Iemanjá, uma das figuras mais proeminentes da espiritualidade afro-brasileira, é uma divindade que incorpora elementos profundos e multifacetados, ligados tanto ao sagrado feminino quanto à vida humana em diferentes dimensões. No Candomblé e na Umbanda, ela é um dos Orixás mais venerados, e suas raízes estão fincadas na cosmologia e mitologia iorubá, de onde esses cultos derivam.
1. Origem e mitologia
No panteão iorubá, Iemanjá é conhecida como a deusa das águas e mãe de muitos Orixás. Seu nome deriva de “Yèyé omo ejá”, que significa “Mãe cujos filhos são como peixes”, uma metáfora que simboliza sua fertilidade e conexão profunda com a vida. Nas tradições africanas, ela não é apenas a protetora das águas, mas também é vista como uma matriarca, sendo uma mãe arquetípica associada à criação da vida e à nutrição.
A mitologia narra que Iemanjá foi casada com o Orixá Oxalá, o pai criador, e dessa união surgiram outros Orixás. Também há lendas que a associam a diferentes maridos e filhos, refletindo sua natureza plural e rica. Em uma história, ela é retratada como uma mulher bela e majestosa que, em momentos de ira ou tristeza, provoca catástrofes marítimas. Em outras versões, ela se transforma no próprio oceano ao tentar escapar de uma situação de perigo, fundindo-se para sempre com as águas, o que simboliza seu poder transcendente e sua indissociável relação com o mar.
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2. Iemanjá como arquétipo do sagrado feminino
Iemanjá representa um arquétipo forte do sagrado feminino, conectando-se com a fertilidade, a proteção, a maternidade e a sabedoria. Ela é a mãe que cuida, nutre e protege, mas também é a mulher que, quando desrespeitada, revela sua força inabalável. Como guardiã do lar e dos filhos, Iemanjá é muitas vezes invocada para proteger as famílias e ajudar em questões relacionadas à gravidez e ao parto.
No campo das emoções, Iemanjá também rege as águas internas dos seres humanos — as emoções profundas, os sentimentos que fluem como as marés. Por isso, sua presença é frequentemente buscada por aqueles que procuram conforto em tempos de dor emocional, desespero ou necessidade de equilíbrio.
3. As águas e os domínios de Iemanjá
Iemanjá é associada principalmente ao mar, mas sua influência se estende a todos os corpos de água. Em algumas tradições, ela também governa rios e lagos, simbolizando sua presença abrangente e a ligação com o fluxo da vida. O mar, em especial, é um símbolo do inconsciente coletivo e do mistério da criação. O oceano, vasto e profundo, reflete tanto o desconhecido quanto o potencial infinito da vida, e Iemanjá, como sua guardiã, é vista como a senhora desse território entre o conhecido e o oculto.
A relação entre Iemanjá e as águas também evoca o conceito de purificação. O mar tem o poder de limpar, renovar e curar, e essa capacidade é atribuída à deusa. Seus filhos — aqueles que se dedicam a ela — muitas vezes buscam suas bênçãos em rituais de limpeza espiritual, especialmente em ocasiões de Ano Novo, quando oferendas de flores, perfumes e velas são feitas à beira do mar como uma forma de purificar o passado e pedir proteção para o futuro.
4. Relação com outros Orixás
Iemanjá é uma figura central no panteão afro-brasileiro, e suas interações com outros Orixás são complexas. Ela é mãe de vários deles, incluindo Ogum, Oxóssi e Xangô, cada um com suas características e papéis dentro do universo espiritual. Essa relação maternal reflete a ideia de que ela nutre, orienta e, em alguns casos, desafia seus filhos para que possam crescer e evoluir.
Nos mitos, suas interações com Orixás masculinos como Oxalá e Ogum também ilustram a dinâmica entre as energias masculina e feminina no universo iorubá. Iemanjá não é subjugada pelos Orixás masculinos; ao contrário, ela desempenha um papel ativo, muitas vezes confrontando-os ou complementando suas forças com seu poder criador.
5. Iemanjá no Brasil e na diáspora africana
Com a diáspora africana e a chegada dos povos iorubás ao Brasil, Iemanjá foi sincretizada com figuras do catolicismo, principalmente Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora dos Navegantes. Esse sincretismo ajudou a preservar os cultos afro-brasileiros em tempos de repressão religiosa, e ainda hoje é comum ver devotos de Iemanjá se referindo a ela como uma santa católica, especialmente em festas populares e procissões, como o 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá, celebrado em várias regiões do Brasil.
Além disso, a figura de Iemanjá também é venerada em outros países da América Latina e no Caribe, como em Cuba, onde é associada a Yemayá no culto de Santeria. Nesses contextos, sua imagem mantém a ligação com as águas, a fertilidade e o cuidado materno, mas suas lendas e rituais podem apresentar variações locais.
6. Oferendas e rituais
Os rituais dedicados a Iemanjá costumam ser cheios de simbolismo. As oferendas mais comuns incluem flores, perfumes, pentes, espelhos e joias, que representam sua vaidade e beleza, mas também sua capacidade de refletir e ajudar as pessoas a se enxergarem de maneira mais profunda. As oferendas são geralmente colocadas em pequenas embarcações ou diretamente nas ondas do mar, e o ato de lançá-las nas águas simboliza a entrega dos pedidos e agradecimentos aos cuidados da mãe divina.
Na Umbanda, as sessões de incorporação de Iemanjá são momentos especiais, nos quais a energia maternal da Orixá é transmitida através dos médiuns para orientar e confortar os consulentes. Seus filhos, conhecidos por terem uma ligação espiritual mais intensa com a Orixá, geralmente compartilham traços como a proteção à família, empatia e uma profunda conexão com as águas e o mundo emocional.
7. Interpretação contemporânea e significado psicológico
Além de sua veneração religiosa, Iemanjá também é interpretada no contexto psicológico e espiritual contemporâneo como um arquétipo de cura emocional. Jungianos, por exemplo, podem vê-la como uma manifestação do inconsciente coletivo, uma representação da Grande Mãe que abriga tanto a nutrição quanto o poder de destruição. Assim como o mar pode acalmar e nutrir, também pode ser implacável e avassalador. Este dualismo reflete os aspectos mais profundos da psique humana, onde as emoções, se não controladas, podem devastar, mas quando bem canalizadas, podem nutrir e transformar.
Iemanjá é uma figura vasta e multidimensional, cujo alcance transcende as fronteiras religiosas e culturais. Como a senhora das águas, ela personifica a criação, a fertilidade, o poder e a proteção, mas também a purificação e a sabedoria emocional. Ao cultuar Iemanjá, os devotos não estão apenas buscando a proteção do mar, mas também acessando uma dimensão mais profunda da vida, onde a conexão com a natureza, as emoções e a espiritualidade se entrelaçam de forma complexa e transformadora.
Dalton
Dalton é escritor, poeta, cronista, contista, jornalista do astral, médium e humorista incorrigível da consciência. Sente uma saudade imensa de seu planeta em Sírius B e está ansioso para ser “puxado” pelo planeta Chupão. Ele alega com bom humor: “Não quero ficar com os ‘evoluídos’.” Autor de 41 obras independentes, sendo 5 sobre informática e 36 sobre espiritualidade e consciência, mas sem religião. Engenheiro Civil, pós-graduado em Educação em Valores Humanos (inspirado em Sathya Sai Baba) e Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia. E, como ele sempre diz: “Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso.”
Livros impressos – https://livros.consciencial.org
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Cursos, áudios, meditações, práticas – https://cursos.consciencial.org
Seu livro publicado – https://seulivropublicado.com.br
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