parapsicologia e espiritualidade

PARAPSICOLOGIA RELIGIÃO ESPIRITUALIDADE

PARAPSICOLOGIA E RELIGIÃO, ESPIRITUALIDADE, desenvolvimento humano

Apanhados de artigos & sínteses – Professor Fábio Eduardo da Silva


1.A Py E AS TRADIÇÕES ESPIRITUALISTAS E OCULISTAS: AMPLIANDO O ALCANCE DAS EXPERIÊNCIAS HUMANAS

2.EXPANDINDO OS HORIZONTES DA PARAPSICOLOGIA. OS FENÔMENOS PSI NO CONTEXTO

3.PARAPSICOLOGIA X BÍBLIA

4.PARAPSICOLOGIA X YOGA E LITERATURA ORIENTAL

5.CONSEQÜÊNCIAS PARA AS RELAÇÕES ENTRE OS HOMENS & PSI E O DESENVOLVIMENTO MORAL


1. A py e as tradições espiritualistas e oculistas: Ampliando o alcance das experiências humanas.

Carlos S. Alvarado e N. Zingrone – Atas do Primeiro Encontro Ibero-americano de Parapsicologia – Nov. 1996 – p. 23-26

Segundo os autores a parapsicologia moderna demonstra uma tendência experimental (pesquisas de laboratório), aspecto que leva os estudiosos a se afastarem do estudo direto dos fenômenos (estudos de casos espontâneos). Esta tendência conservadora traz importantes conseqüências, como o pouco conhecimento científico sobre a variedade dos fenômenos  que se supõe ser objeto de estudo desta ciência. Outra conseqüência é que havendo pouco estudo de campo, muito pouca informação se tem sobre essas experiências.

Rhea White (1990), propõe uma parapsicologia centrada na experiência. Utilizando um critério de avaliação tanto externo – coleção de casos – como interno – vivência própria da experiência.

Os autores enfatizem que essa carência de estudos de campo é especialmente válida para os contextos espiritualistas e ocultistas, sendo raros os estudos sobre comunicação mediúnica, possessões, RSPK e reencarnação, ou mesmo o debate sobre eles nas convenções da PA.

Esses fenômenos precisam ser melhor estudados para se compreender o que ocorre com tantas pessoas, especialmente no contexto Latino-americano, aonde a influência do espiritismo e de outras religiões sincréticas – a umbanda por exemplo – são tão expressivas.

Afirmam os autores: “Todos esses fenômenos podem ser estudados cientificamente.”

Suas próprias pesquisas confirmam tal afirmação:

Pesquisas sobre Auras

As auras designam  “ Um campo de radiações leves, multicoloridas e luminosas que se diz rodear os corpos vivos como um círculo luminoso ou invólucro.” Constituem-se num fenômeno não reconhecido pela parapsicologia moderna.

O estudo dos autores comparou dois grupos. O primeiro foi constituído por 19 pessoas que diziam ter essa experiência – ver as auras – e o segundo foi composto por 19 pessoas que diziam não tê-la.

Para medir a vividez de imagens mentais e o nível de imaginação e fantasia foram feitos questionários com os dois grupos. O grupo teste obteve índices maiores que o grupo controle, bem como mostrou também ter mais experiências de aparições, sonhos lúcidos e de PES. Os autores afirmam que este estudo mostra a possibilidade de  se poder estudar o fenômeno das auras sob o ponto de vista psicológico.

Aparições em casas encantadas.

Nos fenômenos de casas encantadas, que são muito variados, destacam-se aparições [em alguns casos] que se repetem em lugares específicos.

Alan Gauld (SPR) colecionou 500 casos de encantamento e RSPK. Os autores reanalizaram os casos de encantamento de Gauld e compararam as características dos casos que tinham aparições com os casos que não as manifestavam. Os casos com aparição apresentaram uma média de 6,0 características contra 4,3 dos casos sem aparição. Foi verificado também a freqüência maior de fenômenos de efeitos físicos nos casos com aparição.

EFC

Inspirados pela autobiografia de Silvan Muldoon, os autores estudaram uma característica (das muitas ignoradas pelos pesquisadores modernos) ligada a repercussão ou choque corporal quando da ocasião de retorno ao corpo. O estudo comparou esta variável em retornos graduais e repentinos e observou que os resultados favorecem a experiência de Muldoon. Nos retornos repentinos 45% dos casos teve a sensação de choque, enquanto nos retornos graduais apenas 6% dos casos manifestaram esta sensação, evidenciando uma probabilidade de 0,005.

