EVOLUIR CONSCIENCIALMENTE É UMA DEPURAÇÃO DOS GOSTOS

EVOLUIR CONSCIENCIALMENTE É UMA DEPURAÇÃO DOS GOSTOS

Evoluir consciencialmente: a alquimia dos sentidos e a depuração dos gostos

A consciência humana, em sua jornada silenciosa de ascensão, não se limita à acumulação de saberes nem ao aprimoramento técnico das habilidades. Ela é, sobretudo, uma arte iniciática de transformações internas, uma sinfonia de refinamentos, onde cada nota corresponde a uma depuração sensível dos gostos — processo que transcende a estética e alcança os fundamentos do ser. Evoluir, neste contexto, é como o trabalho do ourives que, ao lapidar a pedra bruta, revela não apenas a luz que nela habita, mas a própria essência de quem a molda.

Ao longo das eras, mestres de diversas tradições perceberam que o avanço da consciência se manifesta mais nitidamente nos pequenos gestos, nas escolhas sutis e, sobretudo, na mudança de gostos — aquilo que nos atrai, nos toca, nos move. Gostos, aqui, não são meras preferências culturais ou hábitos subjetivos, mas impressões densificadas da frequência em que a alma-consciência vibra. O que antes nos encantava perde o brilho. Aquilo que ignorávamos, enfim, nos convida. O paladar espiritual se educa.

I. A metáfora alquímica: do chumbo ao ouro interior

Na tradição alquímica, a transmutação do chumbo em ouro não representava apenas um ideal material, mas a conversão do eu instintivo em essência espiritual. Da mesma forma, a depuração dos gostos revela o grau de transmutação interna. O gosto pelo barulho dá lugar à contemplação; o apetite pelo excesso é substituído pela moderação espontânea. Uma canção suave, uma leitura densa, uma pausa silenciosa — tornam-se prazeres que antes pareciam insípidos.

Esse processo não é uma repressão, mas uma seleção consciencial. Não se trata de renegar os sentidos, mas de consagrá-los àquilo que os eleva. Como escreveu Rumi: “O que você busca está buscando você.” Assim, a depuração dos gostos torna-se o fio condutor de um diálogo sagrado entre o buscador e o buscado, onde cada escolha afina a alma para escutar o que antes não se ouvia.

Curso: Karma, uma visão macrocósmica. Curso, Karma, uma visão macrocósmica

II. Neuroplasticidade e a geografia do paladar existencial

A ciência moderna, em especial a neurociência, oferece novas metáforas para esse processo. O conceito de neuroplasticidade revela que o cérebro se adapta aos estímulos que mais se repetem. Assim, quando elegemos novas experiências — mais sutis, profundas ou éticas —, estamos literalmente talhando novas rotas na paisagem cerebral.

O neurocientista António Damásio descreve como nossas preferências emergem de um complexo entrelaçamento entre memória, emoção e identidade. Depurar gostos é, nesse sentido, reescrever a narrativa íntima que nos constitui. Um livro antes intimidante transforma-se em revelação, um gesto despretensioso ganha densidade simbólica. O gosto amadurece com a consciência.

Livro impresso aqui
Livro digital aqui
carma leis, as leis do carma, o karma e suas leis, Carma Ramatís, Karma Ramatís, Livros Ramatís, Ramatis Umbanda

III. A estética como via iniciática

Nas antigas escolas iniciáticas, a beleza era ponte para o sagrado. O sutil encantava mais do que o óbvio; o silêncio dizia mais que o grito. Proporção, ritmo e harmonia não eram apenas valores estéticos, mas caminhos de elevação. Hoje, quando nos permitimos contemplar um haicai (uma forma poética de origem japonesa que se caracteriza por sua brevidade, simplicidade e profundidade contemplativa), um quadro silencioso, uma música que toca sem invadir — estamos nos reintegrando a essa linhagem antiga.

A depuração dos gostos, portanto, não é elitismo nem afetação, mas iniciação. Um gosto refinado não exclui o simples: o dignifica. A sensibilidade estética torna-se veículo para o discernimento consciencial. A alma aprende a saborear o perfume do invisível.

IV. O paradoxo do desapego: libertar-se para amar

A medida dessa depuração é o desapego — não como negação do mundo, mas como libertação das ilusões. Preferir a essência à aparência, a qualidade à quantidade, a presença ao exibicionismo, torna-se natural. É o amor que não se prende, mas se expande. O poeta Fernando Pessoa, por meio de Alberto Caeiro, exprime isso com simplicidade: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.”

A consciência depurada não julga os gostos alheios, mas os compreende. Uma música considerada brega, um prato trivial, uma conversa informal — tudo pode conter beleza, contexto, sentimento. A depuração não afasta, mas integra. Não segrega, mas acolhe o que pode ser transformado.

V. A consciência como crivo ético e vibratório

Ao se expandir, a consciência passa a operar como um filtro sensível. Não por moralismo, mas por ressonância. O que vibra baixo começa a incomodar. O que vibra alto começa a atrair. O gosto torna-se bússola do espírito. Literatura edificante, música que cura, encontros que nutrem, ambientes que elevam — passam a compor o novo campo de interesse do ser.

Esse refinamento não é repentino, mas progressivo, quase imperceptível. Um gosto de cada vez. Um hábito de cada vez. Uma amizade, uma palavra, uma decisão — cada uma, um degrau.

Livro impresso aqui
Livro digital aqui
dharma leis, as leis do dharma, o karma e suas leis, dharma Ramatís, darma Ramatís, Livros Ramatís, Ramatis Umbanda

VI. Conclusão: saborear a existência com a alma

Evoluir consciencialmente é saborear a vida com o espírito desperto. É transformar cada escolha em ato de arte, cada gesto em símbolo, cada experiência em iniciação. Como o vinho que se aprimora ao repousar, o ser que depura seus gostos aprende a saborear as entrelinhas do existir.

Não se trata de buscar a perfeição, mas de alinhar-se com o que é eterno dentro do transitório. É perceber que evoluir é tornar-se sensível ao que é nobre, mesmo quando ainda bruto; é reconhecer a presença do sagrado no ordinário.

E nessa jornada, compreende-se que depurar os gostos não é perder nada — é, finalmente, ganhar o paladar da alma. O gosto pela luz, pela verdade, pelo bem, pela beleza silenciosa que não grita, mas vibra. E que, ao vibrar, desperta em nós o gosto pelo próprio Ser.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.