Existe uma linha tênue entre praticar uma técnica espiritual como recurso de autotransformação e usá-la como muleta para evitar o enfrentamento interior. Com o Ho’oponopono, isso se tornou especialmente evidente na era da superficialidade digital e do consumismo espiritual.
Repetir frases como “sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato” pode ser altamente terapêutico — desde que esteja enraizado em vivência, intenção lúcida e propósito consciencial. O risco é quando essa prática se torna um disfarce piedoso para o não enfrentamento dos próprios padrões, traumas, culpas e responsabilidades.
O escapismo espiritualista ocorre quando o indivíduo usa discursos elevados, mantras ou técnicas para anestesiar feridas profundas sem processá-las de fato. O resultado é um falso alívio, uma paz temporária construída sobre o autoengano. É como pintar uma parede mofada sem tratar a umidade estrutural: em pouco tempo, tudo volta à tona — agora com mais força.
No texto A culpa e o autojulgamento: o que o Ho’oponopono ensina e o que ele não resolve sozinho, já abordamos que a técnica não substitui o trabalho interior sério. O Ho’oponopono é uma ferramenta de limpeza vibracional e realinhamento, mas não um substituto para o mergulho corajoso na sombra pessoal.
Outro erro comum é a crença de que basta repetir as frases para que o karma se dissolva. Isso ignora a própria natureza das leis espirituais, como mostrado em Ho’oponopono e as leis espirituais universais. O karma não é um erro que se apaga com palavras, mas uma lição que se vive, compreende e ressignifica.
Como já tratado em O Ho’oponopono e a alquimia do karma, o verdadeiro processo de transmutação não é instantâneo. Ele requer ação ética, vigilância emocional, autopesquisa profunda e abertura ao desconforto necessário da evolução.
A espiritualidade genuína exige lucidez. E lucidez exige coragem. Coragem de dizer: “não basta repetir, eu preciso transformar”. A prática do Ho’oponopono só é eficaz quando associada a esse compromisso íntimo com a verdade interior. Do contrário, vira uma distração mística, uma cortina de fumaça emocional travestida de paz.
Como afirmado em O verdadeiro e único Ho’oponopono, a sabedoria espiritual é incompatível com a fuga da realidade interior. O processo de cura começa exatamente quando paramos de fugir.
Portanto, se você percebe que está usando o Ho’oponopono para “não pensar no problema”, é hora de inverter a direção: use-o para sustentar o mergulho — não para evitá-lo. Espiritualidade que não confronta, conforta apenas o ego. E o ego confortável jamais se transforma.

Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium e humorista incorrigível da consciência. Sente saudade de seu planeta em Sírius B e espera com ansiedade o “resgate” pelo planeta Chupão. Brinca: “Não quero ficar com os ‘evoluídos’.” Autor de dezenas de obras independentes — cinco sobre informática, uma sobre autopublicação e o restante sobre espiritualidade e consciência, sem religião. Engenheiro Civil, pós-graduado em Educação em Valores Humanos (Sathya Sai Baba) e Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia.
Como costuma dizer: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso.”
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