, ela incentivava muito a que seus membros, discípulos e fiéis desenvolvessem a leitura e a escrita, além dos estudos formais e clássicos. E aí nasceu a veia de escritor de Daniel.
Havia começado a escrever uma apostila de meditação para ministrar tal curso em sua loja e daí não parou mais, foram surgindo-lhe mais e mais inspirações espirituais e intuições conscienciais. Mal sabia Daniel que aquela apostila ainda tão verde e tão insossa iria se transformar num poderoso livro de meditação 40 anos mais tarde.
Daniel não fazia a menor ideia, mas começou a psicografar sem perceber e achava que tudo era ele mesmo com muita fluência. Claro, esses textos iniciais ainda eram toscos e insípidos, faltava experiência, conhecimento e percepções mais profundas a serem desenvolvidas com o tempo.
Tudo prosseguia normalmente, a vida, os cursos na nova escola, os estudos regulares em grupo sobre conhecimentos esotéricos e principalmente viagem astral no próprio ambiente da loja esotérica.
Certo dia, Daniel estava atendendo sozinho e acabara de fazer o chá de cortesia dos clientes. Entra uma bela jovem com seus 23 anos que que de primeira se enamora de Daniel, mas este não percebe e não reflete o menor interesse.
Dentro de si só possuía frustração, rejeição e baixa autoestima. Sem dinheiro e sem sucesso, não tinha anda para se orgulhar de si mesmo, estava frio, desmotivado e apagado.
Essa jovem menina que se chamava Ângela, passou a ser cliente fiel da loja e frequentar seus cursos e logo ficou conhecida do casal Túlio e Gina. Esse casal, sabia que Daniel era muito solitário e triste e observaram o interesse de Ângela por Daniel que nada correspondia.
Mexendo seus pauzinhos psicológicos muito bem, tanto Túlio como Gina incentivaram Daniel a dar uma abertura afetiva para Ângela. Assim Se fez e tudo começou. Por essa intercessão Daniel iria sentir gratidão eterna pelo casal Túlio e Gina, independente de qualquer outra coisa, mas ele só iria descobrir isso 5 anos mais tarde.
Ângela era filha do meio entre dois meninos, assim a mais visada da família e seus pais severos e castradores sempre de olho na menina. Nessa época Daniel tinha 34 e ela 23 anos.
Decorrente disso, apesar de todas as controvérsias humanas e fracassos na empresa tínhamos dois casais parceiros. Assim Ângela foi iniciada e se aprofundou muito nos conhecimentos esotéricos, espiritualistas e na consciencioética, pois descobriram depois que ela era uma CDF (estudiosa) radical, cuja nota mínima era 9,99.
Certo início de noite os 4 parceiros jantavam juntos e Gina propôs um acordo para conviverem em comunidade como se fosse numa colônia espiritual (colônia extrafísica) de bom nível em que todos são iguais, todos têm os mesmos direitos e deveres e contribuem igualmente da forma que podem.
Ninguém percebeu, mas isso explodiu como um gatilho atômico dentro do peito e alma de Daniel e ele começou a se lembrar da colônia espiritual de origem, sentiu saudades e se emocionou discretamente, ninguém percebeu isso e ele jamais comentou.
Ele, Daniel, já havia descoberto o que era dharma, missão de vida ou programação existencial através de um curso com o guru da consciencioética. Ele sentia, sabia e não tinha dúvidas que tinha algum dharma mais ostensivo que o da média humana, mas não estava claro, não sabia o porquê.
E nesse momento em que tal gatilho foi disparado dentro de sua alma, ele só sentiu saudades e emoção transcendental, mas não associou nada ao conceito de e ideia de seu dharma.
Imediatamente todos os 4 abraçaram a ideia de viver em comunidade cooperativa entre 2 casais. Mas havia um problema, Ângela, muito presa, só sairia de casa casada e havia uma crença na consciencioética de que quem se submete a qualquer grilhão ritualístico de qualquer religião, não está com a mente livre, pois está se submetendo a um campo psíquico e energético e deve ser evitado ao máximo, como também quaisquer outras cerimônias sociais como: alianças, noivados, casamentos, crisma, batismo, etc.
