A alegoria da Matrix, popularizada pelo cinema, vai além de uma ficção sobre máquinas que controlam humanos. Ela simboliza a teia de ilusões que nós mesmos tecemos através de vieses de confirmação — padrões mentais que nos mantêm presos a crenças, egoísmos e ignorâncias. Quem não cultiva lucidez age como um “zumbi cognitivo”, repetindo dogmas e reforçando sua própria matrix de ilusões, blindada pelo medo, pela preguiça intelectual e pelo orgulho.
Nesse contexto, o viés de confirmação é a ferramenta mais eficaz do ego para evitar mudanças. Ele filtra apenas informações que validam o que já acreditamos, distorce fatos e ignora evidências contrárias. Junto a ele, a Lei de Dunning-Kruger explica por que pessoas com menor conhecimento tendem a superestimar seu pobre saber (achismo), enquanto os verdadeiros sábios duvidam de si mesmos. Juntos, esses mecanismos criam mundinhos mentais onde a manipulação — interna e externa — prospera.
A matrix pessoal de cada um é moldada por seus próprios filtros cognitivos — e o mais traiçoeiro desses filtros é o viés de confirmação. Ele nos seduz a validar apenas aquilo que reforça crenças já enraizadas, transformando percepções em verdades absolutas. Quem não desenvolve lucidez consciencial acaba não percebendo o que o cerca e, pior, é facilmente manipulado — sobretudo por si mesmo. O ego é um engenheiro hábil dessa prisão perceptiva.
Todo buscador da verdade deve estar atento: o verdadeiro despertar começa ao confrontar os próprios dogmas pessoais, os mitos interiores que confortam mas limitam. Eis alguns exemplos do viés de confirmação em várias esferas:
NA RELIGIÃO: A Blindagem do Sagrado
- Um cristão fundamentalista que interpreta literalmente a Bíblia ignora evidências históricas, arqueológicas ou culturais que desmentem leituras literais.
- Um muçulmano tradicionalista que se apega a interpretações tribais do Alcorão desconsidera o contexto moderno e a diversidade espiritual islâmica.
- Um hindu que acredita no sistema de castas como divinamente inspirado ignora as vozes dos sábios que clamam pela unidade e reforma moral da tradição.
- Espiritualidade da prosperidade: a crença de que doações financeiras garantem bênçãos divinas, ignorando falácias lógicas e casos de líderes enriquecidos às custas dos fiéis.
- Neopaganismo seletivo: a idealização romântica de culturas antigas (ex.: druidismo ou xamanismo), omitindo aspectos violentos ou opressivos dessas tradições.
NA POLÍTICA: A Guerra Civil das Narrativas
- O progressista que só vê mal nos conservadores, ignorando boas propostas e criticando cegamente qualquer ação deles.
- O conservador que vê qualquer mudança social como “marxismo cultural”, sem avaliar o mérito da proposta.
- O eleitor convicto que interpreta cada escândalo do seu político favorito como “invenção da mídia”, enquanto amplifica os erros do adversário.
- Centrismo ilusório: acreditar que “neutralidade” é virtude, mesmo quando se ignora injustiças estruturais (ex.: “ambos os lados são ruins” em contextos de ditadura vs. democracia).
- Polarização reducionista: reduzir debates complexos a “esquerda vs. direita”, desconsiderando nuances (ex.: ambientalismo não é “coisa de comunista”).
- Conspiracionismo seletivo: aceitar teorias da conspiração que confirmam desconfianças prévias (ex.: negacionismo vacinal em grupos anticapitalistas ou anticientíficos em direitas radicais).
NO ESPIRITUALISMO: A Armadilha do “Despertar”
No universo espiritual, os vieses são mascarados de “sabedoria superior”:
- O seguidor de uma linha mediúnica que considera todas as outras canalizações falsas ou inferiores.
- O estudante de projeção que crê só nas experiências que se encaixam em sua teoria favorita, desconsiderando fenômenos divergentes.
- O praticante de técnicas bioenergéticas que rejeita qualquer abordagem que não seja a “sua”.
- Ascetismo elitista: acreditar que práticas extremas (jejuns, isolamento) são únicos caminhos para a iluminação, desprezando a espiritualidade cotidiana.
- Misticismo comercial: validar apenas terapias ou cursos caros como “verdadeiros”, menosprezando conhecimento gratuito ou simples.
- Guruificação: transferir autoridade absoluta a um líder, ignorando contradições em seus comportamentos (ex.: gurus que pregam desapego mas possuem iates).
NA FILOSOFIA: A Torre de Marfim do Pensamento
Até a filosofia, que deveria questionar tudo, cai em vieses:
- O niilista que descarta qualquer sentido existencial como ilusório, reforçando sua desesperança como “realismo”.
- O estoico mal interpretado que vê toda emoção como fraqueza, ignorando a riqueza afetiva como via de autoconhecimento.
- O existencialista radical que acha que toda estrutura é opressora, inclusive as que dão sentido e liberdade construtiva.
- Relativismo radical: “todas as opiniões são válidas”, mesmo as que negam direitos humanos.
- Racionalismo arrogante: descartar intuição ou emoção como “irracionais”, idolatrando a lógica formal.
- Niilismo passivo: usar “nada faz sentido” como desculpa para não agir ou estudar.
NA CIÊNCIA: O Dogma do Método
- O cientificista que nega toda experiência subjetiva como irrelevante por não ser mensurável.
- O tecnocrata que rejeita intuições ou insights espirituais como “delírio”, mesmo sem provas contrárias.
- O materialista que ignora evidências de parapsiquismo por não caberem no modelo reducionista.
- Cientificismo: tratar a ciência como religião, desconsiderando suas limitações e crises (ex.: replicação de estudos).
- Negacionismo da complexidade: reduzir questões multifatoriais a uma única causa (ex.: “a depressão é só desequilíbrio químico”).
- Pseudociência de estima: validar teorias marginais (ex.: terra plana) por identificação com grupos antiestablishment.
EM NICHOS ESPECÍFICOS:
- Linha terapêutica: terapeutas que defendem sua abordagem como panaceia, desprezando outras como placebo ou charlatanismo.
- Áudio analógico vs digital: audiófilos que “ouvem” diferenças quase místicas onde estudos blindados mostram equivalência perceptiva.
- Esportes: torcedores que interpretam erros do time rival como “desonestidade” e os do seu time como “acidentes”.
- Clubismos/bairrismos: pessoas que exaltam sua cidade ou estado como “melhor do país”, mesmo que dados objetivos indiquem o contrário.
O autoconhecimento lúcido exige coragem para encarar o ego manipulador interno. O viés de confirmação não é apenas uma falha lógica: é uma zona de conforto emocional. Questioná-lo não é se tornar cético, mas desenvolver uma visão mais cosmoética e universalista, como propõe Ramatís — longe de clubismos e mais perto da verdade consciencial.

Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium e humorista incorrigível da consciência. Sente saudade de seu planeta em Sírius B e espera com ansiedade o “resgate” pelo planeta Chupão. Brinca: “Não quero ficar com os ‘evoluídos’.” Autor de dezenas de obras independentes — cinco sobre informática, uma sobre autopublicação e o restante sobre espiritualidade e consciência, sem religião. Engenheiro Civil, pós-graduado em Educação em Valores Humanos (Sathya Sai Baba) e Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia.
Como costuma dizer: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso.”
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