GRUPO DE ROCK YES E ESPIRITUALIDADE - disco Tales From Topographic Oceans

GRUPO DE ROCK YES E ESPIRITUALIDADE – disco Tales From Topographic Oceans

(Matéria publicada no Jornal Metamúsica Número 09 – Ano 2000).

Estamos no ano de 1973. O rock progressivo está em seu auge.
Bandas como Pink Floyd, Yes, Emerson, Lake and Palmer, Moody Blues, King Krinsom, Jethro Tull e outros estão na crista da onda.

É uma época de grandes realizações musicais dentro da corrente progressiva.Muitos clássicos do gênero foram gestados nesse período, tais como: “The Dark Side of The Moon” (Floyd), “Selling England By The Pound” (Genesis), “Tales From Topografic Oceans” (Yes) e tantos outros.

Leia nossa página de sugestões de músicas.

É sobre esse último que comentarei. Inclusive, porque essa obra maravilhosa do Yes ainda não é bem compreendida até os dias de hoje. Conheço admiradores do grupo que simplesmente abominam esse disco. No entanto, há muitos que consideram esse trabalho no mesmo nível de “Close To The Edge”.

Outro dia, conversando sobre rock progressivo e temas espirituais com o Marcos, editor do “Metamúsica”, contei-lhe a história de como Jon Anderson escreveu as letras desses “Contos Para Oceanos Topográficos” e quais foram os motivos que levaram-no a escrever esse épico sonoro que remete o ouvinte atento à uma verdadeira “viagem espiritual progressiva” pelos caminhos da música e dos sonhos luminosos.

Desse nosso papo, surgiu a idéia de escrever um texto elucidativo sobre a produção desse disco, detalhes sobre a banda na época, seus vôos sonoros e as viagens pelo terreno das aspirações espirituais.

Ao longo dos anos, tenho explicado a vários alunos um pouco da alma de “Tales…” e suas repercussões dentro da própria banda. Por isso, de maneira a facilitar minha exposição sobre o tema, alinhavei o assunto em perguntas e respostas, de maneira bem simples e objetiva.

Antes disso, vamos a uma pequena introdução:

– Em 1973, o Yes estava em turnê internacional. Na esteira do sucesso de “Yes Album” (1971), “Fragile” (de onde surgiu o hit “Roundabount”; 1971) e “Close To The Edge” (sua obra mais fantástica; 1972) o grupo viajou bastante e fez muitos shows (dessa turnê surgiu o disco triplo ao vivo “Yessongs”).

Durante essa turnê, enquanto estavam no Japão para alguns shows, Jon Anderson leu o livro “Autobiografia de Um Iogue”, do mestre hindu Paramahansa Yogananda, e simplesmente viajou nos belos ensinamentos ali contidos. Inspirou-se e começou a escrever alguns temas baseados naquilo que lia. O livro contava as experiências espirituais de Yogananda em contato com diversos mestres da Índia. Falava daquela viagem espiritual na busca da paz, de Deus, do encontro consigo mesmo e da expansão da consciência na luz.

Anderson nunca escondeu suas tendências espiritualistas, tendo, inclusive, colocado no disco “Time And World” (1970) uma música que narrava uma viagem astral (experiência fora do corpo, projeção da consciência, onde a pessoa percebe-se fora do próprio corpo, manifestando-se nas dimensões espirituais). Essa música chama-se “Astral Traveller” (“Viajante Astral”). Ela aparece também na coletânea “Yesterday” (1975).

Em seus discos solos, essa tendência fica mais transparente ainda, principalmente em “Olias of Sunhilow” (1976) e “Song of Seven” (1980).

Posteriormente, no disco “Anderson, Bruford, Wakeman e Howe” (1989), em que houve uma discussão com Chris Squire (baixista e co-líder da banda, pedra fundamental da existência e manutenção dessa entidade musical chamada Yes) pelo uso do nome do conjunto, Anderson deu altos vôos espirituais nas letras das músicas, mas, dessa feita, de maneira bem menos ostensiva (como exemplo disso, a música “Big Dream”).