Conclusão

Segundo os autores, o principal motivo pelo qual esses fenômenos são ignorados pela parapsicologia moderna, é a sua associação com o espiritismo, ocultismo ou a new age, como se esses fenômenos separassem a parapsicologia do seu caráter científico.

Não é necessário seguir explicações espíritas ou ocultistas, para se estudar esses fenômenos: “[…] uma coisa é o fenômeno e outra é a sua explicação.”

Os autores enfatizam os modelos ligados a psicologia, a biologia e a física, para explicar os fenômenos; entretanto também enfatizam que é possível tomar como base a literatura de experiências pessoais para se formular hipóteses.


2. Expandindo os horizontes da Parapsicologia. Os fenômenos Psi no contexto.

Carlos S. Alvarado  – Texto premiado: Prêmio Gastone de Boni 1994 – Revista Mexicana de Psicologia Paranormal – Vol. 1 – Nº. 1 – Nov. 1996

A parapsicologia moderna se caracteriza por ser extremamente especializada. Isto pode ser percebido pelos estudos de Ganzfeld, da Pk com geradores de eventos aleatórios ou na aplicação da meta análise para avaliar grupos experimentais. Este fato constitui-se uma tendência para estudar os fenômenos Psi fora do seu contexto. Concentra-se muita atenção no fenômeno em si, ignorando a necessidade de entendê-lo num contexto, buscando o seu real sentido.

Tyrrell (1946) afirma que os fenômenos são naturais porque pertencem a uma totalidade ordenada, formada por diversos aspectos (psicológicos, biológicos, sociais, culturais, médicos, etc.) os quais determinam muito do que ocorre na vida humana. Somente considerando a ocorrência do fenômeno no contexto em que se apresenta é que poderemos entender a sua plenitude.

Não adianta estudar estatisticamente variáveis psicológicas, físicas ou outras, fora do contexto, somente nele poderemos entender a relação destas variáveis. Como relacionar a “PES com a esquizofrenia ou com EAC se não entendemos nem estudamos a natureza da consciência humana durante esses estados?”

É importante estudar o fenômeno no contexto religioso em que o sujeito o vivência, visto que poderá se chegar ao sentido, as características do fenômeno, através do estudo das crenças, das ansiedades, necessidades e traumas do sujeito.

Dentre os primeiros pesquisadores que se interessaram por essa perspectiva, destaca-se W. H. Myers, que via o entendimento do paranormal unido ao entendimento da consciência humana geral. Myers se propôs estudar os fenômenos através das mais variadas tradições, e não apenas os fenômenos paranormais mas também os normais.  Entendia os fenômenos psíquicos, não como aberrações, frutos separados, mas como contendo afinidades naturais aos fenômenos normais.

Enrico Marabini (1991) afirma: “O significado da nossa disciplina não se encontra exclusivamente na atenção a fenômenos específicos de caráter extraordinário, mas, especialmente no estudo do homem como produtor, ator ou catalisador do evento.”

Gardner Murphy ( 1963, 1966; Moriarty & Murphy, 1967) pesquisadores que estudaram  a relação entre a criatividade e a PES, enfatizam também a necessidade de uma compreensão do contexto geral para que o específico possa ter um sentido. Trata-se de uma visão holística do campo.

Servadio (1933), psicanalista italiano, afirma que os fenômenos espontâneos não são tão espontâneos quanto aparentam, eles ocorres em ambientes psicodinâmicos. Em muitos casos a PES é condicionada ou provocada pelas condições que envolvem os sujeitos.

PES e EAC

Honorton (1977); Marabini (1992); Stanford, (1987), afirmam que os EAC parecem facilitar a PES. Neste sentido, se faz necessário o estudo destes estados para poder compreender melhor essas correlações.

Servadio (1962) reflete essa questão, no que diz respeito a pesquisa de PES em sonhos, afirmando que não se deve fixar a atenção somente na constatação dos elementos sugestivos de PES do sonho, mas que deve-se procurar compreender o sonho em si, na sua totalidade, profundidade, na sua relação com o contexto do indivíduo – vida psíquica –  e em alguns casos nas suas relações conscientes ou inconscientes com outras pessoas.

Stanford (1987 -1993), defende que não há progresso neste campo se não soubermos mais sobre os EAC independente da ocorrência da PES. Primeiro é preciso saber sobre os efeitos dos EAC sobre a consciência humana e depois sobre a PES,  para somente assim buscarmos o sentido desta. Com relação ao Ganzfeld, experimento que cria um EAC pela privação sensorial, Stanford pensa que é preciso estudar as conseqüências psicológicas não de natureza Psi nas experiências, para depois relacioná-las com as provas de PES.