Não que Daniel fosse um fiel cego da consciencioética, mas é que ele já tinha de berço a mente aberta e sua falta de motivação de viver, o peso de suas frustrações íntimas, ele não queria saber de nada, de dar satisfações a ninguém, estava dando um “dane-se” ao mundo todo.
Assim Daniel não admitia o casamento social, nem o religioso, nem alianças, comemorações, nada, apesar de ser filho de família tradicional católica. Resumindo, Ângela, apesar de ser maior de idade e ter liberdade legal total, com seus 23 anos, fugiu de casa para viver com Daniel na nova comunidade proposta por Gina.
Assim foi consumado e estabelecido, mas precisaram se mudar de cidade para evitar perseguições da família de Ângela. Aproveitaram para mudar-se para uma cidade onde estava estabelecida a nova sede principal da consciencioética, pois eram seus fiéis servidores.
Mudaram-se e estavam todos ajudando a constituir a nova sede da consciencioética como voluntários dedicados. Muitos fiéis e seguidores devotos vinham de todo o Brasil para participarem da nova empreitada. O guru desta seita também estava se mudando para lá e precisava de muita mão de obra gratuita e instigou muitos fiéis a se mudarem dizendo que seria a condição “espiritual mais evoluída”.
Muitos mudaram suas empresas e faliram em pouco tempo, muitos mudaram no rompante emocional e se viram sem meios de sobrevivência tendo que voltar sem anda para antiga casa e alguns até com dificuldades de pagar a passagem de volta.
O casal Túlio e Gina eram muito participativos e proativos (até demais), cheios de ideias e ação e despertavam muita inveja de outros fiéis da seita que os odiavam a disputar a atenção do guru.
A partir desses invejosos, as fofocas maldosas foram crescendo, as rixas e toda a baixeza e vilania que se vê nas massas mais baixas se repetia ali, entre estudantes de consciência e de ética.
As fofocas malditas atingiram em cheio a Gina que era excelente pessoa, gentil e amorosa e tal maldade foi cair nos ouvidos do alto escalão da hierarquia da consciencioética e daí foi rápido para chegar aos ouvidos do guru.
Tal guru, muito arrogante, descontrolado e estúpido chamou o casal Gina e Túlio para lhes passar uma advertência na frente de uma roda de assessores sem a menor ética, sem a menor discrição. Logo eles que eram os que mais se doavam ao movimento, participavam ativamente e foram maldosamente incriminados por mesquinharias baixas que o próprio guru desavisado acreditou.
Isso aconteceu um mês depois após a mudança de cidade dos dois casais e sua loja esotérica. Gina foi humilhada pelo guru diante da roda e Túlio constrangido e acuado (não por mal) não conseguiu sequer reagir para defender sua amada contra o guru injusto. Saíram arrasados e não voltaram mais.
Havia uma especial força jovem nesse movimento da consciência ética muito admirada por Gina. E Gina defendia e incentivava muito os jovens desse movimento que se denominavam “reversores conscienciais”. E foi justo por esses jovens que a fofoca começou.
Daniel, se manteve centrado, justo e sereno no meio de tudo sem tomar partidos. Sempre ficava calado e reservado ao frequentar o movimento e desconfiado face aos exageros de elogios de Gina a tal categoria de jovens.
Ângela, como era jovem, também participava do movimento e sempre quando voltava contava a Daniel discretamente os fanatismos absurdos e exageros filosóficos que ouvia lá dentro e até o desdém do grupo por outros participantes do mesmo movimento.
Daniel sempre ficava reservado quando ouvia elogios do casal Túlio e Gina quanto aos grupos do movimento (que ele também gostava, mas apenas tinha cautela) e principalmente quanto a classe dos “reversores”.
Assim, pagando para ver, de forma lúcida, Daniel falou com Ângela para continuarem a frequentar o movimento, também por uma questão de honra e personalidade e assim o fizeram.
Daniel, nos relacionamentos, era do tipo paciente, que vai deixando as pessoas ao redor tropeçarem na própria incoerência e acumulando contradições, enquanto ele não fala nada e apenas observa e vai registrando os eventos. Se a pessoa dá abertura ele fala, mas se não dá (e a maioria esmagadora não dá mesmo) ele se recolhe e espera até o nível da última gota d’água.