Já na década de 1990, ocorreram várias discussões entre ele, que cada vez mais queria falar de temas etéreos nas letras, e Squire e Trevor Rabin (guitarrista, compositor e produtor do Yes entre 1983 e 1995), que queriam mais peso e pé no chão nos movimentos musicais da banda.

Quando esteve no Brasil em sua turnê solo em 1993, mais especificamente em São Paulo, ele deu uma entrevista para uma revista falando de suas inclinações espirituais.

Pois foi influenciado por sua busca espiritual, que Anderson escreveu “Tales…”

Quando o disco saiu, vendeu muito nos primeiros dias e alcançou um bom posto nas paradas inglesas. Contudo, boa parte dos fãs decepcionaram-se. Na verdade, não entenderam o conceito do álbum e não sacaram o pano de fundo das letras. Além disso, o disco (duplo) continha apenas quatro músicas imensas, o que dificultava sua execução nas rádios. Acredito que se fosse um disco simples e com músicas mais curtas, teria sido um grande sucesso de público.

Para o ouvinte mais atento, independentemente do teor das letras, “Tales…” contém algumas passagens instrumentais memoráveis, principalmente nas seções a cargo de Rick Wakeman, principal responsável pelo clima etéreo de vários trechos da obra. Muito embora ele não concordasse muito com uma obra desse gênero, ele trabalhou corretamente e fez sua parte a altura do seu talento.

Aliás, diga-se de passagem, em matéria de talento, o Yes sempre foi privilegiado. Seu principal guitarrista, Steve Howe, sempre foi considerado um dos maiores guitarristas do rock. Rick Wakeman, virtuose dos teclados, simplesmente um dos maiores tecladistas do planeta. Jon Anderson e sua voz maravilhosa, capaz de fazer inveja aos anjos da música. E Chris Squire, um dos baixistas mais dignos da história do rock (seu único disco solo, “Fish Our The Waters” (1975) é um clássico). A conjunção desses virtuosos elementos em uma banda (lembrando ainda dos dois bateristas do grupo, o irriquieto e criativo Bill Bruford – 1968 a 1973, e o fiel e correto Alan White – de 1973 em diante), gerou sonoridades que até hoje encantam e emocionam as gerações mais novas.

Bom, antes que o nosso amigo editor reclame do tamanho desse texto, vamos as perguntas e respostas sobre “Tales From Topographic Oceans”.

É verdade que foi por causa de “Tales from Topographic Ocean” que Rick Wakeman saiu do Yes pela primeira vez?
Em parte, sim. Wakeman não concordou com a temática do disco. Quando Jon Anderson (bastante empolgado e absolutamente encantado com as idéias hindus inseridas nas composições) e Steve Howe (bem menos empolgado que Anderson, mas influenciado fortemente por ele) apresentaram o esquema das letras e das melodias aos outros componentes do grupo e aos empresários da gravadora, Wakeman simplesmente saiu da sala extremamente aborrecido. Também Squire e White ficaram impactados com a proposta do disco. Estando a cargo dos dois a parte rítmica (baixo e bateria), ou seja, a cozinha sonora, base e força que daria a sustentabilidade e o contraponto ao tapete sonoro dos teclados e aos rifs de guitarra, eles não compreendiam bem o motivo daquelas letras falando de temas etéreos. Mas, Anderson persuadiu os dois a embarcarem em sua aventura espiritual-sonora.

Wakeman participou desse disco a contragosto. Segundo suas declarações à época, havia muita “encheção de linguiça” nas músicas. Ou seja, muitas seções foram ampliadas exageradamente, o que tornou o disco repetitivo e maçante, mesmo para os fãs do grupo. Na verdade, sua crítica tinha procedência. Se o grupo houvesse trabalhado as músicas de maneira mais simples e com duração menor nas mesmas, o disco teria sido um estrondoso sucesso.