Contexto psicossocial, cultural e religioso.

Segundo Bernardi (1989), Giovetti (1993), Grosso (1985), Stanford (1992) e Thurston (1952) o aspecto religioso é muito importante na manifestação dos fenômenos parapsicológicos. Isto pode ser visto nos fenômenos dos santos católicos e também nos rituais de diferentes cultos e cerimônias de vários povos, em todo o mundo. Já ou autores De Martino (1942-1943), Giesler (1984), Stanford (1992) indicam que tais contextos, influem em termos de crenças, motivações, necessidades e também afetam a forma de manifestação dos fenômenos, tais como alucinações, sensações, efeitos somáticos e ainda o simbolismo espiritual e a freqüência das ocorrências.

Giesler (1982) afirma que poltergeists específicos refletem complexos simbolismos da situação de ocorrência – contexto – associados as crenças e a cultura.

Algumas vezes as crenças, o contexto como um todo, cria pseudo fenômenos parapsíquicos (ex. fen. Mediúnicos), em outros casos altera as características de fenômenos genuínos. Isto induz à questão de separar a influência das crenças particulares das características intrínsecas da “mediunidade” e de outros fenômenos. Porém manifestações Psi puras são ilusões visto que é impossível a sua ocorrência fora de um contexto, seja ele cultural, social ou das crenças e idéias do investigador. Cassoli (1955), Bozzano (1967) e Sudre (1960).

Os contextos religiosos e as suas características tem funções psicológicas e sociais para os indivíduos e as comunidades, independente dos possíveis aspectos parapsíquicos.

Garcia (1993) enfatiza que uma das funções do transe, em algumas comunidades, é o direcionamento – trabalho – de problemas associados com doenças ou com a morte. Sendo assim se faz necessário o estudo desses aspectos para que se possa compreender alguns fenômenos que ocorrem nestes contextos. Por outro lado muitas pessoas não manifestam tais fenômenos fora destes contextos, sugerindo que o contexto dá a razão de ser ao fenômeno.

O modelo seguido pelo autor (Alvarado) sugere a interação entre a função social do transe, a mediunidade e outros EAC, no sentido de estabelecer crenças, confirmar idéias doutrinárias, possibilitar terapia mental, gerar ordem social e econômica, entre outros.

Alvarado (1993) enfatiza a influência de uma médium pesquisada – Eusápia Paladino – sobre o desenvolvimento e direcionamento das pesquisas, bem como nas teorias da comunidade de estudiosos. Alvarado ressalta a importância de se estudar a personalidade, os comportamentos e outros aspectos sociais do médium, em vez de centrar os estudos somente na fenomenologia parapsíquica. Conclui que estes fatores – componentes culturais, sociais, psicológicos, etc., influenciam o desenvolvimento histórico da Parapsicologia.

Ao se estudar-se os EAC e os aspectos sociais que influem nos fenômenos, torna-se possível considerar os fenômenos a partir de suas características internas, conseguindo-se então relacioná-las com os aspectos externos. O autor reporta-se a um estudo que fez de casas assombradas, no qual constatou uma associação importante com as características internas do fenômeno. Divididos os casos pelo critério de terem ou não  aparições, verificou-se que nos casos que apresentavam aparições também apresentavam uma maior freqüência de outros fenômenos. Alvarado & Zingrone (1990).

Piccinini y Rinaldi (1990), estudaram sobre os efeitos internos dos fenômenos ligados a mortes distantes. Eles classificaram as experiências  estudadas em: Internas – sonhos e impressões – as quais se associam normalmente a acontecimentos banais e podem ocorrer antecipadamente em períodos longos de tempo em relação ao fato a que se refere;  e Externas – fenômenos físicos e ruídos, e ainda alucinações – se relacionam com acontecimentos graves e importantes (mortes, crises) e ocorrem em estreita coincidência temporal com o acontecimento.

A importância do contexto interage com o problema do método. É possível como discutimos em relação a Stanford, que os estudos de laboratório sejam sensíveis ao contexto, ou ao menos parte deste. Nunca é possível estudar todos os contextos relevantes, por suposto. Porém em ocasiões é necessário abandonar o laboratório e realizar estudos que levem em conta aspectos sociais e culturais que não podem ou são muito difíceis de verificar-se com o método experimental. O problema, todavia, não é o de defrontar o laboratório contra os casos espontâneos. O estudo de casos pode ser (e “tem” sido) tão míope como os estudos de laboratório. Nossa meta é estudar a psi de forma que não acabemos separando estas ocorrências do resto do mundo. Uma parapsicologia mais completa que a atual necessita esta perspectiva. (Alvarado p.81 – deste artigo)

Alvarado enfatiza a importância de expandir a atenção “no sentido de uma concepção mais ampla do que é necessário estudar para entender o paranormal e o ser humano.” Um fenômeno só pode ser entendido na sua relação com outros fenômenos – outras variáveis. A importância e o triunfo da parapsicologia está justamente na sua integração com outros campos de estudo. Os conhecimentos e os métodos de estudo da psi tem como base o contraste com os fenômenos não parapsicológicos. Por esse prisma se poderá compreender o sentido da psi e a sua função em contextos específicos.