Gina tinha a pressão arterial alta, instável e teve um agravante sério com risco de infarto após a humilhação “em público” pelo guru. Túlio ficou indignado e prometeu a Daniel que: “essa gente ainda ia pedir pires para ele”.
Daniel e Ângela também ficaram muito aborrecidos com o evento, mas era uma questão de honra continuar.
Os reversores conscienciais e esmagadora maioria dentro do movimento da consciencioética, possuíam um patológico sentimento de superioridade e exclusão e desprezo a todos que não participam do movimento, como se ali fossem ser “salvos espiritualmente”, só ali “fosse o caminho”. Mas Daniel e Ângela não compartilhavam desse sentimento e sabiam, pela prática da constatação direta, e análise não emocional, todos lá dentro são iguais a todos os de fora e todo movimento tem essa mesma mecânica quanto ao ego grupal.
Daniel havia se cansado de ouvir de Túlio e Gina, sobre a “superioridade do movimento”, “sobre a superioridade dos reversores”, muitas dessas com um fundo de insinuação para ele a dizer que “você Daniel, não tem essa dedicação e priorização”. Por isso também ele continuou no movimento ou afinal, as opiniões podem mudar num instante conforme a conveniência emocional de qualquer um?
E Daniel viu muitas outras pessoas que eram fanáticas no movimento e o elogiavam como o suprassumo do universo, e depois saíram com ódio, indignação e frustração, ou até mesmo foram expulsas por motivos que Deus pode imaginar. Daí suas inteligentes, sensatas e ponderadas reservas.
Ele sabia que depois desse vexame amoral de fofocas e humilhação, por discordar disso e por não concordar com essa qualidade do grupo não deveria mesmo continuar. O que ele queria ouvir para sair da consciencioética de Túlio e Gina é que eles admitissem que estavam errados na visão deles sobre o grupo que “apenas foi uma opinião imprudente”, expressão sutil, que no fundo teria a seguinte mensagem: “fomos fanáticos, interpretamos errados, estávamos errados”.
Era dessa dignidade que Daniel e Ângela precisavam ouvir para saírem espontaneamente do movimento. Mas gente orgulhosa quebra a cabeça na parede, mas não cede, nem Túlio e nem Gina admitiram, orgulho talvez, era mais fácil culpar a baixeza alheia que admitir o próprio fanatismo.
Ângela parou por desmotivação natural, Daniel continuou a frequentar a consciencioética, pagando para ver enquanto moravam e trabalhavam juntos. Era um direto dele.
Chegou um momento que Túlio não aguentou mais e chamou Daniel na conversa exigindo severamente que ele saísse senão desfaria a sociedade.
Em verdade, depois da mudança de cidade, o nome de Daniel nem estava mais no contrato social, e por sua vez, estavam o de Túlio, Ângela e de Gina por questões administrativas, o que iria trazer sérios prejuízos a Daniel no futuro, pois não tinha nenhum INSS recolhido, nem contrato de trabalho e nem carteira assinada, apesar de trabalhar 12 horas por dia vendendo, ministrando aulas, administrando alunos e papeis, etc. com as dívidas da empresa e suas dificuldades financeiras até o limite do cheque especial de Daniel foi usado e seu nome também foi majestosamente incluído no SPC. Era um burro de carga.
O dinheiro, os bens eram todos misturados, mas quem os administrava conforme o próprio gosto e decisões eram Túlio e Gina a revelia de Ângela e Daniel, mais ingênuos e inexperientes. Daniel e Ângela comiam, dormiam e moravam na empresa (o outro casal também) e por sorte todas as despesas médicas incluídas.
Em todo tempo era apenas trabalho 12 horas por dia de segunda a sábado e mais 4 horas aos domingos pela manhã. No início todos vendiam, todos ministravam os cursos e todos administravam as contas, planilhas e papéis. Mas Túlio pediu permissão para dar um mínimo de cursos para poder ter mais tempo para administrar, liberando os outros para se dedicarem as vendas, marketing e cursos e todos concordaram.