Além desses fatores, o primeiro disco solo de Wakeman, o maravilhoso “The Six Wives of Henry Vlll” (“As Seis Esposas de Henry Vlll”; 1973), tornara-se um sucesso de crítica. Isso motivou-o a tentar uma obra mais ambiciosa ainda: “Journey To The Centre of The Earth” (“Viagem Ao Centro da Terra”;1974), seu maior sucesso até hoje. Como ele estava descontente com o rumo que a música do Yes estava tomando e seus trabalhos solos estavam tendo boa aceitação, ele planejou sua saída da banda. Mas, esse descontentamento não empanou o brilho nas seções de teclados a seu cargo no disco. Acima de tudo, muito embora Steve Howe dissesse à época que ele não era sério, seu lado de músico profissional prevaleceu e seu trabalho nesse disco é fantástico.

O comentário ferino de Howe tinha um motivo: por essa época, Wakeman levava uma vida desbragada demais. Bebia muito e era extravagante. Tanto que dois anos depois, em plena turne solo, sofreu sérios problemas cardíacos. E teve que mudar vários hábitos para sobreviver. Há outro fato que convém considerar: com exceção de Wakeman, o resto do grupo era vegetariano. Inclusive, certa revista de rock estampou em suas páginas a foto de Wakeman comendo um hambúrger. Tudo isso foi gerando um grande mal-estar que acabou levando-o a desligar-se da banda logo no início de 1974, pouco depois do disco ter sido lançado.

Por que o disco só tem quatro músicas apenas? Sendo um álbum duplo eles não poderiam ter feito algo mesclado, unindo o conceito principal do disco com temas mais simples?
Na concepção de Jon Anderson não dava para fazer dessa maneira. Ele queria subdividir o tema em quatro seções básicas, de modo que o ouvinte mais atento pudesse perceber uma mensagem espiritual inserida nas palavras.

Em seu livro “Yes, But What Does It Means?”, Thomas J. Mosbo comenta isso da seguinte forma: “Não surpreende que “Tales From Topographic Ocean, talvez a única sinfonia de rock verdadeira, tenha permanecido mal entendida, mal apreciada, freqüentemente caluniada e em geral não escutada, exceto pelos fanáticos fãs do Yes, desde sua criação em 1973.

Porém, as sinfonias não estão isentas de que exista um tema determinado que lhes haja inspirado um conceito básico. Isso é o que Anderson encontrou nas escrituras hindus, ainda que seu desenvolvimento não implica na relação de uma história com personagens, uma trama e um desfecho convencional. Também não se pode dizer que suas letras não contenham uma mensagem ao ouvinte. Porém, não está elaborado de forma operística, não narra acontecimentos e nem sagas, e isso se deve a que o conceito, basicamente religioso, que a inspirou e condicionou sua música é estático. Mais do que eventos ou acontecimentos dinâmicos, evoca imagens e climas criados para produzir impressões e estados de ânimo.

Além de qualquer significado real nas letras, a combinação de sons nas palavras contribuem com o efeito auditivo da música, mesmo na condição de que se alguém não entende certa linguagem, como pode acontecer ao escutar a música “The Ancient” (“Os Antigos”), os sons cantados poderão levá-lo a uma percepção da intencionalidade determinada ali inserida.”

Você pode explicar em detalhes as quatro músicas?
A primeira parte (antigo lado 1 do disco de vinil duplo) é “The Revealing Science of God – Dance of the Dawn” (“A Ciência Reveladora de Deus – Dança da Aurora”). Essa parte é descrita por Jon Anderson assim:

Primeiro Movimento: SHRUTIS (do sânscrito: “Textos Sagrados”; “Revelações Sagradas”).”

“A Ciência reveladora de Deus pode ser vista como uma flor permanentemente aberta, da qual emergem as verdades simples, registrando as complexidades e a magia do passado, e fazendo-nos ver que não deveríamos esquecer nunca a canção que nos foi dada escutar. O conhecimento de Deus é uma indagação objetiva e constante.”