3. PARAPSICOLOGIA X BÍBLIA

A Bíblia e a Parapsicologia

Textos sagrados de muitas religiões trazem relatos de experiências Psi. Na Bíblia Judaica, ou Velho Testamento, muitos profetas, visionários, ou videntes, foram escolhidos por Jeová para dirigir seu povo. Essas histórias demostram a admiração e alguma surpresa humana pelo primeiro contato com o paranormal. O sentido de maravilhoso é penetrado pela intimidação religiosa.

Segundo Inardi (1979), alguns profetas destacados na Bíblia são: Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, entre muitos outros. A profecia (PCG) era tida como livre e sagrada, porque advinha do único, supremo Deus. Tais homens demonstravam ter “outros dotes de autêntica PES” (Clarividência, precognição, claraudiência e telepatia.). Eliseu por exemplo ouvia a distância; Ezequiel tinha visões de acontecimentos a enormes distâncias. Tais fenômenos lhes ocorriam tanto em estado de vigília como em EAC – sono, êxtases, ao ouvirem sons de música ou canto, no momento de despertar, etc.

Outro tema muito freqüente na Bíblia é a cura, como no caso de Elias, que através do banho nas águas do rio Jordão curou a lepra de um doente.

Os Milagres de Jesus

No Novo Testamento, os evangelhos se referem com detalhes a cerca de 3 dezenas de prodígios feitos por Jesus – 3 ressurreições, 8 milagres sobre a natureza e 23 curas.

Jesus também lê os pensamentos daqueles que o rodeiam, conhece eventos a distância, caminha sobre as águas, transforma água em vinho e acalma as tempestades.

Jesus realiza seus milagres com simplicidade, sobriedade e naturalidade. Não usa de rituais ou recursos auxiliares. Os milagres ocorrem mais freqüentemente pela ordem de uma simples palavra, acompanhada de um gesto simbólico sóbrio.

Jesus sempre demonstrou desinteresse pelos fenômenos, nunca fazendo-os em proveito próprio ou para dar um espetáculo. Quando tentado por Satanás a promover ações espetaculares, rechaça energicamente a tentação. (Mt.4, 1-10) Na presença de Herodes, que a muito tempo queria ver seus milagres, não realizou milagre algum, permanecendo em silêncio. (Lc. 23, 8) Porém quando o faz prefere a discrição, como no caso da cura de um leproso, que ao final lhe ordenou: “Não diga nada a ninguém.”

A Natureza dos  milagres e a Fé.

“Tua fé te salvou”, falou Jesus após algumas curas (Mc. 10, 52; Lc. 17, 18). A fé é um fator indispensável para que se efetue o milagre. “Tudo é possível para quem crê!” (Mc. 9, 23) Gardini (1993) sugere que o milagre seja uma “resposta a quem recorre confiante e humildemente a Deus.” Esse mesmo autor afirma que os milagres de Jesus são uma manifestação concreta do Reino de Deus na história humana. “Se Eu, pelo poder divino expulso os demônios, é porque chegou a vós o Reino de Deus.” (Lc. 11, 20)

Os milagres de Jesus são símbolos da sua própria missão; não apenas comprovam a veracidade de sua obra mas dão significado a ela.

O Evangelho segundo João revela que Ele é a luz (a cura do cego de nascimento: 9, 1-40), é a vida (ressurreição de Lázaro: 11, 1-44), o vinho novo dos tempos messiânicos (bodas de Caná: 2, 1-12) o pão vivo (multiplicação dos pães: 6, 1-15)

Os Fenômenos Parapsíquicos no Cristianismo

Ao enviar seus apóstolos para propagar a sua mensagem Jesus disse: “Estes são os sinais que acompanharão os que crêem: em Meu nome expulsarão demônios, falarão em línguas novas, tomarão serpentes nas mãos, e ainda que bebam veneno não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos que ficarão curados.” (Mc. 16, 17-18)

Antes da sua paixão Jesus havia prometido: “E tudo o quanto pedirdes em Meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho.” Nas primeiras comunidades cristãs, os fenômenos dos apóstolos vieram a confirmar as palavras de Jesus.