Mas aos poucos Túlio foi ficando preguiçoso e foi empurrando tarefas administrativas para Daniel e Ângela. Cleuza pagava uns serviços por fora e já colaborava muito da forma que podia, sempre prestimosa.
Depois de um tempo Daniel e Ângela ficaram assoberbados com os cursos, vendas e a administração enquanto Túlio acordava tarde, as vezes almoçava (havia um refeitório na empresa) e ainda voltava para seu quarto para assistir TV à tarde.
Muitas vezes exigia reuniões que começavam a meia noite e iam até as duas horas da manhã, enquanto ele acordava as 11 horas e Daniel e Ângela tinham que acordar as 7 horas.
Outra mania antiética de Túlio, era quando iam todos os 4 para cozinha, para fazerem um almoço ou uma janta juntos, todos ajudavam em tudo, mas quem “pilotava” o fogão era Túlio, e depois da comida, ele dizia que “eu fiz a refeição você lavam tudo” e saia para descansar. O correto eram todos cooperarem também na limpeza, óbvio, mas os “ensinamentos da consciencioética não estavam fazendo efeito”.
Daniel era um pouco sistemático com organização das coisas: papeis, objetos, equipamentos e ferramentas e era bem meticuloso. Túlio era desleixado e relapso e destruía toda a organização de Daniel que ficava muito aborrecido com isso.
Túlio tinha uma personalidade forte, mas era muito orgulhoso e jamais podia desculpas por nada a ninguém, jamais admitia um erro, Gina não era assim. Ele tinha um complexo de inferioridade por causa de uma questão da mãe na infância e isso piorava as coisas, pois Túlio acusava Daniel e Ângela diariamente pelo fracasso da empresa.
Daniel até peitava Túlio, mas era inseguro para sair e tocar sua vida noutro canto e aguentou muito tempo. Ângela morria de medo de Túlio nas discussões e nos confrontos de forma covarde ficava ao lado de Túlio e contra o parceiro Daniel, o que o aborrecia profundamente.
Daniel esteve junto a esse casal parceiro na cidade anterior (a original da empresa) durante 2 anos e na nova cidade por mais 4 anos. Ângela após conhecer Daniel entrou no contrato social cerca de 1 ano mais tarde após se mudarem para a nova cidade. Foi nessa mudança que o nome de Daniel do contrato social foi retirado.
Assim Daniel ficou trabalhando 4 anos sem poder contar com esse tempo para aposentadoria. E já não aguentava mais a incoerência e preguiça do sócio Túlio que só sabia acusar ele e Ângela por toda e qualquer coisa que desse errado. Gina, apesar de ser boa pessoa, era ingênua e caia na lábia do marido e acabava por defende-lo por mais absurdo que fosse o argumento.
E Daniel, com toda aquela tensão e desespero, também não estava nada bem com Ângela, que além de ir contra ele nas discussões também não proporcionava sexo. Eles também não tinham a menor liberdade ou privacidade sendo cerceados de tudo, até mesmo quando iam fazer compras juntos no mercado Daniel e Ângela eram castrados de escolherem os alimentos, não podiam interferir e escolherem. Tudo era decisão absoluta de Túlio e Gina enquanto Daniel e Ângela eram anulados e usados.
Túlio e Gina compravam pequenas coisas, como CDs de música New Age e incensos os quais Daniel e Gina não teriam acesso, pois levavam para seus quartos particulares na tal “colônia espiritual que todos teriam direitos iguais”.
Havia apenas um TV e Túlio era dono do controle remoto e escolhia a revelia de todos o que queria ver e quando mudar o canal sem qualquer consenso dos outros três não aceitando opinião de Daniel ou Ângela. Gina, meio submissa, não se importava. Até que Daniel, simplesmente não comparecia mais para assistirem TVs juntos.
Daniel escrevia com fluência ímpar e nessas e noutras horas vagas ia para seu quarto fazer a única e última coisa que lhe restava: escrever. Túlio era tão invejoso (não sabia escrever) que sabendo do talento do “sócio” batia na porta para atrapalhar e ainda dizia: “você tem que escrever para empresa, não para você”! Daniel, indignado, nada respondia, baixava a cabeça e continuava a escrever de portas trancadas tentando manter um mínimo de privacidade.