Essa primeira música tem tudo de bom do Yes clássico: uma letra inspirada (“Amanhecer da luz”, “Amanhecer do pensamento”, “Amanhecer de nosso poder” e “Amanhecer do amor”), bons momentos de teclado e guitarra e a voz de Anderson em momento muito inspirado. Para muitos, essa é a melhor música do disco. Em minha opinião, Steve Howe e Rick Wakeman estão fantásticos nessa seção. Novamente, volto a pensar: se essa música fosse mais curta teria sido um grande sucesso da banda.

A segunda parte (lado 2 do disco de vinil duplo) é “The Remembering – High the Memory” (“Os Que Recordam a Memória Elevada”).

Descrição de Jon Anderson:

Segundo Movimento: SURITIS (do sânscrito “Smritis”: “Memórias de epopéias inspiradas”).

“Todos os nossos pensamentos, impressões, conhecimentos e temores têm se desenvolvido no transcurso de milhões de anos. Podemos, através de nós mesmos, referirmo-nos somente sobre nosso próprio passado, vida e história. Aqui é o teclado de Rick que projeta vívidos fluxos e refluxos de olho de nossas mentes: o oceano topográfico.

Por sorte, notamos que certos aspectos ocorridos ao longo do tempo não são tão significativos como a natureza do que está impresso em nossa mente, e o modo como isso está registrado e é utilizado.”

Essa segunda música fala da possibilidade do olho da mente viajar nas águas do tempo através do oceano da eternidade (um oceano topográfico espiritual) e vislumbrar outras realidades somente perceptíveis pelas vias da imaginação, da intuição e da viagem espiritual. Nesse ponto, Anderson estava bastante adiantado para a época. A chamada regressão de memória (tecnicamente o nome parapsicológico é “retrocognição”), que hoje é estudada por muitos pesquisadores como ferramenta terapêutica para o desbloqueio de vários traumas psíquicos, é abordada de maneira bem sutil ao longo da música. Ele fala de “viajar longe nos sonhos” e explorar as experiências passadas. Fala de “viajar pelo tempo e pelas histórias e mitos” que formaram a alma da humanidade. Ou seja, é uma busca espiritual nas luzes do passado, um doce canto inspirado na viagem da alma pelo rio espiritual do tempo, uma doce viagem da caravela humana pelo oceano da sabedoria antiga (aqui fica bem evidente a influência dos Vedas, as escrituras mais sagradas dos hindus, sobre Anderson).

Apenas mais um detalhe adicional: a percepção supranormal de eventos externos passados é chamada tecnicamente de “psicometria” (do grego: “psiquê”: “alma”; e “metria”, oriundo de “metron”: “medida”). Ou seja, a percepção da alma das coisas, o mergulho nos registros do tempo (conhecidos esotericamente com o nome de “registros akáshicos”).

Como observa-se, não é uma temática fácil de ser assimilada pelos leigos, quanto mais musicada e direcionada a um público genérico e acostumado a outros piques progressivos. Isso equivale a tentar musicar os épicos da Bíblia para os orientais. Esse é mais um dado para demonstrar porque esse disco foi tão mal compreendido.

Muitos fãs do grupo não gostam dessa segunda música, talvez pela complexidade do tema. Entretanto, a parte instrumental está excelente. Rick Wakeman brilhou muito nesse segundo movimento. Seus teclados dão um clima etéreo ao tema. Em minha opinião, as seções a seu cargo são a verdadeira alma dos oceanos topográficos. Por várias vezes, extraí apenas suas partes de teclado dessa música e coloquei-as isoladamente para grupos de alunos em práticas de relaxamente e expansão da consciência. O resultado foi ótimo e eles perguntavam que som era aquele que fazia “viajar espiritualmente”. Muitos achavam que era um som new age. Porém, quando eu dizia que eram trechos de teclado de Wakeman selecionados de “Oceanos Topográficos”, eles ficavam surpresos.

A terceira parte (lado 3 do disco de vinil duplo) é “The Ancient – Giants Under The Sun” (“Os Antigos – Gigantes Sob o Sol”).