Esses fenômenos são chamados de carismas, palavra de origem grega que significa “Ação da Graça”, e são outorgadas pela graça de Deus. Os carismas, ou dons como também são chamados, são citados 17 vezes no Novo Testamento, 16 vezes em S. Paulo e 1 vez na primeira carta de São Pedro.

A citação mais intensa a esse respeito está em I Cor. 12, 1-11:

Não quero que ignoreis a respeito dos carismas [dons espirituais] … Se distribuem diferentes classes de dons, porém todos vem do mesmo Espírito. A cada um se outorga a manifestação do Espírito para a utilidade comum. A um é dada por obra do Espírito a palavra da sabedoria; e a outro, palavras de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, do mesmo Espírito, fé; a outro, do mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, a profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, a variedade de línguas, e a outro a capacidade de interpretá-las. Mas um só, e o mesmo Espírito, realiza todas essas coisas, distribuindo-as como lhe apraz, a cada um individualmente.

Paulo lembra que todos os carismas, tendo a sua origem em Deus, não devem ser motivos de orgulho, ou de engrandecimento sobre os outros; e fala também da necessidade da união, da complementaridade dos carismas, como se todos fossem partes do corpo de Cristo. (Rom. 12, 4-6)

O maior carisma segundo Paulo, é o amor. E mesmo tendo-se a dom da profecia, da sabedoria, da fé que remove montanhas, se não tiver-se amor nada se é! Tudo isso de nada serve!

4. PARAPSICOLOGIA X YOGA E LITERATURA ORIENTAL

Na Índia os fenômenos Psi sempre foram estudados e praticados. Observe a citação do Rig-Veda, texto clássico do II milênio AC.:

Asceta de compridos cabelos que, despido ou coberto por farrapos cor de ‘azafrãn’, segue o caminho do vento, é amigo dos deuses, porém passa incompreendido entre os homens. Eles vem só o seu corpo e não sua mente, que habita em outros oceanos, num nível superior do qual pode contemplar tudo, e conhecer as intenções dos homens. Os deuses o inspiram e, penetrando nele, lhe transmitem poderes especiais sobre o universo e os animais selvagens. Sem nenhuma defesa natural, ele pode enfrentar e superar todas as vicissitudes da natureza. Gardini (1994)

Dos 195 aforismos de Patanjali, sobre o Yoga (final do século II – considerados como o primeiro tratado de psicologia) são dedicados 41 aos fenômenos Psi.

Patanjali divide a psique em 5 níveis:

 

Patanjali divide a psique em 5 níveis

 

Classificação dos poderes no Yoga, segundo os aforismos de Patanjali.

 

1.Relacionados com:  (e/ou conhecimento de:)         Aforismo

passado e futuro (retrocognição e precognição)           16

sons e idiomas (xenoglossia)                                       17

vidas anteriores (LVP)                                                  18

hábitos mentais dos outros (telepatia)                          19

momento da morte (EQM)                                            23

coisas escondidas ou distantes (clarividência)            26

espaços cósmicos                                                       27

estrelas e os seus movimentos                                    28-29

constituição do corpo                                                  30

dos espíritos perfeitos                                                 33

da própria mente                                                          35

da sucessão do tempo                                                 53

das coisas semelhantes                                               53


2.Relacionados com o corpo. Se torna:                      Aforismo

invisível                                                                       21

forte                                                                            25

insensível a fome e a sede                                           31

impenetrável                                                                39

leve                                                                             40

luminoso                                                                     41

capaz da levitação                                                       43

desencarnado                                                             44

pequeno, grande e invulnerável                                 46

belo                                                                            47

veloz                                                                           49

onipotente                                                                   0


3.Relacionados com os  sentidos:                             Aforismo

cessação dos poderes normais                                     22

atividade supernormal                                                  37

ouvido transfísico                                                        42

domínio total                                                               45-48

independência                                                            0


4.Efeitos mais importantes:                                    Aforismo

poder de amizade e benevolência                               24

firmeza                                                                        32

intuição                                                                       34

sabedoria discriminativa                                               50-55

reclusão – independência                                              56


5.Perigos mas prejudiciais:                                  Aforismo

apego                                                                         38-51

orgulho                                                                       52


Nenhum fenômeno estudado pela parapsicologia falta na lista de Patanjali.

Noutro aforismo Patanjali trata das 5 causas que criam EAC:

  1. Movimento.
  2. Uso de ervas.
  3. Fórmulas mágicas – mantras (OM – mais importante).
  4. Ascetismo – autodisciplina, austeridade, controle da energia sexual.
  5. Concentração perfeita. (Patanjali desenvolve principalmente esta.)