Ângela, sua companheira não se importava com isso e muitas vezes, a noite na cama, enquanto ela lia, Daniel escrevia fluentemente, as vezes horas a fio, afinal não havia mesmo sexo naquele casal.
E Daniel, desgostoso, mas paciente, acumulava tudo, agora tendo certeza absoluta que não iria durar mais muito tempo. Começou a ter experiências fora do corpo, lúcidas, espontâneas e ostensivas. Os mentores o retiravam do corpo e falaram de forma clara, direta e firme a ele:
_“Saia da empresa, mude-se, seu local não aqui, sua missão é outra”.
_“Saia da empresa, há muitos cursos e alunos esperando você”.
E os amparadores sabendo que Daniel era inseguro devido aos eventos que vivenciou em encarnações pretéritas e também nesta ainda o prometeram:
_ “Saiam da empresa, nós vamos ajudar você”.
E esse fenômeno projetivo junto aos amparadores se repetiu com muitas variações por 6 meses onde Daniel lutava contra sua insegurança íntima pensando numa solução para sair. Ainda faltava mais um empurrão, uma última gota naquele oceano de desespero.
Um dia Túlio, já viciado em reclamar e a culpar principalmente a Daniel, este não aguentou e o mandou para o inferno. E aproveitou e pensou que seria a última vez que sua companheira não daria razão a ele e que a dispensaria também, mandando todos ao inferno. Só que dessa vez não aconteceu isso, ela não participou da discussão e apoiou a saída de ambos imediatamente.
Daniel comunicou sua saída e disse que a partir de já não participaria de nada mais da empresa, que assumissem suas turmas e seus papéis, pois não ganhava nada, não tinha esperança, nem futuro, nem liberdade, nem registro em carteira, nem salário, nem INSS e não tinha centavo no bolso para comer um pastel, muito menos pagar um carnê de autônomo. Cansara de ser explorado como escravo por longos 4 anos.
Túlio ficou surpreso, não acreditou que sairiam, pois sabia que não tinham opções e Daniel falou a ele: “pode ficar com minha parte da empresa e todos os meus anos dedicados, só levarei meu quarto e coisas pessoais, armário, cama, mesa e ar condicionado.
Pediu a Túlio 300,00 para pagar as passagens de ônibus dele e de Ângela de volta e Túlio com toda a raiva e orgulho disse um seco “não”. “Você não tira nem um centavo daqui”, morrendo de ódio, preocupado em perder 2 escravos que eram mão de obra de qualidade.
Nesta altura Daniel nem lembrava que seu cheque especial estava estourado e seu nome no SPC por gastar para pagar as contas da empresa que agora negava centavo a ele, assim, nem argumentou em defesa de si sobre isso, tal a tensão do momento.
Teve que ficar morando lá mais 3 semanas para se organizar, encaixotar as coisas, pedir dinheiro emprestado a parentes, arrumar local para ficar na cidade de destino, contratar uma transportadora e comprar passagem baratas de ônibus para sumir daquele inferno.
Nesse meio tempo Daniel e Ângela estavam bem de novo e iriam sair juntos. Conseguiram o dinheiro, empacotaram tudo, contrataram uma transportadora e iriam no dia seguinte. Até este último momento Túlio não acreditava que eles iriam sair e ainda foi conversar com eles: “vocês estão fazendo loucura, não tem trabalho, nem local para ficarem”…, estava preocupado em perder a moleza que era a vida boa dele, mas não tinha retorno.
Os pacotes que seriam colhidos pela transportadora estavam num cômodo da empresa onde também se encontravam algumas cadeiras de PVC da mesma. Túlio, com medo de Daniel roubar as cadeiras pediu a funcionária para tirá-las de lá na frente do casal, enquanto esperavam a transportadora.
A funcionária, muito constrangida e com vergonha retirou a cadeira pedindo desculpas ao casal. Em cada momento Túlio revelava sua baixeza interior, seu nível de desonestidade.