Descrição de Jon Anderson: Terceiro Movimento: PURANAS (do sânscrito: “Lendas ou narrações de tempos antigos”).

“A antiguidade indaga ainda mais profundamente no passado, mais além do ponto de recordação. Aqui a guitarra de Steve é o pivô para a aguda reflexão sobre as belezas e os tesouros das civilizações perdidas: Índia, China, América Central e Atlântida.

Estes e outros povos deixaram um imenso tesouro de conhecimentos.”

Essa terceira música é talvez a parte mais complicada da obra. Anderson quis descrever sonoramente a união que os povos antigos tinham com a Mãe Terra. Para isso, usou de muita percussão com o intuito de criar um clima animista bem forte na primeira parte. Tecnicamente, o trabalho de Howe nas guitarras foi excelente, mas o som da percussão é tão forte (aqui brilhou bastante o talento de Alan White na bateria) que empanou seu brilho. Além disso, dá para perceber nitidamente aquela encheção de linguiça a que Wakeman referia-se. Em alguns pontos, a música torna-se irritante, mais parecendo que a banda estava perdida a essa altura, sem saber direito como desenvolver bem a linda idéia de Anderson sobre a sabedoria dos povos antigos.

Outro detalhe: acho que muitos não gostaram dessa música devido ao excesso da percussão. Quem gosta de rock progressivo está mais acostumado ao virtuosismo dos teclados e guitarras no comando do som. Eis aí mais um detalhe para explicar a aversão do fãs a esse disco.

Porém, chamo a atenção para dois pontos nessa terceira música:

Passado o verdadeiro massacre percussivo da parte inicial (infelizmente extenso demais), a última parte é belíssima. Howe brilha muito no violão e a voz de Anderson evoca aquele sentimento cristalino da ascensão à luz.

Além do tema falar da sabedoria e ligação dos antigos com a Terra, também fala de sua devoção ao Sol. Se o ouvinte observar o disco inteiro com cuidado e paciência, notará que ele é a grande referência de toda a obra. Isso deixa mais clara ainda a influência da espiritualidade hindu sobre Anderson. Para os hindus, um de seus mantras mais importantes é o “Gayatri”, em homenagem ao Sol (em sânscrito: “Surya”), expressão da vida. E Brahman (do sânscrito: “O Todo”; “O Absoluto”; “Deus”) é o Sol de todos!

A quarta parte (lado 4 do disco de vinil duplo) é “Nous Sommes Du Soleil” (do francês: “Nós Somos do Sol”).

Descrição de Jon Anderson: Quarto Movimento: TANTRAS (do sânscrito: “Rituais”; “Regras”; Também são chamados de Tantras aqueles tratados esotéricos que tratam do lado invisível do homem e da natureza, além dos meios pelos quais pode-se fazer descobertas espirituais).

“O Ritual. Os sete pontos da sabedoria para aprender e conhecer o ritual da existência. A vida é uma luta entre as forças perniciosas e o amor puro. Alan e Chris apresentam e transmitem a luta da qual sai vencedora a causa positiva. Nous sommes du soleil. Nós somos do sol. Nós todos podemos ver.”

Nessa quarta música, depois de viajar pelas águas do tempo, o viajante espiritual emerge dos oceanos topográficos cheio de vida e luz. Sua alma está vitalizada pela luz da paz. O sol do amor despontou em seus horizontes internos. Ele está resplandecente de sabedoria. Houve uma expansão de sua consciência para outras realidades. Ele aprendeu com o passado e uniu-se a Deus (aqui representado pelo Sol) e está pleno no presente, livre das trevas da ignorância. Um portal de luz em seu coração trouxe-lhe a graça e a alegria para trilhar o caminho de novas auroras cheias de esperança. Isso está claro no seguinte trecho: “… Como o amor é verdadeiro, nos ajudará a cruzar a noite… Se diz que os sonhos fazem florescer a coragem.”