Pela contemplação em um objeto – concentração – a mente se torna uma com ele e abstrai suas causas últimas – além das aparências – e se enriquece com as forças que recebe daquele objeto. A concentração é um meio de comunicação de energias; estabelece uma relação em profundidade com todas as realidades. Através dela é possível acessar a mente cósmica e a interligação com a sua ciência e poder.

Patanjali sugere que:

  1. Tais poderes permitem conhecer mais profundamente os segredos da psique humana.
  2. São manifestações de uma natureza surpreendente.
  3. Constituem uma forma de ajudar a aliviar o sofrimento dos outros.
  4. É uma prova do processo de aperfeiçoamento individual na prática do ascetismo e da concentração.

Porém, adverte:

  1. Os poderes “Psi” podem ser um obstáculo, um impedimento, para os que buscam a auto-realização perfeita que propõe o Yoga.
  2. Os efeitos atraem fortemente a atenção.
  3. Podem trazer de volta os aspectos materiais da vida e as suas ilusões.
  4. Podem desviar do caminho, trazer o orgulho, a auto-afirmação.
  5. São um desafio.
  6. São um meio e não um fim.
  7. Precisa-se dominá-los e não ser dominado por eles.
  8. “São degraus que se apresentam no caminhos da vida para provar o autêntico valor do caminhante.”

Patanjali considera superiores aqueles poderes que levam à serenidade da mente; uma maior união com os semelhantes através da benevolência, da compaixão e alegria e; a aquisição da sabedoria que permite captar os valores que dão sentido a vida.

  1. Eliade pesquisou e documentou a existência dos fenômenos Parapsíquicos no Hinduísmo e no Budismo, porém colocou-se desfavorável ao exibicionismo de certos yogues que se transformaram em faquires ou magos. “Só uma renúncia e uma luta vitoriosa contra a tentação da magia traz consigo um novo enriquecimento espiritual do asceta.” (Eliade – apud Gardini – 1993 – p. 30)

Haridas Chauduri estudou a relação das drogas com os fenômenos Psi e avaliou que os efeitos podem ser positivos, porém os mais importantes líderes do Yoga – Ramakrishna, Vivekananda, Ramana Maharshi, Aurobindo e Sivanada – proíbem o uso delas em seus ashrans. Segundo Chauduri, as razões pelas quais esses líderes não permitem o uso das drogas, são as seguintes:

  1. É muito fácil e freqüente que as drogas entorpeçam o processo integrador e de amadurecimento da psique em evolução. Podem produzir um envaidecimento do eu, estimular os sentimentos de onipotência e perverter a imagem do mundo mais além de toda a proporção razoável.
  2. As técnicas clássicas do Yoga constituem alternativas muito melhores e mais seguras que as drogas para que deseje chegar as experiências de cume da vida espiritual.
  3. Nenhuma droga é capaz de produzir a mais alta experiência “trasenpírica” do ser, conhecida como nivirkalpa, samãdhi ou nirvana, concentração sem objeto ou sem semente, o nascimento de todos os processos da vida intelectual.
  4. “Ainda as mais elevadas experiências psicodélicas ocorrem no reino de mãyã. Nem o eu nem o si mesmo empírico se transcendem por completo, nem se supera o limite da pluralidade objetiva de imagens, símbolos, sons e cores para penetrar no puro vazio do ser.”

(Chauduri – apud Gardini – 1993 – p. 98)

Gardini (1994) através da análise do pensamento da Índia, conclui:

  1. Os fenômenos Psi existem, são válidos, eficazes e importantes.
  2. Eles podem ser classificados hierarquicamente em inferiores e superiores, sendo que estes se referem ao desenvolvimento espiritual.
  3. Na prática dos fenômenos pode se encontrar enganos e truques.
  4. Eles podem ter duas causas: psicofísicas ou transcendentes.

Comparação dos milagres de Jesus com os poderes do Yoga.

Para o yoga clássico os poderes são a captação das forças sutis da natureza, conseguidas através de meios naturais, do esforço humano nesta e em outras vidas, através de técnicas psicofísicas rígidas que incluem o uso de ervas.

Já segundo os evangelhos, é por uma ação de Deus através de Jesus, que ocorrem os milagres. Deus é livre e autônomo para atuar, porém exige uma colaboração de Jesus. Este usa o jejum e a oração e os indica aos discípulos. O jejum encontra-se dentre as regras básicas do Yoga, porém a oração não se encontra nos aforismos de Patanjali.

