A GOTA, O ÁTOMO E O AKASH

A GOTA, O ÁTOMO E O AKASH

1. O fundamento oculto
Sou gota que perfaz o Oceano[1],
não líquida, mas consciência em vibração;
sou onda e partícula na tessitura do Ser[2],
holograma do Uno em forma de interrogação.

Sou átomo que perfaz o Corpo do Divino[3],
não o corpo físico — mas o Corpo Pensante,
onde elétrons dançam na geometria secreta
e o vazio vibra mais que a massa constante[4].

Sou akash na insubstância que ilumina[5],
o campo que antecede luz, som e forma;
sou antes do verbo, do símbolo, do rito —
sou silêncio denso que a Verdade transforma.

Sou ponto na espiral que tudo movimenta[6],
sou a Lei que não se impõe, mas conduz;
sou o mental transcendente no ritmo dos planos[7],
sou o Caibalion escrito em fractais de luz.


2. O espelho quântico da Consciência
Se a Física Clássica mediu o mundo externo[8],
a Quântica revelou o vazio dentro daquilo;
onde há observador, há colapso e escolha[9],
e o Universo se curva ao menor dos brilhos.

Não sou energia sem direção,
nem matéria fixada no tempo ou no espaço;
sou intenção em estado vibracional,
sou campo informacional que não faço — sou.

Minha fronteira não está na pele,
mas onde o Eu se funde ao Outro sem cessar;
sou conexão entre tudo o que vive,
não parte, mas totalidade a pulsar.

No campo unificado sou nota viva,
entrei na dança onde só ritmo é real;
sou som que vibra sem instrumento,
sou a consciência além do ritual.


3. Os buscadores e os distraídos
Vejo multidões falando de luz,
sem ao menos encarar a própria sombra;
espiritualistas de vitrine e selfie,
que vendem paz mas vivem à míngua de honra.

Ser espiritual não é estética ou discurso,
é se alinhar à Consciência sem artifícios;
é calar quando o ego quer palco,
e agir quando o silêncio cria edifícios.

Quem busca a Verdade acima do Eu
aceita despir-se até do nome e da crença;
não precisa provar que é desperto,
pois o olhar já emana a essência.

Há os que seguem o modismo da aura,
e há os que a limpam com lágrima e compaixão;
o primeiro quer ser visto no espelho,
o segundo dissolve o espelho na imensidão.


4. A síntese do iniciado
Sou bússola que gira sem norte fixo,
porque o eixo está no centro do Ser;
não ando sobre mapas nem dogmas —
sou fractal do Todo aprendendo a renascer.

Sou o Caibalion em carne e sonho,
polaridade, vibração, correspondência e mentalismo;
entendi que o que está acima vibra no abaixo
e que todo mistério é puro dinamismo.

Sou o alquimista que não transforma chumbo,
mas sim o eu reativo em ser que observa;
minha transmutação não é de cor,
mas de olhar que ilumina, acolhe e conserva.

Sou gota, átomo, akash, e fogo oculto,
não sou alguém — sou a ponte, sou a lei;
sou quem sabe que a Verdade não se impõe:
ela pulsa suave em quem já se entregou ao Rei[10].

DaltonCamposRoque

@consciencial
Consciencial.org


Notas de referência
[1] Imagem iniciática da unidade na multiplicidade, recorrente no Vedanta, sufismo e filosofia perene.
[2] Referência à dualidade quântica: comportamento ondulatório e corpuscular da matéria.
[3] Alusão à ideia do microcosmo refletindo o macrocosmo, da tradição hermética.
[4] Na física moderna, o espaço vazio é dinâmico, cheio de energia potencial.
[5] Conceito sânscrito do éter sutil, que antecede os elementos e representa o substrato da consciência.
[6] Evocação da espiral como símbolo da evolução consciencial e do tempo não-linear.
[7] Princípios do Caibalion: Ritmo, Polaridade, Mentalismo etc.
[8] A física clássica descreve leis determinísticas; a quântica revela a incerteza e a influência da consciência.
[9] O colapso da função de onda indica que o observador influencia o estado observado.
[10] “O Rei” como símbolo do Eu divino, ou o regente interno da consciência desperta.

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