A viagem espiritual de que Anderson fala é a viagem sutil da própria humanidade. É a sua luta por novas luzes, é a sua saga de vida entre sonhos e dificuldades, é a sua viagem rumo a Deus, o Sol de todos. “Nós somos do sol” é a expressão espiritual de que a alma humana é filha da luz e tem potencial para vencer as trevas de seus medos e ilusões.

Nessa última música, a parte instrumental e vocal está maravilhosa. Anderson está cheio da luz que dá vida ao tema. Chris Squire finalmente aparece mais no disco e dá um show no baixo. O trabalho de Howe e White está na medida certa. Apenas Wakeman ficou meio apagado nessa seção, mas sem comprometer o resultado final.

Para muitos, essa música rivaliza com a primeira como a melhor do disco. Novamentre penso: Ah, se fosse mais curta…

Detalhe adicional sobre essa música: ela aparece no disco ao vivo “Yeshows” (1981 – coletânea de músicas ao vivo). Mas, quem toca os teclados não é Rick Wakeman, é Patrick Moraz. Na época dessa gravação ao vivo, 1976, era o tecladista suiço quem pilotava os teclados da banda. Inclusive, alguns gostam mais dessa versão ao vivo.

O desenho da capa do disco é do Roger Dean?
Sim. É uma das capas mais bonitas que ele fez para a banda. Quem vê a ilustração reduzida na capa do cd não tem idéia de como ela era bonita na capa grande do disco de vinil duplo, uma capa dupla, que só dá a noção completa do belo desenho quando aberta completamente.

Na sua opinião esse disco foi injustiçado?
Sim, sem dúvida alguma. Hoje, 26 anos depois, dá para fazer uma releitura salutar em cima dessa obra. Há muitos jovens que gostam do Yes e apreciam esse disco. Quem tem mais ojeriza a ele é o pessoal antigo, muitos deles entalados na década de 1970 e cheios de ranços estúpidos. Quem sabe agora esse pessoal olhe com mais atenção essa obra maravilhosa?

Em sua opinião quais são os melhores discos do Yes?
“Close To The Edge” (1972), “Tales From Topographic Oceans” (1973), “Relayer” (1974), “Fragile” (1971), “Yes Album” (1971) e “Going For The One” (1977). Além disso, gosto muito de “Keys To Ascension” (1996; os segundos discos, onde estão as músicas de estúdio) e de “Anderson, Bruford, Wakeman e Howe” (1989; esse disco não tem o nome do Yes).

7. Sintetize o que representa “Tales From Topographic Oceans” para você.

É simples. Posso sintetizar o disco com o título da última música:

“Nous Sommes Du Soleil” – “Nós Somos da Luz”.

É uma viagem espiritual sintetizada assim:

Surge a luz da aurora em nosso coração, a luz de Deus.
Relembramos nossa essência espiritual no oceano do tempo, somos eternos.
Aprendemos com os sábios antigos a arte espiritual da união com a Terra e a reverência ao Sol, a arte da expansão da consciência.
Voltamos ao presente cheios de esperança e amor para lutarmos pelos nossos sonhos e seguirmos em frente, pois “NÓS SOMOS DA LUZ!”
A todos os leitores de Metamúsica, PAZ E LUZ!

– Wagner D. Borges –
(Pesquisador, conferencista, autor da série de livros “Viagem Espiritual” (sobre experiências fora do corpo e temas espirituais), instrutor de cursos de Projeciologia, Bioenergia, Taoísmo, Hinduísmo e temas espirituais, 37 anos, botafoguense e amante de rock progressivo e new age.)

* Bibliografia:
– “Seventh Heaven Vol. 3” (revista argentina; há uma matéria especial sobre “Tales From topographic Oceans” nas págs. 1-20). Essa revista fundiu-se com a revista “Mellotron”, uma das melhores publicações de rock progressivo do mundo.
– Livro: “Yes, But What Does It Means”; Thomas J. Mosbo.
– Livro: “Yes, Uma Rara Música de Quinteto”; Décio Estigarribia; Editora Muiraquitã; Niterói, Rio de Janeiro.

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