O Yoga clássico se propõe estudar diretamente os fenômenos, o que não se encontra nos evangelhos.


5          CONSEQÜÊNCIAS PARA AS RELAÇÕES ENTRE OS HOMENS (RHINE, 1965) / PSI E O DESENVOLVIMENTO MORAL (PIRES, 1985)

É chocante mas verdadeiro que conheçamos hoje o átomo melhor do que o espírito que o conhece.

  1. B. Rhine

Rhine pergunta se existe algo de extrafísico na personalidade humana, e afirma que a resposta experimental é afirmativa! Esta verificação vem a firmar a idéia psicocêntrica do homem, uma espécie de alma psicológica.

Estabelecer relacionamentos humanos mais felizes através da criação de um código de vida universalmente melhor, é para Rhine o objetivo social mais elevado. Porém isso não acontecerá através da fé ou de conjecturas, mas da real compreensão do que é o ser humano. A psicologia tinha inicialmente esse objetivo; porém perdeu-o, cedendo a influência de escolas materialistas de pensamento, que seguem a concepção cerebrocêntrica do homem. A psicologia precisa então, da visão corretiva fornecida pela Parapsicologia.

[…] o estudo da natureza humana deve ser promovido vigorosa e ardentemente por todos os meios possíveis, se tivermos de evitar o caos mundial de que fomos solenemente avisados e chocantemente lembrados. Homens ponderados já estão temendo seja muito tarde, que a nossa ignorância das forças existentes dentro de nós venha causar nossa destruição […] –  B. Rhine

As  religiões  sempre acreditaram que o homem possui uma natureza espiritual. A parapsicologia, evidenciando experimentalmente o conceito psicocêntrico do homem, vem a confirmar a realidade dessa crença.

Rhine afirma: “É possível transladar, sem grande dificuldade, a maior parte dos dogmas principais da religião em problemas experimentais da parapsicologia.”

A questão da sobrevivência do homem após a morte do corpo é um desses dogmas.

Rhine pergunta: “Qualquer parte de uma pessoa de qualquer maneira suscetível de descobrir-se é capaz de sobreviver à morte do corpo por um período qualquer?”

As sociedades de pesquisa psíquica [no alvorecer da parapsicologia] se dedicaram quase que exclusivamente a essa questão. Os estudos se focalizavam principalmente nas  comunicações através de médiuns, tendo como suposta origem os “espíritos desencarnados”. Durante 75 anos dessas pesquisas, alguns dos sábios mais eruditos do mundo, chegaram a concluir favoravelmente a respeito da hipótese da sobrevivência. Porém a mesma prova pode ter sido criada pela capacidade PES do médium associada a um processo dissociativo – transe –  ou a uma capacidade de dramatização, ou ainda  a vontade de consolar os clientes com mensagens simpáticas.

Para que se chegue a prova conclusiva quanto a realidade da sobrevivência, essa prova deve ser suficientemente forte para afastar todas as outras possibilidades.. Porém a pesquisa da PSI já contribuiu muito para essa questão:

Considere-se primeiramente a influência favorável da pesquisa de ESP-PC sobre a hipótese da sobrevivência. Se fosse possível confiar somente na lógica, a prova de ESP seria mais do que suficiente para estabelecer a hipótese da sobrevivência sobre bases lógicas. Conforme o leitor se lembrará, quando se verificou funcionar o ESP livre das limitações do espaço e de tempo interpretou-se tal descoberta como significando que o espírito é capaz de atuar independentemente até certo ponto do sistema espaço-tempo da natureza. Ora, tudo quanto a imortalidade significa importa em liberdade dos efeitos do espaço e do tempo; a morte afigura-se como sendo simplesmente questão de chegar a uma parada no universo do espaço-tempo. Portanto concluir que há pelo menos certa espécie de sobrevivência técnica pareceria seguir-se como derivação lógica da pesquisa de ESP. – B. Rhine

Noutro trecho Rhine continua:

Se os seres humanos não tivessem a aptidão ESP ou PC seria difícil conceber qualquer possibilidade de sobrevivência e certamente a sua descoberta seria impossível. Nas circunstâncias atuais, está demonstrada a atividade não física do espírito. A única espécie de percepção possível em estado desencarnado seria extra-sensorial, e a psicocinética seria o único meio de influir sobre qualquer parte do universo físico.

Rhine considera a questão da sobrevivência de tamanha magnitude que não deve ser deixada de lado pela ciência e, seja quais forem as conclusões futuras , elas afetarão desmensuradamente a perspectiva social e cultural humana.

“A ciência da natureza humana ainda está na adolescência.” Afirma Rhine com ênfase.