Agora é fácil entender porque Túlio e Gina sofreram aquela humilhação pelo guru da consciencioética e foram vítimas das fofocas, é que os semelhantes se atraem, as energias de ódio de Túlio atraíram toda essa carga negativa para eles. Ao contrário, Daniel e Ângela nunca tiveram qualquer indisposição com qualquer pessoa, em qualquer momento dentro da consciencioética.
Daniel e Ângela seguiram seus caminhos e vidas para uma grande metrópole. Sentiram muita insegurança e medo, mas também sentiam esperança e alívio de sair daquela escravidão e humilhação diária.
Ao entrarem no ônibus e saindo da cidade e já tendo despachado seus pertences, Daniel em silêncio circunspecto recordava das conversas com os amigos espirituais fora do corpo: … “nós vamos ajudar e proteger vocês” …
Fizeram boa viagem e chegaram bem e se resolveram as coisas como moradia e trabalho. Tudo fluiu de uma forma serena, encadeada e deslizante. Daniel e Ângela estavam em harmonia pela primeira vez e estavam aprendendo a se amarem…
Daniel, bastante sensitivo, sentia a presença ostensiva de seu amigo espiritual 24 horas por dia. Sentia calma e serenidade que não parecia ele. Sentia uma autoconfiança desconhecida em sua vida. Parecia flutuar quando caminhava inebriado pela natural liberdade de pensar, escolher ir e vir.
Com sua natural clarividência que já estava ficando mais aberta e ostensiva, Daniel viu um símbolo desenhado em seu corpo astral que reluzia uma luz no duplo etérico. Era um triângulo dourado que Daniel não sabia ao certo o que era, mas deduziu que era uma marca de proteção de alguma fraternidade espiritual bastante eficiente.
Tal marca ele sentiu durante 24 horas por dia durante o primeiro ano inteiro após a mudança de cidade. Nesse ano corrente tudo fluiu perfeitamente, corrigiu o problema do cheque especial, retirou o nome do SPC e seguiu sua vida tranquilo ao lado de sua parceira Ângela. O amparo espiritual foi tão intenso na chegada, que mesmo com nome sujo no SPC Daniel conseguiu alugar um sobrado com facilidade numa Imobiliária rigorosa, e não pergunte como isso foi técnica e administrativamente possível! São coisas que vêm do “céu”.
Os dois foram se adaptando e melhorando de vida cada vez mais. Uns anos depois souberam que Túlio fechou a empresa e Daniel pensou: “não éramos nós que atrapalhávamos a empresa? Porque ele fechou se é tão competente assim?”
Uma outra coisa que ocorria é Túlio tinha um grande complexo de inferioridade por não ter completado seu curso superior e sempre reclamava disso para Daniel e Ângela e também os culpava por não conseguir ter tempo e dinheiro atualmente para isto. Mas mesmo depois que saímos e não estamos “atrapalhando mais” nos anos seguintes nunca sequer iniciou seu curso superior que tanto lamentava.
No decorrer dos anos seguintes, foram superando as naturais dificuldades da vida, Daniel e Ângela foram descobrindo gradualmente suas missões de vida e clareando os caminhos de seus dharmas.
Atualmente eles se encontram muito felizes, estáveis e produtivos. Daniel, ainda sente profunda gratidão principalmente a Túlio (a Gina também) por terem insistido no romance dele com Ângela, tal o nível de harmonia, sinergia e felicidade que se encontram hoje.
Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium e humorista incorrigível da consciência. Sente uma saudade imensa de seu planeta em Sírius B e está ansioso para ser “puxado” pelo planeta Chupão. Ele alega com bom humor: “Não quero ficar com os ‘evoluídos’.” Autor de 41 obras independentes, sendo 5 sobre informática e 36 sobre espiritualidade e consciência, mas sem religião. Engenheiro Civil, pós-graduado em Educação em Valores Humanos (inspirado em Sathya Sai Baba) e Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia. E, como ele sempre diz: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso.”
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Cursos, áudios, meditações, práticas – https://cursos.consciencial.org
Seu livro publicado – https://seulivropublicado.com.br
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