Uma outra questão analisada por esse autor e considerada por ele como de maior urgência na atualidade: “É a necessidade de moralidade efetiva para o nosso mundo eticamente confuso.“

E continua:

A crueldade de homem para homem”  tem-se submetido a muitas  restrições culturais, mas apesar de tudo, é a ansiedade número um no mundo. Os homens e as nações ainda investem às cegas uns contra os outros, e nos tempos atuais o poder para o mal multiplica-se quase além da compreensão.

[…]Nossos sentimentos para com os homens depende das nossas idéias, do nosso conhecimento a respeito deles. Quanto mais formos levados a pensar dos nossos semelhantes como sistemas físicos, deterministas – autômatos, máquinas, cérebros – tanto mais impiedosa e egoisticamente nos permitiremos com eles tratar. Por outro lado, quanto mais lhe s apreciar-mos a vida mental como algo único da natureza, algo mais original e criativo do que as  simples  relações de espaço – tempo – massa da matéria, tanto mais neles nos interessaremos como indivíduos, e tanto mais  tenderemos a respeitá-los e a considerar-lhes os pontos de vista e sentimentos.

Para Rhine os sistemas morais dependem da liberdade volitiva verdadeira – livre arbítrio – que permitem ao indivíduo. A firma que metade da toxidez social, na perspectiva cerebrocêntrica em relação ao homem, vem justamente por não lhe permitir essa liberdade.  Quanto maior for a liberdade permitida ao homem, tanto maior será o seu auto-controle, o seu potencial ético. A experimentação PSI mostra que o ser humano é relativamente livre das leis físicas, evidenciando um aumento da sua razão de liberdade.

Por outro lado cada auto-potencialidade descoberta pelo homem, aumenta-lhe a razão de liberdade.

Rhine não preocupava-se tão somente com a ética individual, mas principalmente com a ética coletiva. Ao concluir este livro – do qual se extraíram esses apanhados – “[…]a grande guerra havia terminado, [em 1947] terminara a maior carnificina de toda a história […]”

Rhine entendia que a paz não era em si um objetivo concreto e portanto era necessário fortalecê-lo  com propósitos positivos firmes.

A união cooperadora dos povos em torno à Terra […] deve opor-se à exploração, à concorrência destruidora, ao domínio implacável. Somente dessa maneira poderemos esperar produzir espírito de relações humanas harmoniosas com a qual não seja capaz de concorrer o impulso da conquista no espírito dos homens. – B. Rhine

Rhine considerava a força social de ligação das relações espirituais entre os homens, tão forte e real como qualquer outra força do universo e, que essa força construtiva, unida a força adicional indispensável do autoconhecimento, constituem no o principal instrumento de paz.

Herculano Pires considera essas reflexões filosóficas encontradas no trabalho de Rhine, como o aspecto que mais o valoriza.

Para esse autor a pesquisa Psi deve aprofundar-se à essência, ao seu sentido moral. O trabalho de Rhine veio trazer luz experimental à grande polêmica entre as concepções Cerebrocêntrica e Psicocêntrica do homem. “as  experiências de ESP e PK demonstraram que a mente está livre das leis físicas”. (Rhine citado por Pires)

Para Pires  a comprovação das funções Psi, apoiando o conhecimento da realidade extrafísica do homem, dão suporte para a formulação de uma nova moral – a moral psi – que estruturará o novo mundo. Neste novo mundo a razão superará a si mesma pela intuição, que eleva as categorias mentais a uma fusão, a uma visão global.

Pires conclui:

A razão que supera a si mesma é a que rompe com os limites sensoriais e se eleva para além do tempo e do espaço nas asas de psi.


REFERÊNCIAS

 

BÍBLIA, Port. Bíblia Sagrada. Trad. João Ferreira Almeida. ed. rev. Rio de Janeiro : Sociedade Bíblica do Brasil, 1962.

CARDOSO, L.. H. Texto: Parapsicologia e Religião. Curitiba, 1995.

GARDINI, W. Los poderes paranormales en el yoga clássico y en el cristianismo. Buenos Aires : Kier S.A., 1993.

GARDINI, W. Percepcion extrasensorial en el Yoga clássico y en la literatura oriental. In: Actas Primer Encuentro Psi 1994 : Nuevas dimensiones em parapsicologia. Buenos Aires : I.P.P., 1994. P.9-14.

INARDI, M. A história da parapsicologia. Lisboa : Edições 70, 1979.

PIRES J.H. Parapsicologia hoje e amanhã. São Paulo : EDICEL, 1985.

RHINE J.B. O alcance do espírito. São Paulo : Bestseller, 1965.

 

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